As pessoas com deficiência sofrem de falta de acessibilidade desde sempre no Brasil. Apesar de nos últimos anos o tema ter cada vez mais visibilidade (fato para comemoração!), neste momento de pandemia, o cenário de acessibilidade mudou — e mudou para pior. Afinal, além de os recursos básicos já não estarem tão disponíveis, a grande maioria das pessoas com deficiência faz parte do grupo de risco. Por isso, uma das soluções para elas acessarem a produtos e serviços para sobreviver é por meio da internet.
Antes de continuar, é importante eu falar um pouco mais sobre a acessibilidade digital, que está longe de acontecer no Brasil. Explico:
A tecnologia assistiva
Tecnologia assistiva é um termo ainda novo. Surgiu no Brasil em meados dos anos 90, utilizado para identificar todo o “arsenal” de Recursos e Serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência — e, consequentemente, promover vida independente e inclusão.
Ainda complementando com mais informações, quero citar que o Comitê de Ajudas Técnicas (CAT), instituído pela Portaria n° 142, de 16 de novembro de 2006, propõe o seguinte conceito para a tecnologia assistiva: “Tecnologia assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social”.
Acessibilidade Digital, então, é a eliminação de barreiras na Web. O conceito pressupõe que os sites e portais sejam projetados de modo que todas as pessoas possam perceber, entender, navegar e interagir de maneira efetiva com as páginas.
As diversas barreiras encontradas nos sites atingem principalmente as pessoas com deficiência. Ao utilizarem a Web e seus recursos, as pessoas com deficiência ou outras limitações deparam-se com diversos obstáculos. Estes, por sua vez, dificultam e, muitas vezes, impossibilitam o acesso aos conteúdos e páginas. No Brasil, segundo o Censo Demográfico do IBGE de 2010, há aproximadamente 45 milhões de pessoas que apresentam pelo menos uma das deficiências investigadas. Esse número representa 23,9% da população brasileira. Ou seja, um percentual a ser considerado quando discutimos a importância de implementar a acessibilidade nos sítios governamentais (informações do site gov.br).
A pandemia gerou coisas boas (ufa!) para o setor: avanços aos mercados nichados
Diferente de outros mercados, o Social Commerce já tinha espaço há muito tempo por aqui. Isso porque as empresas que promovem a venda destes produtos estão geralmente em grandes capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, entre outros. Com a proporção territorial do nosso país e um mercado pouco mapeado, as empresas encontram dificuldade para definir praças físicas com abrangência nacional. Então, qual seria a solução? O Facebook, primeira ferramenta utilizada para venda através das redes sociais, seguido por Instagram e YouTube.
Empresas como a Mobility Brasil já atendem pessoas de todo o Brasil há 10 anos. Iniciou por meio do Facebook e, agora, com a rede social que permite maior interação, o Instagram. O IGTV ou as Lives transformaram o contato. Ou seja, os clientes podem interagir com uma equipe habilitada para tirar dúvidas sobre produtos, medidas e outras informações comerciais. O mesmo vale para o atendimento via WhatsApp, personalizado e individualizado, olhando a necessidade de cada cliente. Em novembro de 2020 iniciou as vendas no e-commerce, que já faz a empresa ter grandes planos para este ano, embasada no resultado destes últimos meses de operação.
Nichos e a acessibilidade
Mas, para quem conhece o mercado com um pouco mais de profundidade, sabe que alguns nichos dependem de certa customização da plataforma. Produtos ligados à ótica, assim como cadeira de rodas, precisam de prescrição médica, por exemplo. É justamente aí que entram as customizações para atender às peculiaridades do negócio, fundamental para melhor experiência do cliente.
No Brasil, o e-commerce neste segmento tem entre 12 e 15 anos de existência no máximo. Sua evolução, porém, ficou concentrada nestes últimos seis meses. Antes, por conta da quantidade de peculiaridades em seus projetos altamente customizados e a demanda, que é também reprimida (ainda), os projetos eram meio capengas. Não por menos, pois um formulário mais preciso ou a própria acessibilidade digital ficavam só no escopo. Além disso, o MVP forçava tirar pontos mais precisos dos projetos de e-commerces para o segmento. O que é mais importante frisar é que os projetos para estes mercados ficavam invariavelmente mais caros. Sendo assim, por que o custo é tão importante? Porque se lembrarmos do conceito de inclusão e acessibilidade, ter um preço de oferta menor também faz parte dessa análise.
Cada pessoa é única
A inclusão social é o conjunto de medidas direcionadas a indivíduos excluídos do meio social. Isso porque ser por alguma deficiência física ou mental, cor da pele, orientação sexual, gênero ou poder aquisitivo dentro da comunidade, etc. Isso já é conhecido (ou pelo menos deveria). Porém, não tem nada mais claro do que é a inclusão do que esta imagem abaixo. Mas, apesar de a inclusão social querer todos juntos, sabemos que cada indivíduo é único:
Contudo, há iniciativas que abrangem todos os aspectos. Como é o caso da o BB Acessibilidade, solução de pagamento de produtos com tecnologia assistiva via financiamento do Banco do Brasil — que libera um crédito especial. Mas, será que é possível fazer compras usando método de pagamento por este financiamento? Ainda não, mas dá para ter um cálculo à disposição dos clientes para seguir com a documentação através de e-mail, por exemplo. Entretanto, a simulação já está disponível em sites como da Mobility Brasil, que já vem como uma evolução do que tínhamos há pouco tempo atrás.
Mais peculiaridades, menos cliques
Ainda existem produtos que, pela quantidade de preenchimento de informação, deixam os formulários gigantescos. Para ter uma ideia, há produtos com mais de centenas de opções até chegar no produto final. E aí, meu amigo, sabemos que para todo bom UX isso é totalmente inviável. É ainda mais complicado, pois tem informações técnicas, assim como o custo altíssimo por conta da fabricação a partir de um pedido exclusivo e encomendado. Considerando que hoje no Brasil uma cadeira de rodas ativa é de no mínimo R$ 4.500 de investimento, dá pra calcular o risco que um produto com aplicação terapêutica, construído sob encomenda, pode impactar neste negócio.
O que anima é o surgimento de tecnologias complementares, como visto na matéria da Fernanda Weber sobre scanner corporal. Para quem acha que vai servir só para a moda, ouso afirmar que não! A tecnologia cai como uma luva no mercado de cadeiras de rodas customizadas. Afinal, uma cadeira de rodas deve ficar “vestida” com medidas precisas — acentuadas ou suavizadas à cada curva de cada corpo —, dependendo da necessidade postural.
Ou seja, se as implementações melhoraram, as vendas também! O mercado de veículos acessíveis passou por mudanças importantes por conta da demanda de crescimento em vendas deste nicho nos últimos anos. Conhecida por PCD (Pessoa com Deficiência) pelas montadoras, esse tipo de venda atingiu um pico em 2018 — chegando a cerca de 187 mil unidades no 1º semestre, em números preliminares, de acordo com a Associação Brasileira de Indústria, Comércio e Serviços de Tecnologia Assistiva (Abridef). E, como citado no começo, o mercado ganha visibilidade porque cada vez mais a sociedade entende a importância disso, principalmente pela expansão do mercado.