Por Peter Leech – sócio em The Parnering Group*
Após participar do evento E-commerce Brasil 2011, que aconteceu na cidade de São Paulo – que é muito bonita e expansiva, por sinal –, participei do maior evento de e-commerce nos Estados Unidos, o Shop.org Annual Summit. Em ambos eu pude sentir pulsar o desejo por inovação. Conheci e reencontrei pessoas audazes e sem medo, que buscam desafios constantemente.
Eu me surpreendi com a quantidade de semelhanças entre as abordagens de cada país e entre as fases de desenvolvimento do e-commerce em que cada um se encontra.
1. Grandes Líderes: Cada país tem seus grandes líderes na área de e-commerce. Nos Estados Unidos são a Amazon e o Walmart.com. Já no Brasil, quem lidera o mercado é o Submarino.com e a Americanas.com. Eles primam pela inovação e ajudam a conduzir toda a comunidade do e-commerce. E, além disso, também forçam a concorrência a identificar seus diferenciais. Os que não conseguem se diferenciar, acabam morrendo.
2. Ricos Talentos: Os dois países têm uma forte comunidade de e-commerce. Eu pude ver em primeira mão a gama de talentos no Brasil, que variam de software, hospedagem, desempenho e entrega para o crescente exército de canais de marketing e agências digitais. A dificuldade para os varejistas também é a mesma: como escolher as soluções certas para sua base de clientes, produtos e para o desenvolvimento da sua empresa.
3.Complexos Canais de Marketing: Nos dois países os e-commerces pure-plays e os varejistas que trabalham em várias áreas estão se esforçando para maximizar as vendas nos canais de marketing como Google, sites de comparação de preços, marketing de afiliados e Facebook. Os Estados Unidos têm o Shopping.com e o Brasil, o BuscaPé. Existe uma necessidade constante dos lojistas de entender o verdadeiro ROI de seus canais e negociar esses acordos com sabedoria.
4.O mesmo vale para e-commerces de ofertas diárias, como compras coletivas e clubes de compras, e o boom dos sites de leilão. Algumas dessas tendências têm sua origem nos Estados Unidos, mas elas são rapidamente lançadas em outros países por empresários locais, e normalmente obtêm mais êxito do que as filiais americanas.
5. Comércio de Luxo: Eu fiquei impressionado com a sofisticação das marcas de luxo no Brasil. O digital branding e o pensamento inovador presente nas marcas, como Daslu e Farm, é impressionante. Essas empresas têm a mesma abordagem e excelência do que as marcas que ocupam uma posição equivalente no mercado americano, trabalhando da mesma forma e com a mesma excelência a aproximação com o usuário. Elas entenderam muito bom e aderiram verdadeiramente o impacto do digital em seu negócio.
6. CRM e Análises: Em algumas áreas, as empresas brasileiras estão fornecendo tecnologia de ponta, como em behavioural targeting. Por outro lado, o foco nos consumidores (e em seus dados) é maior nos Estados Unidos. Por exemplo, o número de engenharias personalizadas nos EUA é espantoso.
Os dois países parecem ter um foco maior na contagem de cliques, do que no verdadeiro CRM e na lealdade. Hádestaquescomo o programaAmazon Prime e oprograma de fidelidadedas lojas Marisa, mas ambos os países têm lacunas aqui.
Em poucas palavras,os temassão os mesmos e muitas vezes os fornecedores/plataformas também são. Mas há diferenças que fazem os desafios diferentes para os comerciantes e técnicos nos dois países. Aqui estão algumas delas:
– Crescimento: O Brasil está crescendo muito rápido. O crescimento do e-commerce está a um passo de 40%. Na contra mão, o e-commerce norte-americano tem uma taxa de 10%. A classe C brasileira cresce de forma acelerada, e com isso, milhões de pessoas estão aumentando seu poder de consumo. Enquanto isso, a classe média americanaestá encolhendo, com uma perda depoder aquisitivopreocupantee muitas famíliasentrando na linha da pobreza. Em ambos os casos é muito diferentepara o lojista online. O comércio eletrônico no Brasilcontinuará a crescertanto quantoo acesso àinternet por parte dos brasileiros.
– Mobile Commerce: Comparando os principais tópicos nos dois países, a tecnologia móvel para celular e m-commerce é, claramente, o mais importante. Empresas estão gastando e implementando sites e aplicativos prontos pra mobile em um ritmo impressionante. Enquanto o número de celulares por pessoa é maior no Brasil, o uso e a popularização de smartphones é muito maior no Estados Unidos, devido às taxas de imposto e o custo dos planos de acesso. Isso pode significar quea maneira de ganharem mobileé muito mais”leve”noBrasil, enquanto nos EUA é mais “rich media”.
– Cultura do Social: Os brasileiros são mais conectados e mais sociais do que os americanos. Alguns especialistas acreditam que o Orkut ainda tem uma presença muito marcante no país porque sua adoção foi muito rápida, a rede social foi muito bem aceita por todos, o que não aconteceu nos Estados Unidos. Será interessante observar o crescimento do Facebook no Brasil. Minhas expectativas são que uma maiorfreqüência e intensidadeno uso do Facebook no Brasil vão oferecermais espaçopara o comércio social e geração de lead social.
– Entrega: Os lojistas americanos são beneficiados por um mercado de serviço de entrega muito competitivo e até mesmo sofisticado, incluindo o Fed Ex e o UPS, que entregam em todo território americano. Eles podem focar em gerar demanda, sem se preocupar com o processo de entrega. Mas este não é o caso do Brasil, onde o número de empresas nesse ramo é limitado. Com os Correios, a possibilidade de entrega em todo território nacional está aumentando, mas outras empresas que façam o mesmo tipo de serviço só existem nas cidades de médio e grande porte.
– Suporte para empresários: Estaprovavelmente não é uma novidade, mas está claro que os Estados Unidostêm um motorde venture capital que há décadas dá o direcionamento das ondas de inovação no e-commerce. Isto está crescendo no Brasil hoje, mas alguns amigos me explicaram que o grosso dos investimentos ainda vêm de outros países.Eu acredito e espero que isso vai mudar.
– Fraude: Este é um problemaem todos os países, mas o Brasil tem mais desafios com esta questão. Este é um passo no desenvolvimento global do e-commerce em qualquer sistema. Fraudes ainda são um problema nos Estados Unidos, mas ferramentas e boas práticas têm levado isso a taxas mais “aceitáveis”. Tempo e inovação continuarão a desgastar o impacto da fraude no e-commerce no Brasil.
Por fim, devo dizer que fiquei encantado com o nível avançado do e-commerce no Brasil. Acredito que temos oportunidades de trabalharmos juntos para melhorar o nosso mercado em comum.