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Código 2D: uma revolução silenciosa no varejo

Por: Eduardo Terra

Presidente da SBVC, Conselheiro de Empresas e Palestrante

Eduardo Terra é presidente da SBVC -Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, membro do Conselho de Administração de diversas empresas de varejo. Atua como professor de cursos de Pós-Graduação e MBA. Realiza palestras em eventos nacionais e internacionais de varejo e é autor de diversos livros e artigos sobre varejo e mercado de consumo.

Existem transformações que são como elefantes: é impossível deixar de perceber que elas estão vindo. Outras, porém, se parecem com formigas: um olhar desatento não vê sua chegada, mas, quando notamos, estamos cercados por todos os lados. Essas são as mudanças mais difíceis de perceber e, por isso mesmo, aquelas onde as oportunidades são maiores.

A transformação digital do varejo e da indústria de consumo é um processo em andamento contínuo. Não é nem uma corrida de 100 metros, nem uma maratona. Está mais para a vida: você começa, aprende, continua aprendendo e, em determinado momento, percebe que precisa continuar evoluindo constantemente. Por isso, a transformação digital avança cada vez mais e passa a incorporar conceitos e áreas que não estavam no radar.

Um bom exemplo dessa evolução constante é uma das “transformações formiga” mais importantes das últimas décadas: os códigos de barras. Trata-se de uma tecnologia de infraestrutura que viabiliza uma série de aplicações. Tente imaginar, por exemplo, o controle dos estoques sem o uso dos códigos de barras dos produtos e das caixas. Ou ainda, como seria o checkout da loja sem o “bip” de cada item.

Todos os dados que alimentam os sistemas de analytics do varejo e da indústria se baseiam, em última instância, nos códigos de barras. Mas nem sempre prestamos atenção a eles, assim como não reparamos na luz, na conexão de internet ou no ar que respiramos. A não ser que eles nos faltem. Sim, o código de barras é essencial a esse ponto.

Sua evolução no mundo atende pelo nome de código 2D, de bidimensional. Enquanto um código tradicional (aquele que é escaneado no checkout) tem uma linha de informação, o código 2D contém dados na horizontal e na vertical, armazenando até 7.089 caracteres numéricos, ou cerca de 100 vezes mais conteúdo que um código linear. Isso viabiliza uma série de aplicações que exigem mais informação:

Dados sobre a origem dos produtos

Que tal informar para os clientes onde cada item foi produzido e o caminho percorrido na fabricação à loja? Essa é uma das aplicações mais evidentes dos códigos 2D. A capacidade de armazenar mais dados permite incluir novos campos e informar mais detalhes da origem de cada produto, o que, com o aumento da atenção aos aspectos ESG, passa a ser essencial.

Aplicações complexas

Em áreas como o mercado farmacêutico, o uso de códigos de barras 2D como o GS1 DataMatrix aumenta a segurança ao longo de toda a cadeia de suprimentos, facilitando o rastreamento de produtos e viabilizando o recall de itens. É fácil notar a vantagem dessa tecnologia em segmentos como o alimentar, em que a qualidade dos produtos é um ponto crítico.

Informações complementares

Por registrar mais informações, um código 2D pode trazer informações como a validade dos itens, número de lote e data de produção. Esses são dados relevantes para automatizar diversos controles do varejo. Com base na data de validade e no controle das vendas, por exemplo, um varejista pode programar e disparar automaticamente ações promocionais para aqueles produtos, facilitando a gestão e evitando perdas.

O futuro do varejo passa pelos códigos 2D

Quando pensamos em um varejo interativo, em que as lojas físicas digitalizam suas experiências e o varejo digital se alimenta do que acontece no mundo físico, fica claro que os códigos 2D funcionam como esse “conector omnichannel”. E isso já está acontecendo – é uma daquelas revoluções que, como formigas, acontecem sem que nos demos conta.

Pense, por exemplo, nos QR Codes, que são a modalidade de códigos 2D que faz a interface com os consumidores. Os celulares estão preparados para ler QR Codes e direcionar para conteúdos online, como páginas com mais informações sobre aquele produto ou o link do e-commerce. Os consumidores, por sua vez, já estão acostumados a acessar os QR Codes e engajar conforme seu interesse, de forma autônoma.

A indústria e o varejo podem (e devem) acelerar o uso dos códigos 2D. Para a indústria, essa é uma agenda de trade marketing sem os custos de trade: a implantação de um QR Code na embalagem do produto tem um custo marginal no longo prazo e permite construir uma interação importante com os clientes, informando sobre a origem, a fabricação e os diferenciais dos produtos.

Essa medida pode ser tão simples quanto construir uma página institucional para cada item do portfólio, trazendo o benefício de gerar valor ao longo do tempo. Quando o produto passa a “conversar” com o cliente a partir da embalagem, o relacionamento da marca com o consumidor se torna ainda mais profundo.

Já o varejo pode aproveitar o benefício dos códigos 2D de diversas formas. O cardápio em um QR Code é uma realidade nos restaurantes, mas é possível avançar, trazendo informações sobre cada produto, agregando promoções especiais, impulsionando o uso do aplicativo da loja e aumentando as possibilidades de interação com os consumidores.

Essa é uma agenda em evolução em todo o mundo. Um dos caminhos mais evidentes de mudança do varejo é sua transformação de um “armazém de produtos” para um “gestor de relacionamentos”, uma mudança que depende de fazer o varejo gerar mais conteúdo e entender as interações dos clientes para oferecer melhores soluções. Os códigos de barras 2D terão um papel fundamental nessa transformação.

Mas essa é uma mudança silenciosa. Como toda tecnologia estrutural, o código 2D não gera manchetes ou previsões que brilham os olhos. Mas, em pouco tempo, ficará muito claro que os investimentos em 2D geram benefícios exponenciais para varejistas e indústrias.

Por isso, a hora de arrumar a casa é agora. Varejistas e indústrias precisam gerar conteúdo relevante sobre os produtos e serviços que oferecem, usando QR Codes e outros formatos de códigos 2D para aumentar a interação com os consumidores e com seus parceiros de negócios. Esse é um caminho que acelera a transformação das empresas e cria negócios que eliminam as fronteiras entre físico e digital.