O empreendedorismo se transformou, nos últimos anos, em uma grande febre em todo o mundo. De um fenômeno praticamente desconhecido há algumas décadas, ele passou não só a ser conhecido como também amplamente estudado, reconhecido como um dos grandes motores da economia, e incentivado por governos, ONGs, universidades e instituições de todo tipo. As jovens empresas fundadas por empreendedores têm até um nome específico, que as diferencia de pequenas empresas: “start-ups”.
Junto com o reconhecimento da importância e o estudo vêm as histórias de sucesso, os casos inspiradores de pessoas que criaram grandes empresas (Google e Facebook, para citar dois exemplos recentes) e ganharam uma grande quantidade de dinheiro fazendo isso. Essas histórias são muito importantes, pois incentivam outros jovens a também montarem suas empresas e perpetuar o ciclo do empreendedorismo.
No entanto, a nossa tendência, especialmente quando estamos contando histórias é de romantizar o passado e simplificar, ou até mesmo ignorar completamente, os momentos duros e as decisões difíceis, e de deixar de fora a importância de fatores externos no empreendedorismo. Nos artigos, livros e filmes sobre os empreendedores de maior sucesso, eles são mostrados como gênios com uma visão, que sabem exatamente onde estão indo e aonde querem chegar, e que trabalham incessantemente para atingir seus objetivos.
Essa visão romantizada é um desserviço para o empreendedorismo em diversos níveis. Em primeiro lugar, ela faz parecer que empreender é algo fácil, que você só precisa de uma boa ideia para montar a sua empresa e alcançar o sucesso. Nada poderia estar mais longe da verdade. Empreender é trabalho duro. Quem monta sua própria empresa deve estar pronto para virar muitas noites, abrir mão de tempo com a sua família e tempo de lazer, ter muitas dúvidas, e enfrentar grandes dificuldades. Fazer parecer ser empreendedor é um caminho de vida fácil significa desvalorizar o trabalho envolvido no processo.
Além disso, essa romantização tem transformado o empreendedorismo em uma verdadeira “corrida do ouro”, onde jovens procuram o caminho de abrir suas próprias empresas simplesmente porque acreditam que assim vão ficar ricos rapidamente. A verdade é que a maioria das start-ups fecham as portas em alguns poucos anos, muitas delas por conta de fatores que não tem nada a ver com a qualidade da ideia do empreendedor ou com o empenho do mesmo. Elementos externos, como o ambiente econômico, ou até mesmo a sorte, são tão importantes quanto o trabalho nos primeiros anos das empresas.
Tudo isso pode fazer parecer que eu sou contra o empreendedorismo. Muito pelo contrário: não troco a decisão que tomei de abrir a minha própria empresa por nada, e acredito que foi a melhor decisão que já tive. Também admiro muito outros empreendedores, e adoro conhecer suas histórias. Só acho que a glorificação do empreendedor que a sociedade vem fazendo leva muitas pessoas a entrarem nessa onda sem pensar e sem se preparar, e tira o valor e o mérito de quem consegue alcançar o sucesso.