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Vendas online aumentam quantidade de lixo

Por: Eduardo Mustafa

Graduado em 'Comunicação Social - Jornalismo' com experiência em negócios, comunicação, marketing e comércio eletrônico e pós-graduado em 'Jornalismo Esportivo e Gestão de Negócios'. Foi editor do portal E-Commerce Brasil, do Grupo iMasters (2015 /2016), e atualmente é executivo sênior de contas na Gume

Reflexo do aumento do poder aquisitivo da população, do exército de chineses que engordaram as filas da chamada nova classe média e da maior concentração de internautas do mundo, o aumento exponencial das vendas online e das entregas expressas fez explodir a quantidade de lixo produzida na China. De acordo com um relatório da Cankaoxiaoxi.com, as encomendas expressas no país bateram 14 bilhões em 2014. E, pelas contas do governo, devem ultrapassar a barreira dos 50 bilhões até 2020.

Os serviços de entregas em geral somaram quase 21 bilhões no período. Trata-se de um salto de 48% em relação ao ano anterior, segundo o Correio da China. Prova disso é a quantidade de tuk-tuks, bicicletas e motos elétricas deslocando-se frenéticas, em todos os sentidos pela capital chinesa, repletas de caixas e envelopes, por vezes amarrados por fora das caçambas. Em alguns casos, são tantos que o motorista se vê obrigado a espalhar embalagens no meio da calçada para triá-las antes de entregá-las aos destinatários.

Nada melhor para uma economia que está disposta a manter o pé firme no acelerador. Para o Banco Mundial, no seu relatório “What a was Asia” (“Que desperdício, Ásia”, em tradução livre) é a confirmação do aumento do poder aquisitivo e da vontade do consumidor não só de comprar mais, como também variado. A má notícia é que, somente ano passado, 16,95 bilhões de metros de fita adesiva e 9,9 bilhões de caixas foram usados para garantir as entregas. Em entrevista recente à imprensa chinesa, o especialista Zhu Lei, da Qingdao, afiliada do Instituto de Comunicações Gráficas de Pequim falou ainda em 2,96 bilhões de bolsas de algodão, 8,26 bilhões de sacolas plásticas e 2,97 bilhões de divisores, protetores e plásticos-bolha usados pelas empresas de entrega em 2015.

US$ 25 bilhões com lixo sólido por ano
Não se trata de um fenômeno exclusivamente chinês, mas da Ásia em geral, onde se gastam US$ 25 bilhões para lidar com lixo sólido por ano. É exatamente nesta parte do mundo que o e-commerce cresce a passos largos, bem acima da média mundial, e deverá se manter assim por muitos anos. Hoje, o lixo sólido no continente é de cerca de 760 mil toneladas por dia, mas a expectativa é que aumente mais 1,8 milhão de toneladas diárias, e boa parte disso será consequência dos novos pedidos feitos pela internet.

Na China, não há um sistema nacional para regular a embalagem de mercadorias compradas on-line — e vende-se de tudo: de insetos a sopas, passando por frutos do mar congelados, bicicletas e geladeiras. Mas é crescente a preocupação dentro e fora do governo. Ao GLOBO, a associação de oportunidades de negócios verdes (GBO, na sigla em inglês), baseada em Pequim, diz que é cedo para revelar detalhes, mas admitiu que muitas empresas os tem procurado em busca de soluções para uma estratégia logística mais verde.

A gigante da internet Alibaba — a equivalente chinesa do e-Bay — confirmou que está sendo preparada uma verdadeira revolução para o sistema de entregas. A rede Rookie, conglomerado de logística fundado pelo presidente da companhia, que tem outras sócias no negócio, anunciou que o uso de caixas recicláveis já está em fase de testes em Xangai. O consumidor encomenda, recebe, assina o papel e devolve a caixa. A estratégia verde para entregas vai muito além. Outras 20 cidades também terão um projeto-piloto, entre elas Pequim. A Rookie também está investindo no desenvolvimento da logística com novos veículos movidos a energia elétrica. Gradualmente, devem substituir os mais de 230 mil caminhões usados pelas parceiras da empresa.

Em Cingapura, uma porta-voz da Agência Nacional do Ambiente (NAE, na sigla em inglês), órgão governamental, disse ao GLOBO que novas medidas têm sido adotadas para conter o aumento do lixo. Desde 2002, está em vigor o Acordo de Embalagens de Cinpagura, estabelecido entre governo e centenas de empresas que se comprometeram a mudar o design e material que usam para reduzir a quantidade de lixo de embalagens, que hoje equivale a um terço do total de lixo produzido no país. Eles também criaram um logotipo para que as empresas que fizeram o esforço ostentem nos seus produtos, uma campanha educativa e um banco de dados com regras e exemplos de boa conduta, assim como uma legislação mais rigorosa. Em 2014, a redução foi de 5,7 mil toneladas.

US$ 3,5 trilhões em vendas online
Os Estados Unidos e a Europa Ocidental ainda são as únicas regiões do mundo em que o comércio on-line supera o físico. Mas é na Ásia que se espera a maior taxa de crescimento daqui para frente. De acordo com a e-Marketer, as vendas pela internet somarão US$ 3,5 trilhões nos próximos cinco anos. Isso significa que a fatia do comércio virtual no total mundial vai passar de 7,3% para 12,4% no período. A Ásia vem se mantendo em um crescimento anual acima de 30%.

O Ministério da Proteção do Meio Ambiente vem apertando as regras para a manipulação de plástico no país. Recentemente, estipulou operações duras de fiscalização para evitar a importação, manipulação ou reciclagem ilegal de plásticos trazidos do exterior para a China, o que era muito comum até pouco tempo atrás.

Fonte: O Globo