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Gigantes da tecnologia enxugam as despesas

Por: Lincoln Fracari

Fundador e diretor executivo do Grupo China Link

Fundador e diretor executivo do Grupo China Link. Especialista e consultor na área de negócios com a China e Ásia, empresário, investidor, escritor e palestrante. Formado em Administração pela Universidade Paulista e especializado em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas.

Com certeza você já ouviu falar sobre o dito popular que diz “quanto maior a altura, pior a queda”. O ano de 2023 definitivamente não está acontecendo conforme o previsto por especialistas do cenário econômico, que previam voos altos no setor tech. Indo contra isso, o que vemos é uma sucessão de demissões em massa e abandono de projetos já consolidados.

2023 não está acontecendo conforme o previsto por especialistas do cenário econômico, que previam voos altos no setor tech. Na verdade, o que vemos é uma sucessão de demissões em massa e abandono de projetos já consolidados.

Nos últimos anos, a indústria da tecnologia experimentou o deslanchar dos lucros, sendo um dos pouquíssimos setores que lucraram durante a pandemia de Covid-19, por exemplo. Entre 2020 e 2021, diversos setores precisaram reduzir o efetivo e comprimir gastos. A indústria tech, por outro lado, contratou como não víamos desde a explosão das “WWW” no final dos anos 90, início dos anos 2000.

Em 2020, a Amazon anunciou, seguindo o esquema de rodadas, suas contratações. Não raramente, víamos notas informando que mais 100 mil novas vagas seriam abertas nos Estados Unidos, e outras dezenas em países como Brasil e Canadá. Esse foi o cenário para grande parte das maiores empresas do setor tecnológico, que sem sombras de dúvidas viveram em 2020 e 2021 os anos de ouro do faturamento, especialmente para as já bem conhecidas “BIG FIVES”, que elevaram seus lucros e despojaram de investimentos inéditos até então.

Mudança de cenário para empresas de tecnologia

Google, Facebook, Microsoft, Apple e Amazon. Todas com receitas que beiram ou ultrapassam a casa do trilhão de dólares e um “elefante branco” em comum na sala da diretoria: as projeções. Em meio a um cenário completamente atípico, um fato inimaginável no universo tecnológico até então toma forma: antes de 2022, não se falava sobre recessão na receita das maiores empresas do setor. Quando analisamos outras “crises”, o Vale do Silício nunca esteve entre as incertezas da economia, sendo comum inclusive que investidores do mundo todo injetassem dinheiro em desenvolvimento tecnológico enquanto as recessões ocorriam em outras áreas.

A necessidade de permanecer em casa e trabalhar remotamente permitiu alavancar o uso de ferramentas que já eram corporativas, mas de uso esporádico. Contudo, a impossibilidade de estar fisicamente nos escritórios fez com que reuniões, consultas médicas e audiências jurídicas acontecessem de modo remoto. Não era seguro fazer as compras no mercado e nunca sentimos tanta vontade de estarmos conectados ao mundo – smartphones, computadores e televisores foram três dos itens mais vendidos nesse período.

Para se ter uma ideia, em 2020, a Apple bateu o recorde de maior faturamento em doze meses: a empresa fechou aquele ano com US$ 123,9 bilhões. O mesmo aconteceu com as outras gigantes do setor. Jeff Bezos (CEO da Amazon) se tornou durante a pandemia o homem mais rico do planeta, e o Facebook, além de arquitetar o Meta, que segundo eles será a próxima revolução tecnológica da década, lucrou tanto quanto as demais empresas, que formam essa base solida de produção e inovação.

Ondas de demissões

Atualmente, o que temos visto é completamente diferente do que vimos em 2020. Hoje, as ondas anunciadas pela Amazon referem-se a demissões em massa e redução de investimentos no lançamento de novos produtos e serviços. Prova disso são os usuários da assistente virtual Alexa, que já sentem o “abandono”, com frequentes erros de software, raras atualizações e suporte deficiente ao consumidor. Esses fatores somam motivos para justificar a queda do grande hype no último ano: as pessoas perceberam que conseguem mudar de canal e apagar as luzes de casa com as próprias mãos (e digo isso sabendo da amplitude de funções da assistente da Amazon). Esse fato foi oficializado pela própria empresa, que em 2021 divulgou uma pesquisa que apontava que 80% dos usuários do device não utilizavam nem ao menos dez comandos gerais existentes. A equipe de desenvolvimento de novos produtos tentou por vezes “inovar”, mas todas as tentativas resultaram em investidas de pouco sucesso. Inclusive, recentemente foram anunciados cortes na equipe de criação e desenvolvimento da própria Alexa.

O que se especula nos bastidores da tecnologia é que essas empresas estão realizando triagens de talentos, o que, caso venha a se popularizar, pode se tornar mais um mecanismo das gigantes da tecnologia e de outras áreas, já que elas sempre ditam tendências, sejam elas “boas” ou não.

Por outro lado, uma reflexão que cabe nessa linha de pensamento é a alta disponibilidade dos chamados “megagênios”, que poderão criar muito em breve as novas gigantes em porões e garagens. E garanto não existir “romantização” no desemprego em minhas palavras.

Desenvolvedores precisam de três coisas para “inventar a roda”: um computador, uma ideia e investimento. Conhecendo bem o setor, arrisco dizer que às vezes o mais difícil de se conseguir é a ideia. O Vale do Silício sempre abraçará a inovação, e as demissões de hoje certamente resultarão no Facebook ou na Apple de amanhã.