Empreendedor deve mesclar as operações para oferecer ao cliente a comodidade de se comprar quando quiser
O empresário Tico Sahyoun é um veterano da indústria de moda. Filho do criador da Bobstore, Raphael Sahyoun, Tico trabalhou na empresa como diretor criativo e criou a Los Dos, versão masculina da marca. Entre 2010 e 2011, as duas empresas foram adquiridas pelo grupo Inbrands. Agora, ele retorna aos negócios com uma nova empresa, a Mini U.S., marca de moda infantil para meninos e com uma pegada roqueira.
O negócio chegou ao mercado no início de dezembro do ano passado, como um comércio online. Mas no planejamento de Tico, esse era apenas o primeiro passo. “Eu não acredito em e-commerce sozinho. Ele faz parte de um conjunto de ações que envolve a montagem de lojas físicas e a venda no atacado para outros lugares do Brasil”, afirma. Hoje, além de estar em 62 pontos de venda de 12 estados, a marca tem uma loja física no bairro de Moema e pretende abrir outra no começo do ano que vem. “As vendas do offline já superam a do site e é aqui que vamos investir mais”, afirma o empresário.
Segundo o secretário executivo da camara-e.net, Fernando Ricci, muitos consumidores ainda sentem a falta de se ter um mostruário, de poder tocar e comparar produtos, ver se cabe. “Isso é especialmente verdade nos segmentos de moda e assessórios. O que acontece é que o cliente gosta primeiro de olhar a variedade. Ele passa por inúmeras lojas, observa os produtos, faz sua seleção e depois realiza a compra. A internet facilita muito esse primeiro passo”, afirma o especialista.
A diferença entre varejo físico e online é cada vez menor na cabeça do consumidor, o que tende a reforçar o movimento de mesclar as duas operações. “É uma demanda dos próprios clientes”, afirma o professor da Business School São Paulo, Alessandro Saade. “É o que estamos chamando de varejo multicanal ou omnichannel: estar presente no físico, no site, no smartphone, televisão, e-mail. Isso serve para dar mais conveniência ao seu cliente. Ele pode estar na rua e comprar seu produto no quiosque ou passar por ele e depois decidir comprá-lo pelo celular”, explica.
Estratégia semelhante prepara o criador da Dieta Bistrô, Raimundo Lima Júnior. Ele fundou há três anos um e-commerce de entrega de comida saudável que faturava R$ 60 mil por mês até dezembro de 2013, mas que deseja crescer para R$ 200 mil até o fim do ano. Para isso, a empresa vai oferecer refeições de sua marca em pontos físicos da grande São Paulo.
A ideia, segundo Júnior, é dar maior comodidade ao cliente. “O nosso mercado cresce rápido, mas quando chegamos haviam apenas opções congeladas. Inovamos ao trazer refeições embaladas à vácuo, que aguentavam até uma semana na geladeira”, explica. “O problema é que elas precisam ser pedidas com 48h de antecedência no site. Se o cliente vê que estão acabando e esqueceu de pedir mais, ele pode agora comprá-las prontas. No fundo, o cliente quer praticidade.”
Na contramão dos seus companheiros de setor, a Bebê Boutique não tem planos de abrir um ponto físico. Segundo Renato Pereira, um dos sócios fundadores da empresa, administrar um e-commerce com o compromisso de entregar no dia seguinte já é trabalho suficiente. “Até pensamos em ter uma loja conceito para fazer publicidade da marca. Mas hoje temos tantos canais de comunicação com os clientes que preferimos explorar esse potencial primeiro.”
O omnichannel é tendência do varejo, afirma a diretora executiva do E-Commerce Brasil, Vivianne Vilela. “É só ver como grandes nomes do varejo e até da indústria estão apostando nisso.” O lado ruim é que a integração pode trazer dor de cabeça. “A gente ainda não tem uma parte tributária e fiscal que integre esses dois mundos. O governo precisa melhorar bastante para atingirmos o nosso potencial.”
Por: Marcelo Osakabe para o Estadão