O Latam Retail Show 2015, fórum que acontece entre 24 e 27 de agosto, em São Paulo, recebeu Abilio Diniz nesta terça-feira, 25, no auditório principal. O empresário de 78 anos, esportista convicto, presidente do Conselho de Administração da BRF e considerado um dos maiores varejistas do Brasil, explicou os dilemas da vida a partir da crise familiar e também das dificuldades como empresário.
Abilio ingressou na empresa do pai aos 20 anos, como gerente de vendas, e com as técnicas aprendidas nos Estados Unidos fundou, em 1959, o primeiro supermercado do grupo. “O momento atual fala-se muito de crise, mas o que podemos dizer é que essa crise está instalada no mundo, inclusive na China. Eu já atravessei muitas dificuldades, por isso vim falar de gerenciamento de crise. Não quero que vocês acham que essa é a única maneira, pois foram crises que eu vivenciei, então pode ser diferente para você”, explica Diniz.
As minhas crises
“Na infância e juventude eu era o saco de pancada dos meninos, pois era gordinho. Aí já passei uma crise, talvez foi ali que surgiu a minha garra com o esporte que levo na trajetória da minha vida”, confidenciou Abilio.
O empresário lembrou que na década de 80 passou por uma grande crise familiar, mas que conseguiu superar. “Nos anos 90, o Pão de Açúcar quase desapareceu, mas conseguimos novamente passar por tudo isso. Já em 2011, quando eu procurei fundir o Pão de Açúcar com o Carrefour, entrei em um conflito muito duro com os sócios franceses. Além disso, a minha decisão de saída foi complicada, pois não poderia deixar tudo que fiz na vida, mas consegui sair”, relembra Diniz.
Abilio lembra que a saída do Pão de Açúcar (onde trabalhou mais de 50 anos) foi dura, mas no momento que identificou o tamanho da empresa e que a cultura corporativa eram seus valores pessoais tudo ficou mais aceitável.
As crises do Brasil
“O que estamos vivendo agora não é nem de longe o pior momento do Brasil”, acredita Diniz. O empresário relembrou a crise institucional de 1964 e a crise dos anos 80, com alta inflação, choque do petróleo e balanço de pagamentos.
“Teve ainda a transição do regime militar e o governo Collor. A inflação e diversas outras coisas foram crises complicadas. Essa crise de 2015 eu considero ceticismo. Uma crise de confiança e fundamentalmente política. Na minha visão, os fundamentos da economia estão sólidos. Se superarmos a crise política vamos superar esse momento”, desabafa Diniz.
Crise é oportunidade
“Nas crises enxergamos dois tipos de pessoas: as que sentam na calçada e choram e as que vendem lenços. Nós estamos vendendo muito frango e lenço”, brinca Abilio. O empresário apresentou nove dicas para os participantes usarem no dia a dia e conseguir enxergar os momentos de crise de maneira positiva.
1. Ter espírito de sobrevivência;
2. É importante sempre olhar a crise como um todo. Precisamos olhar os vizinhos e tudo mais. Não podemos nos fechar no nosso mundo e não olhar as coisas acontecendo no Brasil;
3. Não reclame da crise, pois é um convite à inércia. Se for só para reclamar é melhor ficar quieto;
4. Olhe para o espelho e não para a janela: faça uma avaliação do que fez errado e que pode mudar. Não adianta reclamar daquilo que não temos controle;
5. Saiba antecipar para sair mais forte. Não é adivinhar a crise, mas sentir o pulso para medir as circunstâncias do mercado para sair melhor;
6. Saia da crise com planos;
7. Não tome decisões antes do tempo e nem à noite, pois existem os fantasmas da madrugada, tudo é mais complicado. Leve a sua decisão o mais longe que puder, tome a decisão no limite do prazo, pois as coisas podem mudar;
8. Tente enxergar a crise como uma oportunidade, sempre;
9. O Brasil é mais forte que suas crises e seus governantes. Eu sempre cresci nas crises. Se você tiver minimamente preparado, você pode sair bem melhor do que entrou.
Depois da palestra, o empresário respondeu algumas perguntas da plateia do Latam Retail Show.
Plateia: Quem está capitalizado sempre vai enxergar a crise pelo lado positivo. Como você enxerga a crise para as pequenas e médias empresas?
Abílio Diniz: Você estar descapitalizado não tem a ver com a crise, nem com pequenas e médias empresas. Inclusive, no Grupo Pão de Açúcar tivemos uma crise nos anos 90 e eu nunca culpei o governo, pois sabia que era reflexo da fragilidade que o GPA tinha. Não acho que as pequenas e médias empresas sofrem mais. A fragilidade não tem nada a ver com a crise.
Plateia: As projeções mostram para uma retomada econômica em 2016. Em que momento você espera uma inversão da economia?
Abílio Diniz: Eu não tenho possibilidade de dizer com exatidão, mas essa crise é muito mais política do que econômica. Se tiver tranquilidade política a crise econômica vai se resolver mais fácil. O que tem é uma crise de confiança, quando retomar o investimento as coisas voltam, pois é assim que se cresce.
Plateia: Crise é para Inovar ou ficar quieto?
Abílio Diniz: Não adianta inovar por inovar. Eu mais copiei do que inovei pra ser sincero. Quando quero fazer alguma coisa eu faço um benchmarking no mundo para fazer algo parecido. Os gurus dizem que copiar é muito mais fácil. Inovar sempre é arriscado, no momento de crise é ainda mais difícil.
Veja vídeo do 2º dia da Latam Retail Show 2015: https://www.facebook.com/GsmdGouvea/posts/1150416018305652
Por Eduardo Mustafa