O governo anunciará uma nova rodada de medidas que podem gerar incremento anual superior a R$ 100 bilhões aos cofres federais. Na última segunda-feira (3), Fernando Haddad, ministro da Fazenda, também citou a restrição de um benefício fiscal dado a empresas, assim como tributação das vendas de marketplaces chineses (que classificou como contrabando).
Na medida de maior impacto, de R$ 85 a R$ 90 bilhões por ano, o governo vai ao Supremo Tribunal Federal para tentar restringir o uso por empresas de benefícios tributários concedidos pelos Estados em estratégia para que achatar a base de cálculo do Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). O objetivo é fazer com que esse incentivo só beneficie investimentos feitos pelas companhias, não incluindo despesas de custeio.
“Quando esse conceito fica em torno de custeio, qual é o sentido de uma empresa que está lucrando mais por conta de um benefício fiscal do Estado abater da sua base de cálculo dois tributos federais, não tem a menor lógica. Nós vamos restringir ao conceito de investimento”, afirmou em entrevista à GloboNews.
Taxação de marketplaces chineses
O governo deve atacar a compra pela internet de produtos importados que acabam chegando ao país sem a devida tributação. A iniciativa é planejada em meio a reclamações de varejistas locais como o que chamam de concorrência desleal de empresas como AliExpress, Shein e Shopee.
Nessa área, o ministro projeta que o governo perca anualmente entre R$ 7 e 8 bilhões com o que chamou de contrabando. “Uma empresa que tem comércio eletrônico, escamoteia aquele comércio eletrônico e faz passar por uma remessa de pessoa a pessoa para não pagar impostos… As empresas brasileiras e estrangeiras que estão sofrendo a concorrência desleal de um ou dois players mundiais estão pedindo providências à Receita”, disse, sem mencionar nomes das companhias.
O ministro não definiu prazo para apresentação das propostas. Segundo ele, a pasta ainda tem outras três medidas para lançar, mas deve aguardar o andamento da reforma tributária para que elas sejam mais bem calibradas. Duas fontes com conhecimento do assunto afirmaram à Reuters que a pasta quer fechar o cerco a empresas exportadoras que usam offshores para reduzir o pagamento de tributos.
Cobrança de quem não paga impostos
Em outro ponto, segundo as fontes, o governo avalia passar a fazer cobrança periódica de Imposto de Renda, por meio do chamado come-cotas, de fundos exclusivos de investimento, que hoje pagam o tributo apenas no momento resgate.
Na entrevista, Haddad disse que a reforma tributária buscará “cobrar de quem não paga” impostos, o que deve elevar a receita e contribuir para o cumprimento dos objetivos fiscais previstos no novo arcabouço recém-apresentado pelo governo.
O ministro disse que, para o país ficar completamente adequado ao proposto pelo arcabouço fiscal, seria necessário um incremento de receita entre 110 bilhões e 150 bilhões de reais. “Qualquer que seja o parâmetro do arcabouço para o ano que vem, (com um aumento de receita) entre 110 bilhões e 150 bilhões de reais, isso é zero déficit”, afirmou o ministro.
Redução de impostos sobre consumo
Segundo Haddad, a reforma tributária também deve contribuir para o aumento da arrecadação, na medida em que o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) proposto pelo governo seria “muito mais à prova de sonegação” do que os impostos como estão organizados atualmente.
O ministro argumentou ainda que, por conta disso, a reforma tributária pode permitir a redução de impostos sobre consumo – que, segundo ele, são “muito altos” no Brasil – num prazo mais longo.
Fonte: CNN Brasil