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E-commerce no Brasil pode vencer desafios para crescer mais

Por: Paulo Cesar Costa

CEO da PH3A

Bacharel em Matemática e Ciência da Computação, Paulo Cesar Costa é o fundador e CEO da PH3A. Desde 1995 no mercado de Database e CRM, cuidou das prospecções das principais empresas de cartões de crédito do Brasil. À frente também da companhia GoPoints, empresa especializada em programas de incentivo e fidelização. Em 2014 o executivo retorna ao mercado, após 6,5 anos em ‘non compete’ pela venda, em 2007, de sua então Informarketing (Empresa especializada em Dados, DBM e CRM) para a multinacional Experian (Mesmo grupo que posteriormente também adquiriu a Serasa), durante ao qual dedicou-se ao desenvolvimento de soluções para as áreas de Crédito, Fraude, Cobrança, Dados, Digital e DBM/CRM.

O e-commerce no Brasil cresce ano a ano, esse é um cenário inegável. Mas, ainda assim, há muito espaço para crescer nos próximos anos. Assim, será preciso entender e combater algumas dificuldades brasileiras para destravar um crescimento mais acelerado.

Veja por que o e-commerce no Brasil ainda tem muito espaço para crescer e quais desafios precisam ser superados para acelerar esse avanço.

No Brasil, somente 9% das transações de vendas acontecem pelo comércio eletrônico, segundo os dados a FTI Consulting. Esse é um número ainda muito baixo diante do cenário em outros países, como o Chile (11%) e o México (14%). Ou seja, o e-commerce no Brasil ainda tem muito espaço para conquistar.

Entre outros fatores, o contexto do e-commerce no Brasil ainda enfrenta dificuldades, especialmente no que diz respeito à própria realidade brasileira quanto a dois fatores fundamentais: o próprio poder de compra das famílias, que se reduz pela inadimplência, e a ocorrência de fraudes ainda em níveis altos.

Crescimento contínuo do e-commerce no Brasil

As transações do comércio eletrônico no Brasil crescem de maneira contínua. Portanto, esse é um cenário bom. Segundo os dados da Abcomm – Associação Brasileira de Comércio Eletrônico -, o faturamento do e-commerce cresceu 227,1% no período desde a pandemia, passando de R$ 89,96 bilhões em 2019 para R$ 204,27 bilhões em 2024.

Em relação ao ano anterior (2023 – faturamento de R$ 185,7 bilhões), o ano de 2024 registrou crescimento de 10%, um avanço realmente muito positivo.

Todos os indicadores apontam para um crescimento contínuo, um processo que foi acelerado pela pandemia iniciada em 2020. Tiveram aumento significativo em relação ao ano de 2023 o valor do ticket médio (R$ 492,4, +4,76%), o número de pedidos (414,9 milhões, +5%) e o número de compradores (91,3 milhões, +4%).

Família endividadas, desafio para o e-commerce no Brasil

O Brasil ainda é um país com elevado grau de endividamento das famílias. Assim, o crescimento mais vigoroso tem seus grandes desafios. O dado mais recente vem da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

O levantamento mostra que, ao fim de 2024, 76,7% das famílias brasileiras apresentavam alguma dívida em seu nome, seja dívida adimplente ou inadimplente. Portanto, é um número elevadíssimo, embora represente uma queda em relação a todos os meses anteriores do ano.

Segundo o relatório, oito em cada dez brasileiros possui uma dívida em seu nome. Além disso, ganha relevo o fato de o Brasil possuir uma renda per capita baixa, e os juros cobrados ao consumidor serem elevados.

O comprometimento médio da renda familiar com dívidas é de 29,8%. O prazo médio para quitação dos débitos aumentou para 7,4 meses, refletindo um endividamento mais prolongado por parte das famílias.

