Os preços de produtos fabricados na China e vendidos pela Amazon nos Estados Unidos estão subindo mais rápido que a inflação geral, segundo levantamento exclusivo feito pela empresa de análise DataWeave a pedido da Reuters. O estudo indica que as tarifas impostas pelo presidente Donald Trump começam a atingir diretamente os consumidores norte-americanos.

A análise de 1.407 itens listados com origem chinesa na Amazon.com mostra que o preço médio subiu 2,6% entre janeiro e meados de junho. O percentual supera a inflação acumulada de bens essenciais até maio, de acordo com o índice de preços ao consumidor (CPI) dos EUA, que apontou alta de 1% no mesmo intervalo.
Variações por categoria
Segundo a DataWeave, os aumentos aceleraram a partir de maio, especialmente nas categorias de Casa e Móveis (+3,5%) e Eletrônicos (+3,1%). A empresa observou que o avanço de preços coincide com o período de vigência de novas tarifas comerciais.

O levantamento usou preços medianos – para evitar distorções causadas por variações pontuais –e se concentrou em produtos com país de origem claramente identificado como China. Foram analisados itens vendidos diretamente pela Amazon e por terceiros, responsáveis por 62% das vendas da plataforma.
Os produtos com maiores altas incluem materiais escolares e de escritório, eletrônicos como impressoras e trituradores, mídias como CDs e DVDs, além de móveis e utensílios de cozinha. A China exportou US$ 438,9 bilhões em mercadorias para os Estados Unidos em 2023, liderando o fornecimento global nesses segmentos.
Entre os 1.407 itens acompanhados, 475 tiveram aumento de preço, 633 mantiveram o valor estável e 299 apresentaram queda. Um exemplo citado foi uma chaleira elétrica Hamilton Beach, cujo preço passou de US$ 49,99 para US$ 73,21. Já uma frigideira GreenPan mais que dobrou de valor, atingindo US$ 31,99.
Karthik Bettadapura, CEO da DataWeave, disse que o cenário atual mostra o início de uma onda generalizada de repasse de custos aos consumidores. “Mesmo tarifas modestas têm impacto rápido quando as margens são apertadas e o giro de estoque é alto. O que estamos vendo em junho é o começo desse movimento”, afirmou.
Amazon nega altos preços
A Amazon, por sua vez, negou alterações significativas. “Não observamos mudanças relevantes nos preços médios dos produtos, além das variações normais”, disse um porta-voz. A empresa também argumentou que uma amostra pequena não representa o comportamento de preços em um catálogo com centenas de milhões de itens.
Gigantes do varejo como Walmart, Macy’s e Nike já anunciaram reajustes em razão das tarifas. A Nike, por exemplo, aumentou preços a partir de 1º de junho. A Macy’s afirmou que os ajustes foram seletivos para compensar os impostos de importação.
O CEO da Amazon, Andy Jassy, disse em maio que a empresa antecipou pedidos e buscou manter os preços baixos. Segundo ele, até então não havia “aumento apreciável nos preços médios de venda”.
Chegada de novas tarifas
As tarifas atualmente em vigor nos EUA incluem 10% sobre diversos produtos, 50% sobre aço e alumínio e 25% sobre carros e autopeças. Em 23 de junho, entraram em vigor novas tarifas sobre aço, o que deve pressionar ainda mais os preços de utensílios domésticos e pequenos eletrodomésticos, segundo Bettadapura.

Analistas avaliam que muitas empresas estão postergando reajustes por conta do enfraquecimento da demanda. Em maio, as vendas no varejo norte-americano caíram 0,9% frente a abril, acompanhadas por recuo inesperado nos gastos dos consumidores.
“Empresas provavelmente estão optando por adiar os aumentos de preços”, escreveu Claudio Irigoyen, economista do Bank of America Securities.
* Com informações da Reuters.