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98 milhões de brasileiros não tem acesso a internet

Por: Vivianne Vilela

Diretora de Conteúdo do E-Commerce Brasil

Vivianne Vilela atua como Diretora de Conteúdo, do E-Commerce Brasil há mais de 11 anos. É responsável pela curadoria dos eventos, dentre eles o Fórum E-Commerce Brasil (maior evento de e-commerce das Américas). Passou mais de 7 anos trabalhando em projetos nacionais para promover a inclusão, transformação e expansão no uso da tecnologia dos pequenos negócios no Brasil pelo Sebrae Nacional.

Um estudo do Banco Mundial informa que 98 milhões de pessoas não têm acesso à internet no Brasil. O Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial 2016: Dividendos Digitais, coloca o Brasil em quinto lugar em número de usuários de internet, atrás da China, dos Estados Unidos, da Índia e do Japão.

“Nos encontramos em meio à maior revolução de informação e comunicação da história da humanidade”, afirma o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, no estudo. Mas se as tecnologias digitais têm crescido rapidamente pelo mundo, o mesmo não se pode dizer sobre os benefícios desse avanço, ou os dividendos, como chama o relatório. “A internet continua indisponível, inacessível e fora do alcance econômico para a maioria da população mundial”, afirma o documento.

De acordo com o Banco Mundial, em todo o mundo, 4,2 bilhões de pessoas continuam excluídas da economia digital, o que representa cerca de 60% da população global. A Índia tem o maior número de pessoas sem acesso à internet, com 1,1 bilhão, seguida da China (755 milhões) e da Indonésia (213 milhões), são os dois países do mundo em que mais habitantes estão sem acesso à internet, de acordo com o estudo. Considerando a internet de alta velocidade, apenas 15% da população mundial, ou 1,1 bilhão de pessoas, conseguem esse tipo de serviço. Pelo lado positivo, o Brasil é o quinto do mundo em número de usuários, atrás de China, Estados Unidos, Índia e Japão.

Uso de smartphones na India

Embora a expansão da internet e de outras tecnologias digitais tenha facilitado a comunicação e promovido um senso de comunidade global, ela não ofereceu o enorme aumento de produtividade que muitos esperavam, disse o banco. Ela também não melhorou as oportunidades para as pessoas mais pobres do mundo, nem ajudou a propagar a “governança responsável”.

Mobilidade

“Os benefícios totais da transformação da informação e comunicação somente se tornarão realidade se os países continuarem a melhorar seu clima de negócios, investirem na educação e saúde de sua população e proverem a boa governança”, disse o relatório.

Internet na Africa

Os autores do documento, Deepak Mishra e Uwe Deichmann, mencionam que os benefícios da rápida expansão digital estão sendo melhor aproveitados por “pessoas de maior renda, qualificadas e influentes”. Para reverter esse quadro, o Banco Mundial avalia que a internet precisa ser “universal, economicamente viável, aberta e segura” e os governos têm ainda que reforçar as regulamentações que assegurem concorrência entre as empresas do segmento.

“O relatório constata que os desafios tradicionais ao desenvolvimento estão impedindo a revolução digital de realizar seu potencial de transformação”, ressalta o documento. Para que mais pessoas tenham acesso à tecnologia, os governos precisam investir em melhorar do ambiente de negócios e a educação. O estudo cita que 20% da população do planeta não consegue ler e escrever.

Celulares. O estudo estima que 5,2 bilhões de pessoas no mundo possuem um celular. “Entre os 20% dos domicílios mais pobres, quase 7 de cada 10 têm telefone celular. É mais provável que as residências mais pobres tenham acesso a celulares do que a sanitários ou água potável”, afirma o Banco Mundial. Mesmo assim, o documento chama atenção para o fato de 2 bilhões de pessoas ainda não terem o aparelho e cerca de 500 milhões estarem em áreas sem sinais das operadoras.

“As tecnologias digitais estão transformando o mundo dos negócios, do trabalho e da governança”, afirmou Jim Yong Kim, Presidente do Grupo Banco Mundial. “Precisamos continuar a conectar todas as pessoas e não deixar ninguém para trás, porque o custo da perda de oportunidades é enorme. Mas para os dividendos digitais serem amplamente compartilhados entre todas as partes da sociedade, os países também precisam melhorar seu clima de negócios, investir na educação e na saúde das pessoas e promover a boa governança.”

 Embora haja muitos relatos de êxito, o efeito da tecnologia sobre a produtividade global, expansão da oportunidade para as pessoas de baixa renda e da classe média, bem como a generalização de governos responsáveis têm sido muito menos do que o esperado. As tecnologias digitais se estão espalhando rapidamente, mas os dividendos digitais – crescimento, empregos e serviços – têm ficado para trás.

