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CES 2020: alta tecnologia a serviço do usuário

Por: Gastão Mattos

Atua na liderança brasileira da IDid. Com mais de 25 anos de experiência no setor de e-commerce e meios de pagamento, foi diretor da Credicard, vice-presidente de marketing da Visa, presidente da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (câmara.e-net) e da M-Cash, CEO da Braspag e fundador da GMattos Consultoria. Graduado em Engenharia e com pós-graduação em Engenharia de Produção, ambas pela Escola Politécnica da USP.

Participei pela primeira vez da CES (Consumer Electronics Show), a maior feira de tecnologia voltada ao consumo, organizada há décadas pela Consumer Technology Association, sempre em Las Vegas. O porte do evento é impressionante, mesmo para quem costuma frequentar outras feiras de negócios pelo mundo. São quase 5 mil expositores, espalhados entre dois sites no Las Vegas Convention Center e seis super hotéis na cidade, não exatamente próximos entre si. Neste ano, o evento recebeu 150 mil visitantes que lotaram todos os espaços — que, aliás, saturaram todas as opções de transporte público, dada a necessidade de locomoção para compor a agenda da visita.

A exposição é bastante segmentada, tendo como elo a exibição de tecnologias com apelo ao consumidor. Áreas para Gaming, Entretenimento, Home Appliance, Mobilidade e 5G dividem os diferentes expositores nos espaços, sendo impossível visitar tudo, mesmo considerando cinco dias de evento.

Descobri diferentes aplicações inovadoras (algumas de apelo questionável) “passeando” pela feira: aspiradores de pó robô, cadeiras de relaxamento personalizadas, tratores comandados eletronicamente, drones de todos os tipos e muita realidade virtual em múltiplos devices para games são alguns exemplos. A amplitude e segmentação da oferta é tão grande, a ponto de termos um robô para distração de cães de estimação.

Grandes empresas como Sony, Mercedes Benz e Samsung dividem democraticamente o espaço com milhares de startups, muitas delas do oriente, trazendo as mais distintas soluções para o dia a dia.

Por mais estranhas ou interessantes que possam ser as novidades da CES 2020, fica clara a tendência da integração de plataformas distintas de tecnologia, como Inteligência Artificial, Realidade Virtual e Realidade Aumentada, cruzadas com plataformas de serviços de conectividade (destaque pela mudança de patamar que o 5G vai propiciar), biometria e “sensorização” de ambientes. Todos têm um objetivo em comum: proporcionar uma melhor experiência ao usuário.

Praticidade conectada

O CEO da Samsung, Hyun-Suk Kim, abriu a CES 2020. Em estilo parecido com os anúncios da Apple, com um show dirigido e ensaiado em detalhes, o Sr. Kim apresentou a proposta da Samsung pela integração de tecnologias com o dia a dia das pessoas. Um dos pilares desta integração são as aplicações para o lar, o Smart Home (ou Intelligent Home, como definiu). O foco no caso é em home appliances, como a geladeira conectada, que informa o que está sendo refrigerado. Ela ainda pode sugerir receitas com ingredientes ali contidos, ou mesmo comandar via internet a reposição de algum item.

Contudo, o grande destaque foi o lançamento da plataforma de reconhecimento de voz e inteligência artificial, batizada de Ballie — uma evolução de assistentes virtuais como Alexa, da Amazon, ou Siri, da Apple. Ao invés de usar uma caixa estática como o Amazon Echo, Ballie pode se movimentar num corpo cilíndrico que lembra o robô BB-8 do Star Wars.

A plataforma pode dar assistência por comandos de voz e “seguir” fisicamente os passos de seu proprietário em sua residência e conectar com dispositivos como aspiradores, TVs, geladeira, ar-condicionado, com ponto único de comando e controle de todos os devices. Um passo além no uso de AI (Inteligência Artificial), IoT (Internet das Coisas) e voice recognition (reconhecimento de voz), em relação as aplicações já conhecidas.

Além do Smart Home e AI, outros temas foram tratados na apresentação da Samsung. Teve o Smart Cities, que indica aplicações de conectividade 5G para melhoria de tráfego e mobilidade nas cidades; e o Digital Health, com a novidade de um personal trainer virtual, acessado por meio de aplicação de AR (Augmented Reality).

Tecnologia a serviço do turismo e do lazer

Com a proposta de cruzar perspectivas de segmentos diversos no uso da tecnologia, a CES 2020 incluiu como keynote o CEO da Delta Airlines, Ed Bastian. Não por acaso, a empresa vem se destacando com indicadores positivos no resultado operacional e em inovações de serviço.

Em sua apresentação, Bastian destacou a proposta de valor da Delta pela satisfação de seus clientes. Pesquisas recorrentes identificam demandas que priorizam investimentos pelo desenvolvimento de novos serviços — ou aperfeiçoamentos — com uso de tecnologia de ponta.

Para atender a demanda de redução do tempo no check-in, a Delta foi a primeira empresa aérea a usar a biometria facial, incluindo a identificação de segurança para a área de embarque, e o acesso do cliente no seu específico voo.

