Os efeitos da pandemia sobre o comércio eletrônico foram sentidos em todo o mundo e popularizaram ainda mais o movimento de compra e venda em sites internacionais
Se antes da pandemia as compras em sites internacionais já estavam em alta no mundo inteiro, o isolamento social acelerou ainda mais essa tendência global. De acordo com a pesquisa “Seizing the Cross-Border Opportunity” realizada pela Forrester, 82% dos consumidores de todo o mundo já compraram em sites de outros países.
E nesse cenário de fortalecimento de compras internacionais a América-Latina é uma das líderes, com 83% da população relatando já ter feito compras internacionais. Por outro lado, a China está disparada na liderança entre os países que mais vendem. Em 2019 as vendas chinesas para outros países contabilizaram US$ 1,8 trilhão, mais do que todo o mercado americano e europeu somados.
A estimativa é que com o impacto da pandemia, a China já tenha ultrapassado a marca de US$ 2,5 trilhões de vendas online. Ainda que para o consumidor brasileiro o dólar acima de R$ 5,00 e a política de taxação de compras internacionais torne praticamente proibitiva a compra de alguns países, para quem é varejista ou indústria essa é uma excelente oportunidade de abrir novos horizontes.
De acordo com André Gonçalves Pereira, Business Manager do ANYMARKET, uma plataforma de vendas em marketplaces que promove operações simples, ágeis e centralizadas, criada e desenvolvida pelo Grupo DB1 para atender ao universo e-commerce, “com a desvalorização do real, é possível vender o mesmo produto comercializado no mercado interno por um preço muito mais alto do que no Brasil e o consumidor de lá vai pagar e, em alguns casos, ainda achar barato. Os mercados que mais compram online de outros países são o norte-americano, seguido pela Europa e pela China, que compra muitos desses produtos do Brasil, incluindo produtos de luxo”.
Quais produtos exportar e como começar
O mercado de moda, calçados e acessórios é uma das principais categorias de produtos comprados via cross-border. O mercado brasileiro de calçados possui uma indústria muito forte em exportação, e o nosso mercado de moda também se destaca com marcas que construíram renome no mundo, como a Farm e a Reserva. Outros segmentos com ótimo potencial para operação cross-border incluem brinquedos, produtos de hobbies, joias, relógios, cosméticos, beleza e arte, entre outros.
Para quem deseja iniciar uma operação cross-border, é preciso considerar as questões tributárias, de taxas, logística, logística reversa, tropicalização de produtos e quais marketplaces escolher.
Questões tributárias
O Brasil é feito para exportadores. É um país que incentiva muito a exportação. Se você tem um e-commerce, uma empresa MEI, uma limitada… você não precisa fazer nada no seu CNPJ para começar sua operação cross-border.
Simplesmente, na hora de vender para fora, você preencherá na sua nota fiscal o grupo 7000 no campo “natureza da operação”. Isso indica que a venda é destinada para o exterior, já existe isso na Receita Federal hoje.
As vendas nesse grupo 7000 têm como benefício para o exportador a isenção para os impostos ICMS (imposto de circulação de mercadoria e serviço – um imposto estadual) e IPI (imposto de produto industrializado). Esses dois impostos juntos, no estado de SP, podem chegar a 18%. Imagine economizar essa margem!
Sobre taxas de importação
A Amazon opera sob o modelo DDP – Delivered Duty Paid (pré-pago): Quando as tarifas aduaneiras e os impostos são pagos de forma antecipada. O pedido chega até o cliente final sem atrito.
Já o Alibaba opera com o modelo DDU – Delivered Duty Unpaid (pós-pago): Quando as tarifas aduaneiras e os impostos são pagos após o produto chegar no país de destino. Nesse caso, o consumidor tem que pagar para retirar o produto.
O primeiro modelo, o DDP, é mais pensado ao consumidor. O modelo DDU é mais simples, mais barato e rápido de implementar.
Para aderir aos modelos de taxa de importação, já existem start-ups aqui no Brasil que podem te ajudar. Uma delas é a Ship Smart, que calcula os impostos e taxas de envios da sua mercadoria. É uma ferramenta brasileira, ótima para quem quer uma operação focada no cliente.
Considerando a tributação, em qual país começar?
Os Estados Unidos são uma excelente opção por 2 motivos:
- É um mercado que está há apenas 8 ou 10 horas de distância aérea;
- É um país muito consumista e com limite de importação sem custo alfandegário de U$ 800,00. Ou seja, se você fizer uma venda de até R$ 4000,00 para os EUA, não terá taxa alguma.
Quais os principais países para cross-border
- Estados Unidos – maior mercado de e-commerce do mundo ocidental.
- Japão – mercado de e-commerce que mais cresce no mundo.
- Reino Unido – um dos maiores mercados da Europa, com crescimento de 17% ao ano.
- Alemanha – maior mercado de e-commerce da Europa, cresce 12% ao ano. Sua principal categoria é moda.
