ESG. São apenas três letrinhas, mas representam muito. Environmental, Social and Governance. Tudo o que definirá se uma empresa está ou não apta a receber financiamentos, se merece o reconhecimento e a confiança do consumidor, se está atenta e assume suas responsabilidades em relação a questões ambientais e sociais, e se atua de forma ética e comprometida com o mercado e todos os seus stakeholders.
Como parte de suas práticas e políticas de ESG, grandes players do comércio eletrônico, como Amazon e Americanas, têm anunciado seus investimentos em veículos elétricos, com o objetivo de reduzir o impacto de suas entregas.
A Americanas S.A. tem como meta neutralizar todas as suas emissões de carbono até 2025 e, ainda neste ano, fazer com que 10% de suas entregas sejam ecoeficientes. Para isso, pretende contar com 500 veículos elétricos circulando pelo país até dezembro. As entregas limpas vão evitar a emissão de mais de 350 toneladas de carbono equivalente entre junho e dezembro.
A iniciativa é bem-vinda, porém uma estratégia de mitigação de impactos sociais e ambientais, para ser eficiente, deve considerar os múltiplos aspectos que envolvem o serviço de entrega e prever a combinação de mais de uma tecnologia.
Smart lockers
Marek Różycki, que foi vice-presidente da Amazon Logistics na Europa e hoje é sócio da consultoria Last Mile Experts, falou com certa ironia sobre isso em um podcast: “Os veículos elétricos são ótimos – exceto na Polônia onde o carvão é utilizado para gerar eletricidade – mas há formas bem mais eficientes de reduzir a pegada de carbono”. Ele se refere à última milha e, para essa etapa da entrega, defende categoricamente o uso dos armários inteligentes.
O principal argumento de Marek é o das falhas nas entregas. “Os armários garantem 99% de entrega na primeira vez e isso significa acabar com o vai e volta, que aumenta o tempo, a quilometragem e as emissões de uma só entrega”.
Ele também pontua que a entrega de uma quantidade de pacotes numa mesma parada é muito mais eficiente – “quase uma entrega B2B” – e destaca que, quando se tem um armário, o local da entrega, em geral, é de mais fácil acesso e estacionamento.
As considerações de Marek Różycki são baseadas em pesquisas. Elas apontam que os smart lockers, em grandes centros urbanos, podem trazer:
- Redução de até 70% nas emissões de gases de efeito estufa;
- Redução de até 70% no tempo de trabalho humano;
- Redução de até 35% nos custos da entrega.
Slippers distance, a “distância percorrida de chinelos”
Se você reparou que eu mencionei “grandes centros urbanos”, você está atento a uma questão ainda muito debatida quando se trata de entrega de última milha. O êxito dos armários inteligentes está intrinsecamente associado à densidade urbana e à localização do e-box em relação ao consumidor.
O polonês Marek Różycki costuma usar um termo curioso quando se refere a esse assunto: slippers distance – seria a maior distância que um consumidor percorreria “de chinelos”, ou seja, de forma corriqueira, sem esforço ou qualquer preparo, para buscar sua encomenda. Nos grandes centros urbanos, essa distância, em geral, fica em torno de 200 metros e não costuma passar de 500 metros.
Quando se discute a redução das emissões de carbono, esse aspecto é relevante, pois, se a pessoa tiver que pegar um automóvel para buscar sua encomenda no armário, os benefícios para o meio ambiente serão menores.
Ainda assim, há que se considerar que os armários ficam no caminho frequentado pelo consumidor cotidianamente e que o percurso seria feito de qualquer forma, por outro motivo que não especificamente a coleta do pacote. Há estudos indicando que, em relação à entrega a domicílio, a redução da pegada de carbono com o uso dos armários ocorre mesmo se metade dos consumidores utilizarem carro para buscar seus pacotes.
Robôs são menos eficientes
Quem também estuda e defende o uso de armários inteligentes na entrega de última milha é Amy Moore, engenheira de planejamento de transporte do Laboratório Nacional de Oak Ridge, no Tennessee, Estados Unidos.
Ela comprovou que a combinação de veículos elétricos e armários de pacotes é mais eficiente, em termos de consumo energético, que os drones ou mesmo os robôs. Em sua pesquisa, os drones economizaram 13% em energia, enquanto os armários de encomendas em combinação com os veículos elétricos economizaram 88% em energia.
Com relação aos robôs, ela diz que eles são mais eficientes do que os drones, pois têm maior capacidade de carga, maior alcance e são menos restritos tanto em termos de regulamentos quanto em trajetórias de voo. Mas sua utilização tem outras implicações: para fazer entregas no quilômetro final em uma área residencial, os robôs precisariam ser transportados para a área, e isso provavelmente exigiria um caminhão. O caminhão precisaria estacionar para a saída dos robôs e depois buscá-los.
A pesquisa de Moore considera que uma rota de entrega típica tem cerca de 120 paradas com cerca de 200 pacotes de vários tamanhos. Segundo ela, isso exigiria cerca de 10 robôs para completar a rota. Provavelmente não caberiam muitos pacotes no caminhão além dos robôs. E ainda há que se considerar as falhas nas entregas feitas pelos robôs. “Com tudo isso, parece que a combinação de caminhão elétrico e armário de pacotes definitivamente consumiria menos que o robô”, disse a especialista ao Transport Topics.
Não é à toa, portanto, que, nas maiores economias do mundo, os smart lockers se proliferam. Na China, essas entregas respondem por mais de 6% do total. Também no Japão e em Cingapura, os armários de pacotes têm sido incentivados pelos governos.
O Japão está subsidiando metade dos custos de instalação de armários em 500 localidades, principalmente estações de trem e lojas de conveniência. Cingapura está planejando um sistema para smart lockers em áreas residenciais. Essas administrações descobriram que a estratégia favorece a mobilidade e a qualidade do ambiente. O cidadão apoia e agradece.
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