Para reverter esse cenário, será necessária uma série de medidas permanentes para efeitos em médio e longo prazo. Entre elas, podemos destacar a melhora gradual da economia brasileira, com crescimento e geração de empregos. Além disso, cada vez mais as pessoas passam a ter a responsabilidade de pagar suas dívidas, ou evitar fazê-las, se não tiverem a expectativa de honrá-las. Portanto, é uma mudança de ordem cultural.

Além disso, com os Big Datas disponíveis, os e-commerce têm mais condições de conhecer melhor os seus clientes e fazer ofertas mais precisas, rentabilizando as suas operações.

No contexto do ecossistema do e-commerce, abrem-se também enormes oportunidades no mercado de proteção e recuperação de crédito. Na área de proteção, os e-commerces devem priorizar as vendas apenas para as pessoas físicas e jurídicas com condições de pagar. Para isso, existem os já tradicionais scores de crédito, cada vez mais poderosos com o Big Data.

Do lado da recuperação, sistemas (software) de cobrança com dados automatizam, otimizam e personalizam as cobranças, permitindo localizar o devedor e identificar quem pode pagar quando, quanto e em que canal preferencial de negociação.

Todos esses são fatores significativos que regem o crescimento do e-commerce no Brasil, um país de alta relevância no cenário econômico mundial, com mais de 210 milhões de habitantes e um PIB de mais de R$ 11 trilhões (último dado completo divulgado: R$ 10,9 trilhões em 2023, segundo IBGE).

Fraudes no e-commerce, uma guerra permanente

As transações online trazem muitas facilidades para o comércio e estimulam o crescimento. Porém, os fraudadores digitais sempre vão trabalhar para conseguir tirar vantagens com fraudes das mais diversas. Portanto, esse panorama também ajuda a conter a migração do consumidor brasileiro para o e-commerce.

Entre agosto de 2023 e julho de 2024, foram registradas 3,9 milhões de tentativas de ataque na América Latina, o que corresponde a 7,46 bloqueios por minuto. Dessa forma, podemos ver um crescimento de 70% em relação aos 2,3 milhões de ataques constatados no período anterior (2022-2023). O país mais afetado da América Latina é o Brasil, com 1,8 milhão de bloqueios. Então, definitivamente, esse é um cenário que ainda preocupa os consumidores locais.

Os dados são do relatório “Panorama de Ameaças para a América Latina 2024”, da Kaspersky, uma das maiores referências no setor de proteção de dados.

Para reverter esse cenário, também será necessária mais uma série de medidas. Dentre elas, estão o aumento da consciência dos usuários de internet, e-commerce e serviços bancários, para evitar as fraudes mais comuns, como phishing, malware, engenharia social e golpes em redes sociais e em aplicativos de mensagens.

Para as empresas de e-commerce, a questão da segurança de dados é fundamental. As corporações precisam ter a certeza de que a pessoa que está do outro lado fornecendo dados é realmente o cliente, e não um criminoso. Assim, a tecnologia de Big Data permite o cruzamento automático de dados para assegurar a segurança nas operações.

As empresas que dispensarem as ferramentas de proteção de dados estarão permanentemente sujeitas à ocorrência de fraudes, com prejuízos de tamanho incalculável.

Portanto, o Brasil continua tendo um comércio eletrônico crescente e vigoroso, mas com muitos desafios pela frente. Então, embora o setor esteja em expansão, ainda há muito a crescer.

Os fatores mais determinantes que seguram esse processo de crescimento mais rápido estão ligados à economia do país e ao perfil socioeconômico das famílias. Ou seja, a questão do endividamento é uma trava macro que exigem atenção. Além disso, as ocorrências de fraudes, comuns no mundo todo, inibem o desejo de comprar de forma online.

Assim, podemos concluir que o e-commerce no Brasil tem muito potencial para avançar. Porém, será preciso desatar os nós do nosso cenário econômico interno para que as transações eletrônicas se multipliquem de forma mais acelerada e vigorosa.