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Na natureza e na economia, nada se perde, tudo se transforma

Por: Adriano Greca

É Diretor de Operações da Vértice Embalagens e gestor especialista em negócios B2B.

Quando o químico Antoine Lavoisier cunhou a célebre frase que “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, questões como o excesso de resíduos sólidos e a importância da sustentabilidade ainda estavam longe de entrar na pauta mundial. Na época, meados do século 18, ele se referia às experiências que vinha realizando ao observar que o oxigênio, em contato com uma substância inflamável, produz a combustão.

Em um momento em que a vida no planeta exige uma profunda reflexão sobre a forma de produção, a frase de Lavoisier se encaixa aos novos desafios do século 21 no setor de embalagens.

A frase, aplicada aos rearranjos dos átomos de compostos químicos, passou a ser amplamente utilizada para inúmeras situações do cotidiano e, mais recentemente, devido à urgência de se tomar atitudes concretas para evitar impactos irreversíveis ao meio ambiente e à sociedade em geral.

COP27

A partir de diversos pontos de vista, o assunto foi debatido intensamente durante a 27ª edição da Conferência do Clima (COP27), realizada em dezembro de 2022 no Egito, na África. Autoridades de todo o mundo foram pressionadas a definir metas e planos com impacto positivo no campo da sustentabilidade para os próximos anos. Uma nova forma de produção e consumo precisa ser fortalecida neste século 21 para mudarmos os padrões de exploração da natureza.

No Brasil, o assunto vem avançando bastante em alguns setores, inclusive devido ao grande número de pessoas que dependem da reciclagem para garantir a subsistência. Os conceitos de economia circular vêm sendo amplamente difundidos em empresas de diversos segmentos no Brasil visando à adequação às metas previstas na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).

PNRS

A PNRS estabelece que, a partir de 2024, as empresas precisam comprovar a logística reversa de, no mínimo, 22% das embalagens colocadas no mercado ou, então, a compensação ambiental nos parâmetros estabelecidos pela legislação.

Dados extraídos do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), mostram que o país tem uma produção anual de 82,5 milhões de toneladas de resíduos. Com a reciclagem, a estimativa é de que o volume de recicláveis pós-consumo seja de aproximadamente 24,7 milhões de toneladas.

Na cadeia produtiva, o processo de reciclagem entra no conceito de sustentabilidade econômica, um dos três pilares para que uma sociedade conquiste o desenvolvimento sustentável ao lado do pilar social e ambiental. O objetivo é promover soluções que respeitem e preservem os recursos naturais para que as gerações futuras também possam usufruir desses bens.

ESG

No ambiente corporativo, esse tipo de demanda vem sendo difundido pela sigla ESG – do inglês Environmental, Social and Governance. Diz respeito à integração da geração de valor econômico que deve ser buscado pelas empresas sem ignorar as questões ambientais, sociais e de governança corporativa.

O Brasil conta com importantes corporações e iniciativas que já estão alinhadas a essas tendências e exigências para o mercado nos próximos anos. Um exemplo é a eureciclo, empresa de tecnologia que faz o rastreamento da cadeia de reciclagem. A partir de notas fiscais, cooperativas e recicladores podem vender créditos de reciclagem sobre o volume comercializado para aumentar os ganhos financeiros e, com isso, valorizar o trabalho de reinserção de materiais no ciclo produtivo.

Embalagens

Para o setor de embalagens – em que há uma responsabilidade compartilhada no PNRS entre a indústria e as lojas varejistas para alcançar os 22% de logística reversa -, a compensação ambiental, realizada por empresas como a eureciclo, mostra-se um instrumento eficaz de incentivo à cadeia de reciclagem com o atendimento das obrigações legais. Na Vértice Embalagens, firmamos uma parceria em junho de 2022 e em seis meses podemos colher os frutos da compensação ambiental: 85,4% do papel e 39,7% do plástico colocado no mercado em 2021 foi compensado. Nossa meta é chegar a 100% da compensação.

O volume de embalagens plásticas das empresas que atuam no setor de e-commerce é crescente e não há dados setorizados. Mas quando a prática da compensação ambiental estiver difundida no segmento, teremos um salto de fortalecimento do ecossistema da cadeia de reciclagem com impacto não só ambiental, mas econômico e social. No nosso caso, por exemplo, em um semestre apoiamos o trabalho de 25 cooperativas ou operadores de reciclagem, em 16 estados brasileiros.

Esse alcance foi possível graças à conexão com centrais de triagem de resíduos em diversos pontos do Brasil. Isso se dá a partir de uma solução de logística que se concretiza com a emissão de certificados de créditos de reciclagem. O trabalho tem ainda o caráter social porque o apoio às cooperativas é um incentivo financeiro para aquisição de EPIs e aumento de renda, que ocorre a partir da compensação ambiental e que se concretiza com a emissão de notas fiscais para dar rastreabilidade aos processos.

O ciclo de reaproveitamento de materiais ganha mais força com o uso do material reciclado em novas embalagens por reduzir a necessidade de matéria-prima virgem. É o denominado PCR (plástico pós-consumo) na produção das embalagens de e-commerce, que mantêm as características daquelas fabricadas exclusivamente com a resina virgem, com garantia de inviolabilidade, resistência, adaptação à cola, impermeabilidade, proteção contra a luz e qualidade de impressão para personalização.

A adoção de práticas que buscam um desenvolvimento sustentável – novamente é bom frisar, não apenas do ponto de vista ambiental, mas também social e financeiro – contribui para implementar uma nova cultura organizacional nas empresas e no ambiente profissional como um todo. Vai muito além de ser apenas ecologicamente correto. O mundo atual exige uma postura firme e novas soluções para problemas antigos, com resultados efetivos. Caso contrário, o preço será alto para toda humanidade.