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O espírito do SEO

Esse não é um artigo para comentar alguma técnica inovadora de SEO, nem para comentar sobre a última atualização do Google, aliás, creio que em todos esses anos trabalhando com Internet, mais especificamente com SEO, é a primeira vez que eu escrevo um artigo assim.

Não espero que seja meu melhor artigo, nem o mais polêmico, mas sim que possa fazer com que as pessoas pensem, não só no SEO, mas para onde a Internet evolui e no que acontecerá no futuro, principalmente com a área de Search (afinal, muita gente anda matando o SEO por aí!).

Um caso recente

Todos os dias a vivência através da Internet acaba nos ensinando alguma coisa, passamos boa parte de nossas vidas aqui (se você está lendo esse texto, provavelmente está conectado à Internet), nesse mundo feito de zero e um. Assim, através dela tiramos dúvidas, compramos, enviamos presentes aos nossos pais, namoramos e nos relacionamos com pessoas próximas ao nosso círculo social, só que de uma forma diferente de antes da existência da Internet, pois ela possibilitou a interação com círculos sociais que antes estavam distantes de nós.

Um exemplo disso é que você dependia da opinião de pessoas próximas (parentes, amigos, colegas de trabalho) sobre a qualidade de um produto e se eles não o conhecessem, você ficaria à mercê da sorte. Hoje, com a possibilidade de se comunicar com pessoas longe do seu círculo social, é possível localizar pessoas com informações não encontradas através dos seus círculos sociais mais próximos.

“A Internet acaba sendo um dos pilares da nova estrutura social baseada em redes de longa distância” (CAVALCANTI; NEPOMUCENO, 2007).

Através dessa estrutura percebemos mudanças em nossa cultura, no nosso dia a dia. Você assiste televisão com o celular do lado (ou diretamente nele), relatando o que acontece em seu programa favorito através do Twitter. Logo depois você tira foto de seus filhos que brincam com algum jogo no iPad, e se comunica com eles através do Facebook pedindo para irem tomar banho. Trata-se de uma mudança que é visível a todos.

Recentemente no aeroporto percebi algo relacionado. Um casal com dois filhos esperava um voo perto do portão de embarque em que eu esperava o meu. Comecei a prestar atenção nas crianças de 11 ou 12 anos que procuravam em um tablet algo especifico relacionado a um livro. Comentavam sobre o site do autor, sobre o livro, enquanto passavam os dedos sobre o aparelho. Falavam sobre procurar determinada informação no Google, depois olhar no Facebook de alguém sobre o que tinha achado do livro, Twitter de pessoas que comentaram sobre o livro, enquanto ao mesmo tempo pediam opinião aos pais, e assim seguia a história. Ou seja, o processo de encontrabilidade de uma determinada informação hoje se torna muito mais sofisticado do que o de alguns anos atrás. No final desse artigo, volto a comentar sobre essa história.

Como era o SEO

Meu primeiro contato com SEO foi antes de começar a trabalhar só com SEO e em uma época onde o processo de encontrabilidade de informação na web era muito mais “quadrado” do que hoje, pois dependia basicamente de uma estação fixa (um computador em uma mesa) e um mecanismo de busca. Eu trabalhava em uma empresa como responsável pelos seus sites, nNa época (2003/2004), era difícil para uma pequena empresa que acabara de lançar seu site conseguir acessos, principalmente se não investisse nisso.

O investimento em um site, por si só, já era considerado um luxo. Sendo assim, os sites eram quase como cartões de visitas com pouca atratividade e interesse, principalmente aqui no Brasil. Pois bem, nessa época eu percebi que trabalhar a favor de ser encontrado e não de encontrar pessoas poderia me ajudar muito a conquistar mais visitantes para o site e, por consequência, investimentos para essa fonte, pois seria valorizada. Foi aí que me interessei em saber como os sites apareciam nos mecanismos de busca e através de algumas técnicas de SEO com pouco valor ao usuário, consegui minhas primeiras posições nas listagens de busca.

A verdade é que nessa época não era preciso se dedicar muito para aparecer nos mecanismos de busca. E é relevante comentar que nessa época (quase 10 anos atrás) o conhecimento dos empresários no Brasil sobre o que é o englobado de Search Marketing (SEO e PPC) também quase não existia.
Como é o SEO hoje

Ao contrário da minha experiência com SEO no passado, o SEO de hoje é totalmente voltado para as pessoas. Não existe mais aquele SEO de robô que servia somente para fins de posicionamento do site. Inclusive a própria visão do cliente sobre o SEO já é diferente.
Eu sempre disse que o importante é fazer aquilo que as pessoas desejam e, assim, os clientes virão. Justamente por isso, nunca me importei muito com mudanças no algoritmo da busca orgânica do Google e outros mecanismos, afinal, eu já conseguia entender e passar para as pessoas à minha volta que era importante prever essas mudanças. Sempre procurei direcionar a lógica da estratégia justamente onde cada vez mais os mecanismos de busca davam valor: os seres humanos.

O “SEO espiritual”

O “SEO espiritual”, que é nada mais do que um termo que uso para explicar quais os rumos da lógica de humanizar o SEO, é aquele que tem por objetivo fazer com que o site tenha uma espécie de engajamento com o estado de espírito do consumidor. Exemplos: qual o estado de espírito de uma pessoa que está comprando um apartamento? Qual o estado de espírito de alguém que está comprando um celular? Há sentimentos e momentos presentes, portanto uma relevância a se considerar.

Quem conhece conceitos como o ZMOT , por exemplo, sabe que há vários momentos antes de o consumidor começar de fato a realizar uma conversão. Essa forma de pensar o SEO precisa considerar o consumidor tanto dentro como fora do site, de modo que reflita o planejamento onipresente de uma marca na rede.