- França – mercado superior a U$ 50 BI.
- Itália – um dos países mais promissores em termos de crescimento devido a baixa penetração da internet.
- Canadá – um dos principais destinos de compras cross-border no mundo.
- México – mercado emergente com rápido crescimento.
- Coreia do Sul – economia estável que resulta em um GMV superior a U$ 50 BI em gastos online.
- Espanha – gasto médio per capta online é de U$ 724,00. A principal categoria é moda.
Sobre logística cross-border
Quando falamos de logística cross-border, falamos de 4 grandes players que concentram praticamente todos os fretes: FedEx, UPS, Correios (modalidade Exporta Fácil) e DHL.
No modelo cross-border, falamos de exportação direta ou ativa (prioritariamente aérea). Trata-se de uma modalidade de entrega door-to-door, sem incidência de ICSM e IPI, com NFE para saída e Invoice para entrada. O Invoice é um formulário oficial para validar campos oficiais que todo país precisa para receber o produto.
Curiosidades sobre frete e logística reversa no Brasil
O custo médio de frete via DHL Brasil + EUA é de U$ 14,50 e o prazo médio de entrega é de 48h a 72h, muito positivo.
Quando um produto volta ao Brasil, ele é taxado como uma importação normal segundo as regras da Receita Federal. O cálculo é: Valor total [(Produto + pedido) x 60%] x ICMS (+ 17%) ou (US$ 100 x 60%) x 17% = US$ 187,20.
Ou seja: não vale a pena trazer o produto de volta para o Brasil.
A solução é trabalhar com operadores logísticos focados em fulfillment que não cobram mínimo mensal nem set-up. Você pode armazenar seus produtos de logística reversa nos centros de distribuição localizados em países da Ásia, Europa, e até mesmo nos Estados Unidos. Você só paga um percentual quando vender novamente o produto e o operador logístico realizar o despache. Duas empresas para se ter em mente são a Encore e a Zigzag, que fazem esse serviço de logística reversa internacional.
Sobre tropicalização dos produtos
Quando você vai vender para qualquer outro país que não tenha o português como idioma nativo, você precisa tropicalizar o seu produto. Isso é diferente de traduzir o conteúdo!
Por exemplo: digamos que você pretende vender um top de yoga, já que o mercado de esportes e fitness está em alta nos EUA. Se você traduzir “top” ao pé-da-letra, se chamaria “top” mesmo. Porém, nos EUA, essa peça de roupa é chamada de sports bra.
É importante fazer essa pesquisa prévia para entender a nomenclatura correta.
Outros pontos para considerar no cadastro são:
- Custo médio do produto + frete;
- utilização em diferentes épocas do ano;
- compatibilidade com o clima local;
- concorrência local;
- perecibilidade (o produto vai resistir à viagem?);
- numeração (camisas, calçados e etc – uma variável muito discrepante entre Brasil, EUA e Europa).
Quais marketplaces escolher?
Os principais marketplaces estão listados abaixo e divididos por região/país e classificados pelo número de visitantes por mês, de acordo com lista divulgada pelo site webretailer.
- Amazon – Global – 5.7B
- PayPay Mall – Japão – 2.1B
- eBay – Global – 1.6B
- Mercado Libre – América do Sul – 661.7M
- AliExpress – Global – 639.1M
- Rakuten – Global – 621.5M
- Taobao – China – 545.2M
- Walmart.com – USA – 469.0M
- JD.com – Global – 318.2M
- Etsy – Global – 266.3M
Como iniciar uma operação cross-border?
Fase 1 – Operação própria
- Coloque 100% do seu mix de produtos (pulmão)
- Expedição LATAM + USA + EUROPA + ASIA
- Exportação Direta para consumidor final
- Faça uso exclusivo de logística aérea
Fase 2 – Operação Full Commerce
- Tenha um hub de expedição USA + Europa
- Faça uso de um intermediário
- Foque na Curva A/B (estoque avançado)
- Use o porto de Miami (fala português)
- Aposte nos EUA para menor barreira cultural
- Tenha um fulfillment eficiente
Fase 3 – Operação Full Commerce na Europa
- Tenha um hub de entrada para a Europa
- Faça uso de um intermediário
- Mantenha o foco na Curva A/B
- Aposte em Portugal para um menor custo de fulfillment da Europa, menor barreira cultural e melhores prazos e taxas de logística
Para Felipe Dellacqua, sócio e VP de vendas da VTEX, que palestrou sobre o tema no ANY AWARDS 2020, “esse é o momento de aproveitar o boom do comércio eletrônico iniciado pela Covid-19, que apesar de tudo, trouxe um avanço de até 4 anos nas vendas para o e-commerce. Com a desvalorização do real, o Brasil é muito competitivo para exportação. Monte sua estratégia e leve o Brasil para o mundo!”. Mais informações em anymarket.com.br.