Este ano, o e-commerce chegou a um momento decisivo. As empresas nunca coletaram tantos dados, mas também nunca enfrentaram tanta pressão para transformar essas informações em ações claras, rápidas e com impacto direto no resultado.

A competição cresceu, o comportamento do consumidor mudou e a inteligência artificial passou a fazer parte das operações diárias, mesmo que muitos negócios ainda estejam aprendendo a utilizá-la.
Segundo a Pesquisa Cielo sobre uso de dados no varejo, 73% dos estabelecimentos já utilizam dados para tomar decisões, principalmente nas áreas de Vendas, Marketing, Experiência do Cliente e Finanças.
Isso mostra um avanço consistente, mas não necessariamente maduro: muitas empresas trabalham com fontes variadas, análises esporádicas e ferramentas básicas que limitam o potencial analítico.
Em paralelo, as projeções da Gartner no estudo Over 100 Data, Analytics and AI Predictions Through 2030 apontam que dados e inteligência artificial não serão apenas ferramentas de apoio, mas elementos estruturais de produtividade, eficiência e competitividade.
Ao mesmo tempo, a consultoria alerta que empresas que não estruturarem suas bases de dados e seus processos de governança terão dificuldade de extrair valor do uso de IA, especialmente em retorno sobre investimento (ROI) e confiabilidade dos resultados.
Maturidade crescente, mas com limitações estruturais
Os dados revelam um cenário em transição. A Cielo mostra que 34% dos varejistas analisam dados apenas uma vez por mês. Esse intervalo, que antes poderia ser suficiente, hoje compromete a capacidade de reagir a mudanças rápidas em demanda, concorrência, preço e logística.
Além disso, 55% dos varejistas indicam que o maior desafio é conscientizar equipes sobre privacidade e segurança de dados. Isso demonstra que, apesar do avanço tecnológico, a base operacional – que envolve pessoas, processos e cultura – segue sendo a principal barreira para evoluir.
Ao mesmo tempo, a Gartner destaca que muitas empresas estão adotando IA antes de terem uma estrutura sólida de dados. A consultoria projeta que menos de 10% das organizações que adotarem IA alcançarão o ROI esperado até 2025 devido à falta de processos maduros e alinhamento estratégico.
Esses números combinados revelam que o varejo já coleta dados em grande volume, mas ainda avança lentamente na etapa mais relevante: transformar essas informações em vantagem competitiva e eficiência operacional.
IA generativa: de tendência à infraestrutura
A Pesquisa Cielo confirma que o varejo brasileiro já percebe a relevância da IA generativa: 49% dos varejistas acreditam que essa será a tecnologia de maior impacto no futuro próximo. Esse movimento é coerente com o cenário global.
As previsões da Gartner também apontam como a inteligência artificial deve se expandir ao longo dos próximos anos, influenciando diretamente a forma como empresas estruturam suas operações.
– Até 2026, 75% das empresas usarão IA para gerar dados sintéticos: informações criadas artificialmente para simular situações reais sem usar dados verdadeiros de clientes. Isso permite testar modelos, treinar sistemas e melhorar previsões com mais segurança e menor risco de exposição de informações sensíveis.
– Até 2027, mais de 40% das atividades realizadas em ambientes digitais contarão com apoio de IA: a automação passa a assumir tarefas operacionais repetitivas, como organização de informações, análises iniciais e suporte a processos internos, reduzindo o tempo gasto em rotinas manuais e aumentando a eficiência.
– Ainda em 2027, mais da metade dos modelos de IA utilizados pelas empresas será específica de cada setor: no varejo, essa especialização melhora a precisão de análises e recomendações, já que os modelos passam a considerar padrões e comportamentos próprios do e-commerce.
– Até 2028, 60% dos serviços de tecnologia utilizados pelas empresas terão IA integrada como parte central.
Essas projeções reforçam que a adoção de IA será contínua, crescente e cada vez mais ligada à eficiência operacional. Para o e-commerce, isso significa maior velocidade, menor custo e mais capacidade de decisão nos próximos anos.
No e-commerce, essas tendências significam que a IA deixará de ser uma ferramenta complementar e passará a integrar decisões e fluxos centrais: desde a configuração de campanhas e atendimento automatizado até a previsão de vendas e gestão de estoque.
Fatores que vão definir competitividade entre 2025 e 2030
A leitura combinada dos dados da Cielo e das projeções da Gartner permite identificar quatro áreas que terão impacto direto na competitividade do e-commerce brasileiro até 2030.
Organização e segurança dos dados
Privacidade e qualidade dos dados não são apenas obrigações legais: são requisitos para operar com eficiência. E o varejo admite essa dificuldade. A Cielo mostra que 55% das empresas ainda lutam para conscientizar equipes sobre privacidade e boas práticas.
Sem dados confiáveis e bem cuidados, ferramentas de automação e personalização geram resultados inconsistentes, e se tornam ainda mais críticos à medida que a IA amplia sua presença.
Análise de dados com maior frequência
Embora o uso de dados tenha aumentado, 34% dos varejistas ainda analisam informações mensalmente. No contexto atual, isso significa perder oportunidades ou reagir tarde demais. A análise contínua, seja diária ou semanal, permite:
– Corrigir rapidamente campanhas com baixa performance;
– Ajustar preços com base na concorrência e no giro;
– Reduzir rupturas e excessos de estoque;
– Identificar tendências antes da concorrência.
O varejo digital exige velocidade, e isso só é possível com leitura frequente dos dados.
Automação como base da produtividade
A Gartner indica que mais de 40% das atividades do ambiente digital serão automatizadas com AI até 2027. No contexto do e-commerce, isso significa automatizar tarefas como:
– Criação de relatórios;
– Classificação de produtos;
– Atendimento inicial;
– Alertas de desempenho;
– Testes de campanhas;
– Ajustes de catálogo.
Essa automação traz dois benefícios claros: reduz o custo operacional, porque a equipe deixa de gastar tempo com atividades mecânicas, além de aumentar a qualidade das decisões. Afinal, a automação não substitui pessoas, reorganiza o trabalho para que mais tempo seja dedicado ao que realmente gera valor.
Personalização real e inteligente
Atualmente, segundo a Cielo, as principais áreas que já utilizam dados são:
– Promoções (37%);
– Relacionamento com clientes (36%);
– Precificação (36%).
Com IA, essas ações se tornam mais precisas. Regras estáticas são substituídas por modelos que entendem padrões de comportamento, ajustam ofertas automaticamente e aprendem com cada interação. Personalização deixa de ser algo “ideal” e passa a ser uma necessidade competitiva.
Perspectiva final: o desafio não é ter dados, é usá-los bem
Entre 2025 e 2030, o grande diferencial competitivo do e-commerce brasileiro não será a quantidade de dados coletados, mas a capacidade de transformá-los em decisões práticas.
Tanto a Cielo quanto a Gartner apontam o mesmo caminho: empresas que estruturarem governança, aumentarem a frequência de análise, investirem em automação e adotarem IA de forma responsável terão mais eficiência, competitividade e previsibilidade. A corrida por dados já começou, e os próximos cinco anos mostrarão quem consegue transformar informação em resultado.