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5 Ases no jogo: você não sabe porque perdeu?

Por: Mauro Tschiedel

sócio da Usinainfo (www.usinainfo.com.br), e-commerce focado em Ferramentas e Peças para Eletrônica. Engenheiro Agrônomo por Formação, atuou sempre com foco em tecnologia, gestão e sistemas. Já foi sócio de empresas de Agricultura de Precisão, Desenvolvimento Web.

Um dia você vai acordar inspirado e pensar: eu tenho que faturar mais. O seu ticket médio de consumo de cerveja vai reduzir e terá um incremento drástico no ticket gasto em farmácia. Sim, você vai ser pai.

Gastos com fraldas, remédios e noites em claro estão à caminho. Para pagar as contas do bebê vai ter que vender mais para manter a família feliz. Quanto ao sono, estou procurando ele até hoje.

Todo empreendedor tem seus rompantes de querer vender seus produtos ou novos produtos, para novos clientes, dominar o mundo com sua empresa e seus produtos. Isto é ‘padrão’, no pensamento de todo empreendedor.

Se você não pensou em ‘dominar o mundo’, vai pensar. E quando falamos em todo mundo, um deles que sempre vem à mente neste processo, o nosso querido governo.

Ahhhh… O governo… É um cliente que tem todos os problemas multiplicados de um cliente complicado. Demora para pagar, tem multa se entregar atrasado, não sabe direito o que quer, quando sabe parece não saber, compra mais caro do que é (porque não sabe comprar), inclui o frete no item, tem ‘amigos’ para fornecer, etc…etc..

Então, em 2015 eu, o empreendedor, decido aumentar as vendas e que será vendendo para o governo. Sonhar faz parte do processo, ainda mais com as contas da farmácia chegando.

A primeira coisa que ele fez foi estudar…estudar…e novamente estudar. Mas não é complexo, capaz: SRP, pregão eletrônico, licitação, pregão presencial, edital, comprasnet, sicaf, UASG, etc.

Então, tudo pronto, agora é só pegar uma licitação grande, de R$ 1.000.000,00 e a meta do semestre foi atingida, barbada, com os pés nas costas. As contas estão pagas, fraldas, leite em pó, mamadeira, tudo pago à vista. Igual uma propaganda: “Sonha que a Pepsi paga”.

Uma procura detalhada, encontra-se um pregão eletrônico de 200 unidades de um produto com valor de mercado em torno de R$ 400,00, ou seja, R$ 80.000,00 em um único produto. Claro, não é 1 milhão, mas já deixa qualquer um feliz da vida.

Aí começa a calcular custo, preço de compra, frete, impostos, capital de giro (lembrando que o governo demooooora para pagar), IPI, etc. Tudo calculado, pega o preço de referência e bingo, vai vender, vai dar certo, vamos faturar R$ 80.000,00.

Feliz, cansado, vai para casa pensando na logística, como será feita para conseguir comprar e entregar, dorme se sentindo um mega empresário com vasta experiência em vendas governamentais, até pensa em adicionar a experiência no Linked in.

Ao acordar, lembra que é melhor ler o edital completamente, e em papel é melhor. Pega o edital e imprime ele, lá se vão 50 páginas impressas com regras, normas, leis…etc, mas é necessário.

Após duas horas, chega na parte que trata do prazo de entrega, e sim… o chão desaparece dos seus pés. Sua vasta experiência se transforma em ‘conhecimento de Windows 95’.

Lê novamente e pensa, está errado, não pode ser verdade. Bom, vou mandar um e-mail perguntando o que acontece se atrasar a entrega e se está correto este prazo de 5 dias para entrega.

Para sua surpresa, a resposta é curta e grossa, está certo o que você leu, é assim mesmo. Se atrasar é multa e são 5 dias de prazo de entrega.

O Edital especificava que o prazo de entrega eram 5 dias úteis para entrega dos produtos licitados, depois da emissão da Ordem de Fornecimento. Você está pensando, sim, vai dar tempo. Não…não vai dar.

Fazendo as contas de cabeça, do interior do Rio Grande do Sul, para o interior de Minas Gerais, mesmo por entrega expressa, deve levar 5 dias ou mais se tudo correr bem. Mas quando que ocorre tudo bem com as entregas?
Não, melhor não.

O problema: manter os 200 itens do produto é vendido por poucos fornecedores/importadores e é de baixo giro, para entregar quando o governo quiser e se quiser é assumir muito risco, pois a compra do governo só é garantida depois da ordem de fornecimento emitida, não quando você ganha. Além disto, arriscar ficar sem o produto para entregar, ser multado, ser inabilitado para outras licitações.

Dica: antes de querer vender ao governo, confira se na sua cidade tem como apresentar os documentos no SICAF, pois em algumas cidades não há onde fazer a apresentação dos documentos e será necessário deslocar-se à outra cidade.

A fato: o sonho foi água abaixo porque, não teríamos condições de atender aquele prazo. O mais frustrante é que isto foi um direcionamento para alguém que é ‘amigo’ e está próximo ao local da compra.

Existem negócios que não foram feitos para você ganhar, foram feitos para outros ganharem. Existe cartas marcadas, gravem isto. Identifiquem as cartas marcadas e não perca tempo em jogos perdidos.