Empresas reproduzem a sensação de compras em um shopping – a maioria dos sites deixa os usuários encontrar e seguir os amigos, lojas ou marcas preferidas
Fazer compras na internet é mais fácil do que em um shopping center – desde que você saiba exatamente o que deseja comprar. O problema começa quando não se sabe o que se quer.
A internet ainda não conseguiu duplicar a sensação de mundo real de um shopping, onde os compradores podem entrar e sair de várias lojas, olhar com facilidade pilhas de roupas, estojos de joias e prateleiras de utilidades domésticas. E online, os amigos não podem entrar junto com você no provador para ajudá-lo a evitar uma compra equivocada.
Agora, porém, muitos empreendedores voltaram a atenção em reproduzir melhor tais experiências na internet, criando uma categoria de comércio eletrônico conhecida vagamente como compra social. Investidores estão abrindo as carteiras a essas novas iniciativas e até mesmo alguns dos maiores protagonistas do segmento, tais como Amazon e eBay, lançaram os próprios recursos sociais.
Basicamente, os sites de compra social compilam artigos estilosos de sensibilidade parecida de lojas da internet e simplificam o ato de compartilhar com amigos quais itens gostam e compram. Muitos desses sites adotaram a interface de prender imagens em um quadro de avisos virtual popularizado pelo Pinterest, uma das redes sociais mais populares.
Deena Varshavskaya, fundadora e CEO do site de compra social Wanelo, aberto por ela em 2010, disse que sites como Amazon, eBay e Etsy deixaram as pessoas à vontade com o ato de comprar coisas online, tanto de grandes varejistas quanto de lojinhas. Contudo, à medida que mais empresas e lojas migravam para a internet, ficou mais difícil encontrar itens legais, estilosos e peculiares, abrindo uma porta para os empreendedores.
“O estado atual do comércio é muito fragmentado”, ela garantiu. “As lojas esperam que você descubra seu site sozinho, sabendo o que é relevante e interessante.”
Os sites de compras não vendem apenas um tipo de artigo – pelo contrário, parecem uma feira livre onde as pessoas podem olhar as barracas sem pressa. Logicamente, a ideia também é encontrar uma maneira de lucrar com os milhões de pessoas que procuram um jeito melhor de comprar na internet.
Entre esses sites estão Polyvore, Svpply, Fancy, Fab e Wantworthy. Eles variam vagamente entre si, mas têm o mesmo DNA. Depois que o usuário cria uma assinatura, o que costuma ser gratuito, os sites apresentam um coleção de artigos, baseados em uma seleção escolhida a dedo ou naquilo que os outros membros compraram ou gostaram recentemente.
Além disso, a maioria dos sites de compra social deixam os usuários encontrar e seguir os amigos e lojas ou marcas preferidas, criando um feed similar ao dos do Instagram, Twitter ou Facebook. O feed pode ser preenchido com novos artigos que gostariam de comprar.
Veronica Gledhill, 29 anos, editor de The Cut, blog de moda, afirmou que sites como o Wanelo recuperaram a diversão de passear no shopping com as amigas, atividade que costumava fazer na juventude.
“Na última vez que fui fazer compras no shopping com amigas eu ainda era adolescente”, ela disse. Na internet, “comprar é uma experiência isolada, só que você ainda quer ouvir uma opinião”.
Sites de comércio eletrônico com recursos sociais vêm acumulando um histórico irregular entre os usuários, tanto por práticas questionáveis quanto por promoções pagas. O Beacon, recurso antigo do sistema de publicidade do Facebook que anunciava compras nas páginas das pessoas, enraiveceu usuários o suficiente para a empresa tirá-lo do ar. A Blippy, empresa novata que publicava as compras das pessoas em um feed público, despareceu pouco depois da estreia em 2009.
