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Entrevista com Helisson Lemos, diretor geral do MercadoLivre

Por: Redação E-Commerce Brasil

Equipe de jornalismo E-Commerce Brasil

Referência no comércio eletrônico, com um volume de quase 40 milhões de itens vendidos em 2010 e com um público cativo superior a 58 milhões de usuários. É com esse perfil que o MercadoLivre completou, em agosto, 12 anos de existência, com operação em 13 países na América Latina e na Europa. Veterana no mercado online, a empresa já superou grandes crises, como a bolha de 2001, que vitimou muitas empresas pontocom e continua se reinventando diariamente.

Veja nesta entrevista com Helisson Lemos, diretor-geral da empresa, as principais lições que qualquer e-commerce pode aprender com essa que é uma das grandes referências no comércio eletrônico. A empresa registrou no primeiro semestre de 2011 um crescimento de 32% no volume financeiro transacionado na plataforma, o que totalizou US$ 2 bilhões. No total, foram 22,5 milhões de produtos negociados pelos usuários.

O MercadoLivre é, de fato, uma referência em e-commerce no Brasil. Quais aspectos dessa história de sucesso podem ser observados pelas novas empresas de comércio eletrônico, como inspiração para o sucesso?

Acredito que o primeiro ponto é que, desde a criação da empresa, em 1999, sempre tivemos solidez financeira e uma política de investimentos austera. No período de 2001 a 2006, fizemos ações de marketing 100% online, além de investimentos em tecnologia e infraestrutura para oferecermos um site eficiente e amigável aos usuários.

Outro ponto crucial foi a transição do perfil de uma plataforma essencialmente C2C (transações entre consumidores pessoa física) para B2C, com a presença crescente de pessoas jurídicas comercializando produtos novos, anunciando grandes quantidades de itens, em vez de oferecerem apenas uma unidade. Esse comportamento também gerou outras mudanças, como a maior oferta de produtos novos em detrimento dos usados e a opção pelo preço fixo, em lugar do leilão.

A evolução da plataforma e do próprio e-commerce nos permitiu oferecer um ecossistema mais completo: criamos a plataforma de pagamentos online MercadoPago em 2004, nossa área de Classificados, nossa ferramenta de links patrocinados MercadoAds e, no início deste ano, anunciamos o MercadoShops, que permite rapidamente a criação de um site de comércio eletrônico por qualquer pessoa física ou jurídica.

Qual a sua análise do atual momento do comércio eletrônico no Brasil para o crescimento destes players?

Inegavelmente, o momento é excelente, impulsionado por fatores como ampliação do acesso à internet, expansão da banda larga, queda nos preços de computadores e laptops, bancarização, maior disseminação do cartão de crédito e mais acesso ao crédito. E ainda há muito espaço para o e-commerce expandir. Se considerarmos que o Brasil tem mais de 190 milhões de pessoas, com cerca de 81,3 milhões acessando a internet e, desse universo, 23% costumam comprar online, segundo pesquisa realizada pela F/Nazca, podemos calcular o grande potencial interno de que dispomos. Sem falar no aumento da competitividade que naturalmente melhorará os níveis de serviços prestados com a chegada de empresas estrangeiras como Netfix, Amazon, Rakuten etc.

E como atingir os que ainda não compram pela web?

O site MercadoLivre é um ‘marketplace’ semelhante a uma rede social que reflete diretamente os desejos e os anseios dos usuários, sejam eles compradores ou vendedores. Precisamos continuar investindo para oferecer uma boa experiência de compra e venda para todos, com preço justo e em ambiente seguro. Esse é o melhor caminho.

Como é possível fazer isso?

Na verdade, já está sendo feito. Hoje, nossos investimentos são focados em tecnologia e em atendimento ao usuário, dois aspectos fundamentais para que essa “rede social de negócios” seja funcional. Um bom exemplo de investimento em tecnologia é a abertura da plataforma do MercadoLivre via APIs e webservices, um marco para nossa empresa. A ideia é atrair parceiros e desenvolvedores para a criação de novas ferramentas e aplicativos que tornem essa experiência de compra e venda cada vez melhor. Abre também um amplo universo de parcerias e de possibilidade de novos negócios.

Quando isso acontecerá?

Está acontecendo agora. As APIs já são uma realidade no MercadoLivre. Estamos trabalhando com aplicativos desenvolvidos por parceiros estratégicos, com o intuito de promover mais flexibilidade e dinamismo à plataforma. Os primeiros resultados já são visíveis. Por meio desses aplicativos, aprimoramos o atendimento via chat, criamos uma ferramenta que permite o compartilhamento dos anúncios pelo Facebook e, em agosto, lançamos nossa plataforma Mobile com foco, inicialmente, em smartphones BlackBerry, já que nossas ferramentas de análise mostram um volume significativo de acessos ao nosso site por esse tipo de aparelho.

Quais são os recursos da estratégia de mobile commerce do MercadoLivre?

A estratégia de mobilidade do MercadoLivre é uma experiência pioneira no segmento de e-commerce, resultado de meses de trabalho da nossa equipe de tecnologia, em parceria com a Navita, empresa especializada em soluções para mobilidade com foco em smartphones BlackBerry. Esse aplicativo foi feito com proporções e funcionalidades especiais, com tempo de carregamento menor e utilização facilitada. Dessa forma, será mais fácil encontrar e comprar o produto desejado pelo celular. Apenas a finalização do pagamento será fora do ambiente mobile. Com o aplicativo, é possível pesquisar os itens, conferir a reputação do vendedor, fazer perguntas e ofertar diretamente do aparelho.  Se o usuário não é cadastrado no MercadoLivre, poderá baixar o aplicativo e pesquisar por produtos, mas não poderá realizar perguntas ao vendedor ou realizar compras se não tiver cadastro.

E quanto ao acesso público às APIs?

Neste primeiro momento, as APIs do MercadoLivre estão sendo abertas para parceiros estratégicos. No entanto, assim como ocorreu com a Navita, estamos em contato com outras empresas interessadas em desenvolver serviços customizados, que fomentem o ambiente de negócios na plataforma.

Qual seria o produto considerado mais promissor do MercadoLivre para os próximos anos?

O MercadoPago, unidade de negócios do Grupo MercadoLivre que atua em meios de pagamentos online, é a nossa área mais promissora. Acreditamos que em poucos anos irá superar o site MercadoLivre (marketplace) em geração de receita. Isso porque o pagamento online é uma área em franco crescimento no Brasil, e o MercadoPago tem inúmeros diferenciais de que outros players do setor não dispõem. Para se ter uma ideia, em 2010, o MercadoPago mais do que dobrou seus negócios, apresentando expansão de 148,8% nas operações e de 98,1% no volume de pagamentos. É um crescimento significativo.