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Decisão sobre livros eletrônicos confere vantagem à Amazon

Por: Redação E-Commerce Brasil

Equipe de jornalismo E-Commerce Brasil

Jeff Bezos, fundador da Amazon, adora desordenar mercados. Nesse aspecto, ele deve estar tendo um verão maravilhoso. O negócio dos livros, que costumava viver no passado quase como se fosse um ramo do comércio de antiguidades, está aberto a disputas.

Uma juíza federal decidiu na quarta-feira que a Apple se envolveu em um conluio ilegal com cinco ou seis das maiores editoras norte-americanas a fim de aumentar os preços no incipiente mercado de livros eletrônicos.

Apple deve lutar em caso de e-books para evitar outras derrotas judiciais

A decisão foi tomada dois dias depois que da renúncia do presidente-executivo da Barnes & Noble. A empresa anunciou que não pretende substituí-lo, o que sinaliza que a maior cadeia de livrarias físicas dos Estados Unidos pode ser imediatamente dissolvida.

O veredicto no caso da Apple podia parecer inevitável, e a juíza já havia indicado previamente qual seria sua decisão, mas ainda assim enfatiza de forma clara até que ponto as companhias convencionais do setor de livros foram completamente deslocadas.

Apenas a Amazon, liderada por Bezos, parece ter um plano. E ele o está executando com uma competência que enfurece os concorrentes e recompensa seus acionistas.

“Vivemos um momento no qual o poder cultural está sendo transferido ao controle de novas forças”, diz Joe Esposito, consultor editorial. “Deus não permita que o governo dite a nossos empreendedores o que fazer, mas temos uma questão de política social aqui. Não queremos que as empresas se tornem um buraco negro que absorve toda luz exceto a delas”.

IMPACTO

O caso da Apple, aberto pelo Departamento da Justiça, terá pouco impacto imediato sobre a venda de livros. As editoras haviam aceitado um acordo quanto à queixa há tempo considerável, protestando que nada haviam feito de errado, mas afirmando que não tinham condição financeira de enfrentar o governo.

Mas deve demorar bastante para que elas voltem a tentar tomar controle de seu destino com tamanha audácia. Atrair a atenção do governo uma vez causou problemas suficientes; fazê-lo duas vezes poderia resultar em um desastre.

“O Departamento da Justiça involuntariamente causou consolidação ainda maior nesse setor em um momento no qual consolidação não é necessariamente uma boa pedida”, disse Mark Coker, presidente-executivo da Smashwords, uma distribuidora de livros eletrônicos.

“Se você deseja um ecossistema vibrante com múltiplas editoras, múltiplos métodos de publicação e múltiplos varejistas de sucesso, dentro de cinco, 20 ou 50 anos, o acontecido esta semana representa um passo atrás”.

GANHADORA

Algumas pessoas no setor editorial suspeitam que a Amazon tenha estimulado o governo a iniciar o processo. A companhia nega, mas ainda assim emergiu como maior ganhadora.

Enquanto a Apple será punida –a indenização ainda não foi decidida– e as editoras saíram chamuscadas, a Amazon fica livre para exercer seu domínio sobre os livros eletrônicos e para continuar a ganhar participação de mercado nos livros físicos. A companhia de varejo eletrônico se recusou a comentar, na quarta-feira.

“A Amazon não está na maioria das manchetes, mas todos os grandes acontecimentos no mundo dos livros envolvem a Amazon”, disse Paul Aiken, diretor executivo da Authors Guild, uma união de escritores.

“Se houve conluio das editoras, o objetivo era contestar o domínio da Amazon. Os problemas da Barnes & Noble talvez derivem do erro da empresa quanto ao tablet Nook, da mesma forma que a falência da Borders pode ter sido acelerada por erros de gestão, mas a posição precária da empresa é a mesma de qualquer varejista que pague aluguel e tenha de enfrentar um concorrente virtual dotado de amplos recursos financeiros”.

Os executivos da Amazon não gostam muito de debate público, mas argumentam que desordenar os mercados terminará resultando em mais dinheiro para mais autores e em oferecer mais livros de forma mais ampla a um público maior, e a preços mais baixos. Como discutir contra isso?

Esse modo de ver as coisas, porém, não parecia confiável a muita gente, na quarta-feira.

Os detratores da Amazon argumentam que a empresa não é uma organização sem fins lucrativos ou uma entidade pública, mas uma companhia que compete vigorosamente e cujos investidores esperam faturar muito dinheiro em breve.

Aiken diz que “as armas do Departamento da Justiça parecem estar apontadas na direção errada”.

BARNES & NOBLE

Mas a preocupação mais premente do setor é o destino da Barnes & Noble. Quando a Borders fechou as portas, dois anos atrás, analistas afirmaram que o fechamento de suas 400 lojas havia trazido uma consequência inesperada: o ritmo de crescimento dos livros eletrônicos começou a cair, porque os leitores não podiam mais examinar os novos títulos nas lojas da Borders antes de pedi-los na Amazon.

Os livros eletrônicos, em outras palavras, não eram uma tecnologia mágica que permitiria eliminar toda a infraestrutura existente no mercado editorial. Precisavam do ecossistema existente.

“Se todas essas redes de livrarias operadas por grandes empresas desaparecerem, subitamente haverá muito menos espaço dedicado a exibir grande número de títulos”, disse J. B. Dickey, proprietário da Seattle Mystery Bookshop.

“Provavelmente veremos queda continuada nas tiragens, talvez um número menor de títulos publicados, e as grandes editoras de Nova York se limitarão aos best sellers conhecidos. O que significa que mais autores novatos e de vendas médias terão dificuldade para ficar em catálogo e mais escritores terão de bancar a publicação de seus livros em papel –ou mais provavelmente lançarão seus trabalhos como livros eletrônicos”.

Tudo isso parece sombrio. Talvez o único consolo para aqueles que temem o poder da Amazon é o conhecimento de que todas as companhias um dia chegam a um pico de crescimento que não poderão exceder, por mais improvável que isso pareça durante sua ascensão.

Esposito lembra que 30 anos atrás foi publicado um livro chamado “The Media Monopoly”, que expressava preocupação sobre o poder excessivo da cadeia de jornais Gannett e das três grandes redes de TV norte-americanas.

“É um livro que parece muito datado, hoje”, diz Esposito.

Por: Folha de S. Paulo