Não podemos perder nenhuma oportunidade de aprender com as circunstâncias que nos rodeiam, e não poderia ser diferente com as Olimpíadas, maior evento esportivo do planeta, que acontece durante as próximas semanas em nosso país. E não existe segmento de mercado que necessite mais entender com clareza o pensamento da sociedade de consumo do que o varejo.
E se o público brasileiro está sendo inundado por acontecimentos esportivos, competições acirradas, demonstrações inesgotáveis de superação, e exemplos de capacidade acima dos limites normais, certamente sua visão de tudo será afetada.
O brasileiro sempre foi coadjuvante, mas agora é convidado ao protagonismo, sempre foi feliz se ganhasse que fosse uma única vez, ou simplesmente participar, agora será exigido que faça bonito, que seja perfeito, que demonstre que aqui quem manda somos nós. Já sabemos que acontecerão grandes feitos e grandes decepções, mas o que aprenderemos disso tudo?
As Olimpíadas não são o maior evento do planeta à toa, não reúne centenas de países à toa, nem reúne os maiores atletas do planeta à toa… quem parar para analisar vai aprender muito com tudo isso! Aqui vão algumas dicas… fiquem atentos e aprendam:
A competição não espera o melhor momento de cada um, todos têm que estar prontos no momento em que ela acontecer
Todos nós já ouvimos frases como “não chegou na competição no auge da sua forma física”, “não chegou no seu melhor momento”, “não conseguiu ter uma preparação perfeita”, etc. Esse tipo de frase é desculpa antecipada para um iminente insucesso, ou prenúncio de um revés.
No varejo temos muito disso, do trainee ao CEO, há desculpas sobre o fato de que a empresa não está preparada para o crescimento, preparada para a oscilação do mercado, preparada para queda nas vendas, etc. A tradução disso na verdade é falta de planejamento, falta de previsibilidade, falta de conhecimento do mercado, e no caso bem específico do varejo online, falta de conhecimento do consumidor digital.
Uma tecnologia nunca terá data para acontecer e se tornar realidade no consumo de massa, você precisa entender exatamente o movimento evolutivo, e estar pronto quando a mesma se tornar relevante, e com isso aproveitar o melhor dela, e se tornar referência na mente do consumidor digital, ou seja, medalha de ouro.
Os amadores, os fracos são eliminados rápido, ou se avançarem um pouco mais, não superam os primeiros grandes desafios
Parece óbvia essa afirmativa, mas incrível como ainda há executivos e empresas entrando no varejo online sem qualquer qualificação, ou com conhecimento muito básico sobre o mercado digital, por isso ainda vale o alerta. É um mercado caro para amadores, e se o revés for muito traumático para a empresa, pode gerar uma negativa profunda a tentar novamente entrar no mercado digital, o que certamente matará em definitivo essa empresa no futuro. Infelizmente, você leitor, ao ler esse texto, já deve estar lembrando de alguns exemplos.
Não incorra esse grave erro de entrar nesse mercado sem conhecimento, terceirizando tudo, inclusive a estratégia. Se aprofunde em conhecimento, ou se cerque de executivos que comprovadamente conhecem o mercado, a possibilidade de vitória será bem maior, ou de pelo menos uma posição no pódio.
Uma história de sucesso não define seu sucesso na atualidade
Foi difícil ver o choro do nosso grande nadador César Cielo, campeão Olímpico, ao descobrir que não iria defender o Brasil em mais uma Olimpíada, ainda mais no seu próprio país. Nessa hora que percebemos que uma história de sucesso não significa sucesso sempre.
Estou há 15 anos no mercado digital, e sei disso como ninguém, cada case que desenvolvi – Shoptime, Comprafácil, Walmart, Rihappy, Origin5 – foram momentos de reinvenção, onde tive que colocar em prática a máxima de que a única certeza que temos no mercado digital é a constante mudança, o que nos cobra de tempos e tempos um olhar novo sobre negócios, consumidores, e estratégias.
O mercado digital penaliza quem não se reinventa, e condena quem vive de historias. Seja difícil ou não, reinvente-se, pois o mercado digital não é e nunca será estático.
A base de qualquer treinamento é a repetição na busca por perfeição
A maior vantagem de trabalhar com tecnologia é poder testar sempre, repetir cenários, mudar intensamente, até alcançar o máximo do resultado. Os grandes sites mundiais possuem inúmeras versões betas de paginas, funções, sistemas, etc., ou seja, ao mesmo tempo que os usuários tem acesso ao que de melhor a empresa conseguiu desenvolver, essas empresas continuam treinando (desenvolver, testar, errar, acertar) novas tecnologias, e novas formas de apresentá-las.
Como sempre digo, se o Google testa o tempo inteiro… quem somos nós para não fazê-lo? Então seguir o exemplo dos grandes atletas olímpicos para gestão do seu e-commerce faz muito sentido, equipes que gostem de se superar, buscar a perfeição, testar e aplicar novas estratégias, certamente trarão melhores resultados.
O concorrente não serve para você copiar, mas para entender onde precisa fazer diferente
Muitos executivos de outros mercados têm a visão de que o concorrente precisa ser aniquilado, batendo de frente com ele e destruindo-o, seja porque tem o melhor preço, o melhor ponto de venda, a melhor distribuição, produto superior, etc. No mercado digital seu concorrente não é tão óbvio assim, e às vezes a forma de superá-lo não é fazer melhor a mesma coisa, mas fazer diferente, reinventar um processo, uma tecnologia, um modelo de negócio.
Ou você acha que os criadores do Uber se inspiraram nas cooperativas de táxi espalhadas pela cidade, e aprenderam a superá-las? Não, eles reinventaram o modelo, usando tecnologia. Ou os israelenses desenvolveram o Waze depois de analisar a exaustão um aparelho de GPS? Não mesmo.
A inovação é o caminho mais curto e inteligente para vencer
Ano após ano a tecnologia tem sido aliada cada mais importante de atletas em busca da perfeição, desde de trajes tecnológicos, dispositivos que alertam sobre exaustão de partes específicas do corpo, dados completos sobre a saúde em tempo real, dispositivos para correção detalhada de exercícios, postura, posição do corpo, analise de performance, etc. Algo que humanamente seria impossível ser percebido, e consequentemente, alcançado pelo mais habilidoso e dedicado atleta. É uma forma inteligente e inovadora de vencer.
O varejo online brasileiro sofre muitas vezes o temor da inovação, acreditando que sua massa de consumidores não adota novas tecnologias tão rapidamente, ou às vezes vai além, considerando que algumas inovações não são do perfil do seu consumidor. Com isso relutam em testar, duvidam de possíveis resultados, não investem em inovação e formação de novos consumidores. Quem inova cria a cada dia seu próprio mercado.
Publicado originalmente em: https://www.linkedin.com/pulse/o-que-olimp%C3%ADadas-podem-ensinar-ao-varejo-online-roberto-wajnsztok?trk=v-feed&trk=hp-feed-article-title-share