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Armazenagem como alavanca estratégica do negócio

Por: Guilherme Kobinger

Consultor e gerente de projetos da Peers Consulting & Technology. Formado em Engenharia Elétrica pelo IMT – Escola de Engenharia Mauá com especialização em gestão de negócios pelo IBMEC – SP. Possui mais de 18 anos de experiência nas áreas de planejamento e gestão da estratégia, gestão de estoques, logística interna e planejamento e controle da produção.

Nos últimos tempos, estruturas de armazenagem se transformaram em um elo importantíssimo na estratégia das companhias. O avanço dos estoques, ou seja, aproximá-los do mercado consumidor, permite mais agilidade e um nível de serviço mais elevado, resultando em entregas e produtos mais rápidos na mão do consumidor.

Novos polos de distribuição (condomínios logísticos) vêm ganhando o interior do Brasil e saindo do eixo Rio-São Paulo-Minas. A complexidade na cadeia (criação de elos adicionais) precisa ser muito bem avaliada, e uma alternativa é o desenvolvimento de pilotos, que permitem testar essas mudanças em escala controlada.

Movimentos mais fortes, como abertura de novos centros de distribuição, demandam planejamento de longo prazo e revisão de malha logística detalhada. Entretanto, movimentos mais curtos e menos drásticos podem ser uma alternativa rápida, como a abertura de estruturas de crossdocking e transit points próximos do mercado consumidor. Dessa forma, é possível testar novos modais e formas de atendimento.

Estruturas como o crossdocking e transit point minimizam a parte mais custosa do processo de armazenagem, o picking, pois nesses casos ele é feito no CD, as cargas já chegam previamente separadas e apenas uma reorganização é feita nesses pontos.

Entre todos os processos de uma operação de armazenagem (recebimento, armazenamento, separação, picking), o picking é o mais relevante em termos de custo para a operação e pode chegar a constituir 55% do custo total da operação.

Foco da operação de armazenagem

Com um investimento e custo de operação tão alto, a excelência na operação não pode ser uma exceção. Uma operação de armazenagem precisa trabalhar com o foco em:

1) Fluxo contínuo de materiais
2) Processos padronizados e monitorados,
2) Sincronismo de processos e recursos
4) Entregas baseadas no consumo

Executando o trabalho dessa maneira, é possível otimizar recursos, reduzir necessidade de estoques, reduzir retrabalhos, otimizar a área ocupada e aumentar a confiabilidade junto a áreas parceiras.

Devido ao dinamismo do mercado que passa por constantes mudanças e novas necessidades, prioridades do negócio (clientes prioritários, campanhas promocionais, esgotamentos de produtos ou concorrentes com restrições de fornecimento) precisam e devem ser sinalizadas, sempre que possível, com antecedência para que as operações de armazenagem estejam prontas para se reorganizar e absorver as novas demandas.

Reorganização

A capacidade de reorganização mitiga riscos e evita o impacto nas operações dentro dos CDs. No recebimento, o alinhamento contínuo e periódico das prioridades permite que todo o fluxo de recebimento seja planejado (adiantamentos e postergações). Assim, é possível receber e processar a entrada dos produtos e dos insumos de uma forma eficiente e sem gerar atrito com fornecedores.

A reorganização das janelas de recebimento de última hora e uma possível ampliação do horário de recebimento, além de gerar custos adicionais com horas extras, podem gerar insatisfação dos fornecedores fazendo com que alguns abandonem a entrega no dia e retornem em outra data. Um segundo problema gerado é a superocupação da área de recebimento, já que a falta de espaço dificulta a descarga do material e sua conferência.

Na armazenagem, a visibilidade da volumetria a ser entregue e a ser expedida permite a organização da área de armazenamento, definindo as provisórias, reagrupando os materiais de acordo com sua necessidade de uso e otimizando a ocupação dos locais de armazenagem. Nesse momento, pode-se até gerar um movimento para antecipação do descarte de itens vencidos, reprovados, obsoletos etc.

Em muitos casos, a capacidade de armazenamento opera acima da ocupação ideal. A falta de visibilidade das ações previstas pela operação pode levar a uma situação de superlotação e desorganização da área de armazenagem. Tal condição gera movimentações desnecessárias de produtos e insumos, aumentando os riscos de avarias e dificultando o processo de separação.

Para a separação e a expedição, as prioridades de atendimento a um pedido de um cliente específico, abastecimento da linha de produção ou de uma filial, sempre que alinhadas com a operação com antecedência, interferem pouco na produtividade do processo.

Atendimento a pedidos de última hora podem gerar atrasos no embarque dos pedidos de clientes já separados (invariavelmente esses pedidos ficam parados em áreas de expedição aguardando um próximo envio), paradas de linha por falta de material para produção e/ou ordens de produção separadas, aguardando em corredores dos almoxarifados e desabastecimento momentâneo de filiais ou lojas.

Com estruturas de armazenagem posicionadas, agora próximas ao consumidor, operação rodando sem problemas, comunicação entre as áreas fluindo, processos sendo executados e dia a dia funcionando sem grandes problemas, é imprescindível voltar as atenções para os próximos passos.

Em um momento de estabilidade, é preciso preparar-se para o futuro com pensamento a médio e longo prazo. Os mercados e os consumidores sempre demandarão novas capacidades, fazendo-se necessário preparar a organização para atender a essas necessidades. Alguns pontos de atenção devem ser considerados, principalmente o preparo para adotar práticas de sustentabilidade na sua operação, para customizar pedidos no momento do picking e para alterar a malha rapidamente em caso de ruptura.

Por mais que essas tendências ainda não sejam requisitos do consumidor, é necessário introduzi-las nos planejamentos para o futuro. Para isso, o melhor caminho é buscar um alinhamento entre as áreas e os desafios estratégicos, desdobrados em metas e projetos, normalmente discutidos e construídos em times multidisciplinares usando metodologias de planejamento e gestão conhecidas no mercado.

É importante lembrar que projetos para adequação das estruturas e processos de armazenagem normalmente tem altos investimentos (Galpões logísticos, estruturas de armazenagem, sistemas automatizados, equipamentos, monitoramento dos processos) e um tempo de implementação mais alongado e, por isso, o planejamento deve começar o quanto antes.