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Justiça proíbe lives da WePink e determina atendimento humano após avalanche de reclamações

Por: Alice Lopes

Jornalista no E-Commerce Brasil

Jornalista no E-commerce Brasil, graduada pela Universidade Nove de Julho e apaixonada por comunicação.

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A Justiça de Goiás proibiu temporariamente a WePink, marca da influenciadora Virginia Fonseca, de realizar novas lives de vendas. A decisão faz parte de uma ação movida pelo Ministério Público e pelo Procon Goiás, que acusam a empresa de práticas abusivas, propaganda enganosa e falhas recorrentes na entrega de produtos.

Virginia Fonseca
(Imagem: reprodução/Instagram/@Virginia)

A liminar também obriga a companhia a criar canais de atendimento humano, proibindo que o contato com consumidores seja feito apenas por meio de sistemas automatizados. A decisão, de caráter provisório, foi emitida em 10 de outubro pela 14ª Vara Cível e Ambiental do Tribunal de Justiça de Goiás.

De sucesso nas redes à mira da Justiça

Com faturamento anual estimado em R$ 750 milhões e quase 5 milhões de seguidores no Instagram, a WePink se consolidou como uma das principais marcas de beleza impulsionadas por influenciadores digitais no Brasil. Mas o crescimento rápido e o modelo de vendas apoiado em lives e ofertas-relâmpago acabaram colocando a empresa sob escrutínio público e jurídico.

Segundo o Ministério Público, as campanhas promocionais da marca, conhecidas como flash sales, criavam um “senso artificial de urgência”, estimulando compras impulsivas e explorando a confiança que milhões de seguidoras depositam na imagem da influenciadora. O promotor Élvio Vicente da Silva afirmou que consumidores denunciaram não apenas atrasos nas entregas, mas também dificuldades para reembolso e falhas graves no pós-venda.

Mais de 120 mil reclamações

O processo cita um volume expressivo de reclamações em todo o país. Só no site Reclame Aqui, a WePink recebeu 30 mil queixas em 2025 e 90 mil em 2024. O número total pode chegar a 300 mil consumidores insatisfeitos, considerando aqueles que não formalizaram denúncias. No Procon Goiás, foram mais de 340 reclamações em dois anos, principalmente por atrasos e falta de entrega.

Reclamações de denúncias da Wepink (Imagem: reprodução/Instagram/@LorenaMagazine)

Diante da reincidência, o Ministério Público pede que a empresa pague uma indenização coletiva de R$ 5 milhões por práticas abusivas, além de compensações individuais que ainda serão definidas.

Em resposta às críticas, a WePink afirmou que já solucionou seus problemas logísticos e destacou sua nota 8,1 no Reclame Aqui, com 93% de índice de resolução. A defesa, representada pelo advogado Felipe de Paula, disse na semana passada que a empresa ainda não havia sido oficialmente citada no processo e que só se manifestará após a notificação formal.

Atendimento e censura

Outro ponto destacado na ação é a falta de transparência nas redes sociais da empresa. De acordo com o MP, a WePink teria excluído comentários negativos de consumidores, configurando censura. O órgão também apontou que o atendimento automatizado dificultava a resolução de problemas, levando a Justiça a exigir que o suporte aos clientes seja feito por pessoas e não apenas por robôs.

Post nas redes sociais da WePink (Reprodução/Instagram/@Wepink.br)

O novo sistema deverá funcionar em múltiplos canais e incluir atendimento telefônico obrigatório.

Processo em andamento

A ação judicial contra a WePink ainda está em andamento e a liminar tem caráter provisório. O Ministério Público defendeu a urgência da decisão para evitar novos prejuízos aos consumidores, citando inclusive um vídeo de Thiago Stabile, sócio de Virginia Fonseca, em que ele admite que a alta demanda gerou falhas de abastecimento.

Embora a decisão já tenha proibido as lives de vendas, o mérito do processo ainda será julgado. Até lá, a empresa está impedida de realizar transmissões e deverá adequar seus canais de atendimento.

O caso marca um ponto de virada na relação entre influência digital e responsabilidade empresarial, levantando o debate sobre como marcas criadas em torno de personalidades da internet precisam responder às mesmas obrigações que qualquer outro player do comércio eletrônico.