Porém, segundo Gene Alvarez, analista da Gartner, os sites de compras sociais recentes são voltados à geração mais jovem de compradores – usuários que gostam de ver o que está na moda entre outras pessoas com gostos similares. Ainda segundo ele, o crescimento da internet visual e a popularidade de sites cheios de imagens como Snapchat, Vine, Tumblr e Instagram também estão influenciando o visual dos sites de comércio eletrônico.
“Assim que começam a seguir, começam a comprar”, Alvarez declarou a respeito dos usuários. “É uma recomendação, mas não é automático. É uma recomendação de um amigo e não de um algoritmo.” De acordo com o analista, a força dessa influência não pode ser subestimada.
Por exemplo, o Wanelo deixa um usuário contar aos amigos sobre uma grande descoberta clicando em um botão para publicar o artigo no site. Quando os usuários decidem comprar o item no site, como uma de suas camisas coloridas ou sapatos, eles são redirecionados à empresa que oferece a venda. O Wanelo ganha uma comissão, basicamente uma tarifa de descobridor.
Alguns anos atrás, investidores estavam começando a entender a promessa da compra social. Ao fazer sua apresentação a várias dezenas de investidores em 2012, Varshavskaya lutou para fechar uma rodada de US$ 2 milhões para financiar a jovem empresa.
Este ano, no entanto, a empresa “não teve problema algum” para atrair a atenção dos investidores, ela contou em meio a risadas. Embora a companhia novata diga não estar ativamente levantando dinheiro, investidores ainda a cortejam, enviando bolinhos e presentes para adoçar a proposta. “Eles ficaram sabendo pelas filhas”, disse Varshavskaya. Em março, a empresa levantou US$ 11 milhões, colocando o valor da empresa em US$ 100 milhões.
A Wanelo tem mais de dez milhões de membros – principalmente mulheres, informa a empresa, e muitos adolescentes, um dos públicos mais cobiçados pelo varejo online. Mais de 200 mil empresas e marcas têm contrato com a Wanelo.
Diversos outros sites também atraíram investimentos significativos, incluindo o Fancy, espécie de lista de desejos de coisas interessantes à venda na internet. A empresa conseguiu US$ 53 milhões, em julho, da American Express, e algumas celebridades, tais como o ator Will Smith.
Grandes sites de comércio eletrônico também vêm correndo atrás da tendência. Em agosto, a Amazon lançou o recurso Amazon Collections, permitindo que as pessoas vejam o que outros usuários gostaram, salvaram em uma lista de desejos ou compraram recentemente. Em setembro do ano passado, o eBay comprou um dos mais elegantes sites de comércio social, o Svpply.
O Pinterest, a imensamente popular rede social que permite às pessoas compartilharem imagens da internet, claramente foi uma fonte de inspiração para muitas dessas empresas iniciantes. Contudo, a empresa, avaliada em aproximadamente US$ 3 bilhões, comunicou no passado que não estava interessada em lucrar com os itens que as pessoas juntavam no site.
Nos últimos meses, no entanto, a Pinterest parece ter mudado de postura. Em maio, a empresa lançou o recurso “Rich Pins”, permitindo às lojas incluírem informações sobre onde e como adquirir artigos pelo site.
Hiroshi Mikitani, fundador e CEO da Rakuten, empresa japonesa de comércio eletrônico e firma de investimento, disse que as empresas norte-americanas estavam finalmente começando a perceber que o futuro do comércio lembra mais um mercado, onde as pessoas podem fazer tarefas ao mesmo tempo, como comprar vinho para um banquete, logo depois de terem pegado um vestido. “Também precisávamos disso na internet”, ele afirmou.
Mikitani, cuja empresa fez um investimento de US$ 100 milhões no Pinterest, em maio, fez uma comparação com um bairro de compras badalado, mas para a internet. “Você não precisa ir a Tóquio ou à rua principal. Dezenas de milhares de lojas podem oferecer” essa mesma experiência de compra.
Por: IG Economia