Revolucao digital na educacao

“A revolução digital está transformando o mundo, ajudando os fluxos de informação e facilitando o surgimento de países em desenvolvimento com capacidade para aproveitar essas novas oportunidades,” afirmou Kaushik Basu, Economista Chefe do Banco Mundial. “É uma transformação impressionante o fato de hoje 40% da população mundial estarem conectados pela Internet. Embora devamos felicitar-nos por essas realizações, precisamos também estar mais atentos para não criarmos uma nova subclasse. Considerando que 20% da população mundial não sabem ler nem escrever, por si só a disseminação das tecnologias digitais tem pouca probabilidade de significar o fim do hiato do conhecimento global.”

acesso a internet na Africa

As tecnologias digitais podem promover inclusão, eficiência e inovação. Mais de 40% dos adultos no Leste da África pagam as contas de serviços de utilidade pública por celular. Há oito milhões de empresários na China – um terço dos quais são mulheres – que utilizam a plataforma e-commerce para vender bens em âmbito nacional e exportar a 120 países. A Índia proporcionou uma identificação única a quase um bilhão de pessoas em cinco anos, bem como aumentou o acesso aos serviços públicos e reduziu a corrupção neles. E no setor de serviços de saúde pública o Sistema de Mensagens Curtas (SMS) demonstrou eficácia para lembrar às pessoas que vivem com o HIV a tomarem seus medicamentos capazes de salvar a vida.

Para o Ministério das Comunicações, o número absoluto de brasileiros offline chama a atenção devido ao tamanho da população brasileira, estimada em 204 milhões de pessoas. Segundo a Secretaria de Telecomunicações do ministério, 55% dos brasileiros com pelo menos 10 anos de idade são usuários de internet e, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), havia 175,2 milhões de pessoas com 10 anos ou mais de idade em 2014.

“Logo, de acordo com esses dados, somos 96,4 milhões de usuários e 78,9 milhões de pessoas com 10 anos ou mais de idade offline. Este último número é consideravelmente inferior à estimativa apresentada no estudo do Banco Mundial, mas, ainda assim, representa um grande contingente de pessoas sem acesso à de Internet”, diz o ministério.

Em mercados sem concorrência suficiente, as tecnologias digitais podem originar monopólios, limitando a inovação, disse o banco. Embora a internet permita que muitas tarefas sejam automatizadas, ela pode criar uma desigualdade maior se os trabalhadores não têm a habilidade de tirar vantagem dos avanços tecnológicos.

E quando os governos não são responsáveis, a propagação da internet pode permitir que eles exerçam um controle maior.

Em muitos países em desenvolvimento, o acesso à internet e ao telefone celular responde por uma grande parcela da renda. Além disso, alguns países não têm sistemas educacionais que capacitem as pessoas para utilizarem a internet.

Em Mali e Uganda, cerca de três quartos das crianças da 3a série não sabem ler, disse o Banco Mundial.

“Como não é de surpreender, os mais instruídos, bem conectados e mais capazes têm recebido a maior parte dos benefícios” da expansão digital, disse o relatório.

Investir na estrutura básica, reduzir o custo de fazer negócios, diminuir barreiras comerciais, facilitar a criação de start-ups, reforçar as autoridades encarregadas da concorrência e facilitar a concorrência entre as plataformas digitais são algumas das medidas sugeridas no Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial que podem tornar as empresas mais produtivas e inovadoras. Além disso, embora a alfabetização básica continue a ser essencial para as crianças, ensinar capacidades avançadas do pensamento crítico e o treinamento básico em sistemas de TIC avançados e técnicos serão a chave à medida que a Internet se difundir. Ensinar capacidades técnicas em idade precoce e expor as crianças à tecnologia promovem a aprendizagem das TIC e influenciam a escolha da carreira.

As tecnologias digitais podem transformar nossas economias, sociedades e instituições públicas, mas essas mudanças não serão garantidas nem automáticas, acautela o relatório. Os países que estão investindo tanto na tecnologia digital como em seus complementos analógicos colherão dividendos significativos, ao passo que outros provavelmente ficarão para trás. A tecnologia sem um fundamento analógico sólido arrisca criar fortunas econômicas divergentes, mais desigualdade e um Estado invasivo.

Segundo o Banco Mundial, conectar o mundo “é essencial, mas está longe de ser suficiente” para eliminar a pobreza.

O banco de desenvolvimento visa a reduzir a pobreza extrema — definição dada a quem vive com uma renda de menos de US$ 1,90 por dia — a 3 por cento globalmente até 2030.

Na última década o Grupo Banco Mundial investiu um total de US$ 12,6 bilhões em TICs.

Tecnologias digitais

Fonte: The World Bank