Uma vitrine ao alcance das mãos e que pode ser vista a qualquer momento. Esse tem sido o papel do Instagram para pequenos e médios varejistas voltados ao público feminino, que aproveitam o sucesso da rede social – e o impacto dos dispositivos móveis na vida dos consumidores – para impulsionar os negócios.
O presidente do Conselho de Comércio Eletrônico da FecomercioSP, Pedro Guasti, diz que a quantidade de vendas iniciadas pelo Instagram vem crescendo nos últimos anos porque os pequenos e médios varejistas entenderam melhor o potencial dessa rede social. “Ela é essencialmente voltada para publicação de fotos e vídeos curtos, se tornando uma ferramenta importante para quem trabalha com catálogos de fotos. Nesse meio, se destacam os produtos voltados para o público feminino”, explica.
Apesar da desaceleração da economia brasileira, dados da consultoria E-bit mostram que a categoria moda e assessórios seguiu na liderança em volume de pedidos no comércio eletrônico durante o primeiro semestre de 2015. Para muitos, parte do sucesso do segmento tem relação com a consolidação dos dispositivos móveis (smartphones e tablets) como um forte canal de vendas. O levantamento revela que, nos primeiros seis meses do ano, 47% dos consumidores compraram, em média, quatro vezes por meio do smartphone. Cerca de 8% citaram as redes sociais como principal influenciadora no momento da compra.
Jacqueline Silva, proprietária do e-commerce de roupas e assessórios femininos LookStore, conta que, com apenas dois anos de existência, a loja cresceu cerca de 300%. Ela associa esse sucesso ao uso da rede social. “O Instagram é responsável por 80% das vendas que faço. Em dois anos, conseguimos mais de 500 mil seguidores e, atualmente, são realizados mais de 1.800 pedidos por mês, enviados para todo o Brasil, mesmo em época de crise”, afirma.
Jacqueline utiliza a rede para a divulgação dos produtos. Todos os dias ela faz postagens de roupas e calçados. O grande truque, diz, é publicar fotos com modelos reais e composições bem pensadas – combinação de peças. Esse tipo de foto se assemelha muito com as postagens que blogueiras de moda fazem. Grande parte do público feminino busca nas redes sociais referências para composição de um visual. Os varejistas montam os “looks” para despertar o desejo de consumo e depois os colocam à venda.
O Brasil é o segundo maior público do Instagram, atrás apenas dos Estados Unidos. Segundo a rede social, atualmente há cerca 29 milhões de usuários ativos no País. A própria empresa se define como um espaço para pessoas que buscam inspiração visual. Por isso, recentemente lançou um pacote de serviços para que marcas menores possam criar anúncios e campanhas publicitárias.
Luciana Cremonezi, coordenadora de planejamento e conteúdo na Infracommerce, empresa de gestão de e-commerce, acredita que o consumo a partir do Instagram é uma tendência que permanecerá. Mas, para ela, mais do que um canal de vendas, a rede social tem se mostrado um meio para gerar contato direto e franco com o consumidor final.
Diferente das grandes marcas e corporações, os pequenos e médios têm a vantagem de obter maior controle sobre o próprio perfil e sobre as mensagens enviadas pelos seguidores no Instagram ou qualquer outra rede social. Isso porque, apesar de as vendas pela internet terem dado um salto significativo nos últimos anos, uma coisa não mudou: o cliente ainda exige um bom atendimento e as redes sociais dão essa possibilidade ao pequeno e médio. Respostas rápidas fazem a diferença na hora de vender.
Para Guasti, o momento é favorável para quem deseja ampliar os negócios usando as redes sociais, em especial o Instagram. Segundo o especialista, a aderência massiva dos brasileiros a essas redes – o País é o terceiro no mundo em quantidade de usuários – abriu oportunidades para as empresas investirem em um canal aberto e completamente novo. Mas, para ter sucesso, é preciso saber utilizá-las.
Atenção redobrada
Antes de estrear no Instagram ou em qualquer outra rede, o vendedor deve ter em mente que tipo de cliente pretende atingir. É sempre bom fazer uma pesquisa de campo para ver a forma como os concorrentes se comunicam com seus clientes. Uma vez que o canal é aberto, a atenção deve ser redobrada.
Quando um cliente faz um questionamento, a rapidez na resposta é essencial. As reclamações não devem ser apagadas. Segundo Guasti, o recomendável é tentar levar o seguidor para um canal reservado (seja telefone ou e-mail) para identificar o problema e pensar na melhor ação para resolvê-lo. “Assim, é possível evitar que o consumidor continue expondo o problema na página. Não existe erro zero. O importante é ser transparente”, orienta.
O varejista pode optar por algum investimento para tentar um retorno mais satisfatório. No chamado ‘Post Patrocinado’, por exemplo, o dono da página paga um valor à rede social para alcançar certa quantidade de pessoas. O custo não é fixo: varia de acordo com a quantidade de pessoas que deverão ser atingidas. O Instagram afirma que 97% das campanhas mensuradas por ela teriam gerado resultados significativos no aumento da lembrança da marca.
Com o tempo, pode ser que surja outra rede social para ocupar o posto de “queridinha” dos internautas. Jacqueline, da LookStore, diz que procura estar onde o público está. “É verdade que essas mídias mudam e, com o surgimento de novos canais, algumas acabam ‘morrendo’, mas o importante é ter mente aberta para migrar assim que surgir outra rede em ascensão, desde que o seu cliente já esteja lá”, diz.
Na onda do Instagram
Com a ascensão do Instagram surgiram várias startups que oferecem algum tipo de serviço vinculado à rede social, como a ShopGram, criada pelo empreendedor Gabriel Monteiro para otimizar as vendas originadas nesse canal.
Baseado na experiência vivida por sua mãe, que promovia pelo Instagram os produtos que comercializava, Monteiro pensou que seria mais fácil se existisse uma ferramenta automatizada, por meio da qual os clientes pudessem ‘curtir’ as publicações e efetuar o pagamento em um só lugar. A ShopGram faz exatamente isso.
A ferramenta é uma alternativa para quem ainda não tem um site próprio de e-commerce. A empresa funciona como uma centralizadora de lojas e cobra 10% sobre cada venda, já incluída a tarifa de cartão de crédito. Para utilizá-la, o vendedor deve sincronizar o perfil da loja no Instagram com a plataforma.
Após a sincronização, o varejista tem a opção de usar a própria plataforma para postar fotos. As imagens publicadas por meio da ShopGram são automaticamente redirecionadas ao Instagram. O cliente que curtir uma foto postada por meio da plataforma automaticamente adiciona o item em um carrinho de compras dentro da Shopgram. A plataforma tem um mecanismo que busca o histórico de ‘likes’ do consumidor – assim, ele apenas escolhe o que mais gostou e finaliza a venda.
Hoje a plataforma conta com 1.500 lojas cadastradas. Recentemente, foi adquirida pela companhia de negócios eletrônicos B2W, dona dos sites Submarino e Americanas.com. Apesar da venda, Monteiro diz que continuará gerenciando a ShopGram e espera contar com a experiência da B2W para que a plataforma se torne o maior marketplace para pequenos e médios varejistas do País. O empreendedor ainda não definiu se o modelo de negócio terá alteração, mas espera espera dobrar a quantidade de clientes em 2016.
Fonte: DCI