Em 2010 escrevi um artigo em meu site chamado “Os sites irão acabar?” onde comentei sobre a hipótese de no futuro os sites não existirem mais, na verdade os sites como conhecemos hoje, ou seja, representações únicas do seu negócio, como reafirmo no trecho a seguir:

“…os sites não deixarão de existir no sentido real da palavra, serão ótimas estratégias de apoio. Sendo assim, pense em uma operação onde site, sites de redes sociais e dispositivos móveis se integrem de modo a formar um único ambiente de presença online”

Lembra da história da família no aeroporto que contei há pouco? Pois bem, pense que a comunicação com o usuário está ficando cada vez mais descentralizada e isso se reflete nos dias de hoje, onde cada vez mais se prospecta visitantes fora do site, em fontes que querem que o usuário fique lá a maior parte do tempo possível. Dessa forma, cada vez mais existirão meios de se comprar sem que seja necessário estar dentro do e-commerce especifico, pois seu perfil em sites de redes sociais permitirá isso. Trata-se praticamente da mesma quebra de paradigma onde antes a única fonte de consumo era a loja física e hoje é possível comprar online.

Então não basta se posicionar em boas colocações somente no Google, mas viabilizar a presença da marca dentro de sites como Facebook e outros sites de redes sociais. O foco aqui é a encontrabilidade e ela existe independentemente da origem (como as redes sociais que existem muito antes dos sites de redes sociais), termo esse que nasce da recuperação de informação, que nós fazemos desde que tomamos conhecimento da quantidade de informações existentes à nossa volta.

Imagem 02: o que orbitava a marca no ambiente digital até o final do século passado e início desse era somente seu site.

Imagem 03: o que orbita a marca hoje é muito mais do que o próprio site.

O SEO com foco no estado de espírito do consumidor tem como prioridade as pessoas, não os robôs dos mecanismos de busca. Na verdade, como todos os SEOs do mundo, mecanismos de busca como o Google também parecem estar correndo atrás de algo: o comportamento do ser humano. Cada vez mais o mecanismo se molda a como nós procuramos as coisas. Às vezes acerta, às vezes erra, como nós, humanos.

Lembra da história no inicio desse artigo? A verdade é que o SEO de hoje, como qualquer estratégia de Search, precisa prever não somente as palavras-chave importantes, mas qual o momento em que as pessoas estão buscando as informações na internet, quem está perto e onde. Assim, o site também precisa ser preparado e desenhado para isso, pois a navegação dentro dele afetará sua credibilidade (KALBACH, 2009, p.35).

Naquele momento da busca, estará o usuário (ou usuários) em um aeroporto através de um tablet procurando a informação que levará para a conversão? O site abre rápido? Navegar através de um iPad, por exemplo, é totalmente diferente de um notebook. Se eu decidir comprar, vou conseguir fazer isso rápido antes de ter de entrar no avião? Se eu procurar no Facebook ou qualquer outro site de redes sociais as pessoas estarão comentando sobre o produto ou serviço. O site incentivou isso? Está toda a sua estratégia online no mesmo estado de espírito do seu cliente? Acredite, não é fácil entender e planejar isso, principalmente quando a estratégia digital de um cliente e sua operação está dividida em muitas empresas. Integrar e comunicar a importância desse estado de espírito é um desafio e é preciso muita dedicação. Mas é isso que acaba influenciando o sucesso não só do SEO, mas também de outras siglas que compõem todo o escopo de marketing digital de um cliente.

O SEO tem épocas. Determinada época se falava muito em tecnologia, outra época se falava muito em link building, depois falaram que o conteúdo era a grande sacada (é mesmo), mas creio que se deve considerar a usabilidade e aspectos sociais (e se engana quem pensa que eu falo de questões sociais somente incluídos no mundo online) com mais carinho.

Concluindo

Encontrar o que necessita vai além das técnicas de SEO. É preciso pensar no que vem antes e qual a relação do SEO com o passo anterior, e isso é possível. Essa é a mensagem que eu quero passar. Portanto, antes de iniciar qualquer projeto de SEO observe as pessoas, pois é fato que cada vez mais os profissionais que trabalham com áreas de conhecimento relacionadas à internet se afastam das pessoas e se aproximam das ferramentas, justamente quando o mais importante é a proximidade com o entendimento das pessoas sobre sites, mercados e as mudanças na sua cultura. Números e ferramentas são complementos.

Elabore estratégias verdadeiras para ajudar as pessoas. Isso comprovadamente é notado por elas e pelos mecanismos de busca e faz parte de se engajar o estado de espírito do consumidor e dos novos valores do marketing onde há uma total relação entre necessidade e valores, onde a proposição de valor é funcional, emocional e espiritual (nesse sentido do estado de espírito alinhado com o consumidor) (KOTLER; KARTAJAYA; SETIAWAN, 2010).

Referências

CAVALCANTI, Marcos; NEPOMUCENO, Carlos. “O conhecimento em rede: como implantar projetos de inteligência coletiva”. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
FORMAGGIO, Erick. “SEO – Otimização de Sites – Aplicando técnicas de otimização de sites com uma abordagem prática”. Rio de Janeiro: Brasport, 2010.
KALBACH, James. “Design de navegação web: otimizando a experiência do usuário”. Tradução Eduardo Kessler Piveta. Porto Alegre: Bookman, 2009.
KOTLER, Philip; KARTAJAYA Hermawan; SETIAWAN, Iwan. “Marketing 3.0: as forças que estão definindo o novo marketing centrado no ser humano”. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2010.
Prominence-Interpretation Theory: Explaining How People Assess Credibility Online
How Do People Evaluate a Web Site’s Credibility?

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Artigo publicado originalmente no site da dp6.