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Visto pelo prisma do e-commerce, o segmento de autopeças está longe da era dos Jetsons

Por: Odair Coelho Jr.

Executivo, empreendedor com mais de 27 anos de experiência profissional na Indústria Automotiva e de Serviços, atuando em e-commerce, marketplace, vendas, B2B e C, pós-vendas, marketing/ comunicação, desenvolvimento de serviços, rede de concessionárias, customer service, branding, entre outros. Tecnólogo Mecânico pela FATEC-SP, especialização em marketing e MBA executivo pela ESPM.

Segundo algumas pesquisas, o crescimento do e-commerce está a passos largos, com mais de 22% registrado em 2019 — frente 2018. Indústria, distribuidores e o varejo em geral estão abraçando o modelo online, resultando em competitividade e acesso fácil a produtos e serviços para o consumidor. Porém, há um setor que ainda discute os seus problemas e isso o impede de atingir um voo tranquilo e a velocidade de cruzeiro.

Eu dividiria esse bolo em dois pedaços: itens complexos e não complexos. Como por exemplo um pneu e um aparelho de áudio, que ficam no grupo dos “não complexos”, e peças de mecânica e elétrica, que se agrupam no outro.

Não complexos

A categoria dos “não” segue bem, obrigado e crescendo. São itens com aplicação universal, como eletrônicos, áudio… De típica compra com fatores emocionais. Ou como os pneus, que evidentemente têm a necessidade da troca e a busca pode ser feita pela inscrição estampada nos flancos — além de contar com informações técnicas e recomendações abundantes na rede.

Complexos

A âncora está concentrada nos componentes complexos, geralmente itens de mecânica e elétrica. A falta de informações exatas de aplicação do produto, aliada ao desconhecimento técnico dos consumidores, leva a delegação da compra para a mão do mecânico. Bem, vejamos o copo como meio cheio e vamos tratar essa desinformação como oportunidade.

A era dos Jetsons

Em referência ao título, estamos longe da era dos Jetsons, onde tudo seria futurista. Isso basicamente pelo fato de a indústria não enxergar ainda o e-commerce como um canal em que ela deve atuar. Os dados de produto — que boa parte das fabricantes de autopeças fornece — não atendem o ambiente virtual. Faltam orientações de aplicação por modelo, características técnicas, número da peça de origem na montadora, dimensionais, detalhamento e as fotos básicas.

Informações que, se organizadas, dariam segurança ao consumidor para clicar e comprar. Um bom cadastro deveria ser parte do produto, como é a embalagem, por exemplo. Ele (cadastro) nasceria e iria com ele (produto) até a prateleira física ou virtual. Hoje, os dados presentes nos varejos online e nos marketplaces são formados por partes: o que a fábrica informa, mais o que distribuidor e varejistas acrescentam ao longo do processo. Essa é uma mistura que nem sempre dá um bom caldo.

Autopeças pelos olhos do consumidor

Uma peça pode ter diversas aplicações. Na visão da fábrica, portanto, podem ser agrupadas por família e/ou tipo de veículo. Porém, o consumidor pensa diferente e age de acordo com a sua lógica. Para peças do modelo Onix, digita-se Onix na barra de busca; no caso do Prisma, escreve-se Prisma; para o Cobalt, Cobalt… Independentemente de a peça ser a mesma na visão técnica.

Deve-se entender que a forma de busca é diferente. E o sucesso da entrega, consequentemente, está na informação organizada e completa que deveria vir de um cadastro perfeito — ou quase. Se a busca não trouxe um resultado confiável, o consumidor não se arrisca e delega a missão de compra ao mecânico, que compra a peça de sua preferência e em seu fornecedor habitual.

Autopeças pelos olhos do mecânico

Conversando com mecânicos tempos atrás, questionei sobre o medo da Internet na venda de peças, onde a compra seria feita direto pelo consumidor e impactaria em receita para eles. Recebi respostas (não unânimes) que nem sempre a receita era boa. O mark-up usado do preço base era corroído na gestão das compras, parcelamento e taxas de administração das operadoras de cartão, e acabava não garantindo o lucro.

Conclusão

Um cadastro completo e organizado é fundamental para trabalhar no online, e irá trazer aumento nas vendas para quem sair na frente. Todos os elos da cadeia ganham: a indústria abre mais um canal, pois os parceiros atuarão online; o cliente que compra na internet escolhe como pagar (o parcelamento é importante no segmento); e o aplicador precifica apenas o seu produto de venda, o tempo, a mão de obra, evitando conceder descontos em algo que ele não controla.

Olá, indústria! Entregar ao seu cliente um cadastro de excelência seria esse um diferencial a ser explorado. Fica a dica!