Delta x American Airlines

Bastian também anunciou a integração do app Delta com a Lyft. Com esse novo serviço, clientes Delta serão alertados pelo app do momento ideal para se locomoverem ao aeroporto, considerando horário de embarque e condições de trânsito, além de oferecer o transporte via serviço da Lyft. O pagamento da corrida poderá ser feito com pontos de milhagem da empresa. A partir do traslado, o cliente Delta já terá acesso a plataforma de entretenimento de bordo por meio do app.

Entretenimento foi outro ponto de destaque da apresentação. Tudo leva a crer que a Delta toma um rumo diferente de outras companhias aéreas, como a sua principal concorrente – a American Airlines. No caso, ela amplia as opções de entretenimento, com a política de manter ou expandir o monitor touch-screen para todos os seus assentos. Recentemente, a American decidiu retirar o monitor touch-screen de seus voos domésticos, oferecendo entretenimento apenas via Wi-Fi on-board pelos celulares dos clientes.

Segundo Bastian, pesquisas mostram que durante o voo, ao se conectarem no “modo avião”, as pessoas tendem a assumir um estado mais sensível, desconectando-se do mundo e valorizando as formas de entretenimento. Por isso, a prioridade da Delta em ofertar opções diferenciadas a bordo (ou mesmo antes do embarque).

Voo personalizado

A importância dada à percepção do cliente, ganhará nova dimensão em breve na Delta, com o lançamento de um novo serviço em teste no Aeroporto de Detroit. Chamado de Parallel Reality, permitirá personalizar informações de um voo específico por passageiro.

Ao invés do usual painel com dezenas de voos diferentes, ele identifica por aproximação (habilitado no app da Delta), o interesse de um determinado passageiro, mostrando apenas a informação que lhe é relevante. Em breve também haverá uma nova forma de boarding na Delta, com o serviço Virtual Queuing. Nele, o embarque será realizado de maneira organizada, com cada passageiro sendo chamado via app. A ideia será otimizar a ocupação do avião, sem a necessidade de formação de filas.

Os novos serviços apresentados pela Delta, com aplicação de plataformas tecnológicas já conhecidas, como Biometria Facial, IoT e Inteligência Artificial, são um bom exemplo de como aplicar conhecimentos já consolidados e agregar novas propostas de valor.

Bites hollywoodianos

O lançamento do Quibi (Quick Bites) na CES é uma ideia tão óbvia que é brilhante. Ele visa desenvolver conteúdo para o formato mobile em “bites”, ou em pequenos capítulos, para o usuário acessar no dia a dia (no metrô, caminhando, esperando por um compromisso, etc).

A plataforma foi anunciada pelo fundador da Quibi, Jeffrey Katzenberg (DreamWorks), e pela CEO Meg Whitman (ex-e-Bay). Os formatos de conteúdo do Quibi são produzidos para visualização no celular, na posição portrait ou landscape. Grandes talentos de Hollywood, como o diretor Steven Spielberg, produzirão os primeiros conteúdos. O lançamento está previsto para abril deste ano e o serviço será monetizado de duas formas: venda de anúncios (já com US$ 150 milhões vendidos para cotistas fundadores no primeiro ano), e assinatura para usuários, iniciando por US$ 4,99 / mês.

Motorizados e altamente conectados

As principais montadoras exibiram seus modelos recentes e protótipos para o futuro. Havia inclusive um da Mercedes-Benz, desenvolvido com apoio do cineasta James Cameron. No tema “Cidades Inteligentes”, a indicação de conectividade 5G para todos os veículos e controle com Inteligência Artificial para fluir o tráfego. Tudo integrado: carros, semáforos e pedestres. Ainda parece distante, mas quem poderia imaginar, há 20 anos, que a penetração dos smartphones na população traria tantas evoluções?

Cidades conectadas

Uma das pautas da CES 2020, a “Smart Cities” buscou mostrar as tendências e inovações para melhoria da qualidade de vida urbana. Uma tendência já clara é o uso de conectividade de carros, transportes públicos e pessoas para um gerenciamento em tempo real, usando AI para melhoria de tráfego e segurança. Uma premissa importante para esta aplicação é a adoção do 5G como padrão para internet móvel, o que se não distante, definitivamente não será imediato.

Somente com o 5G pode-se assumir o padrão mínimo de confiabilidade de troca de dados (que o atual 4G não permite). São dois problemas que o 5G vai endereçar:

  • Primeiro o de velocidade, permitindo que a conexão móvel tenha a mesma ou talvez superior capacidade de uma conexão fixa.
  • Segundo, da latência na transmissão de dados, muito comum no 4G, e inexistente no 5G.

Este último é fundamental para o serviço pretendido. Afinal, como podemos imaginar eliminar congestionamento de tráfego, se a troca de dados entre os agentes móveis é congestionada?

O 5G e os carros autônomos

O 5G é premissa para o uso pleno das funcionalidades dos carros autodirigidos, outra inovação esperada para o futuro. Carros conectados podem trocar informações em tempo real entre si, evitando possíveis colisões, por exemplo.

Nos EUA, o 5G já está disponível em alguns centros urbanos, com aumento de amplitude esperada para este ano, mas ainda não em abrangência nacional. No Brasil, estamos ainda definindo qual será o padrão da tecnologia 5G a ser usada. Sendo assim, para nós este “futuro” poderá estar bem mais distante…

Todas essas novidades altamente tecnológicas possuem um objetivo em comum: a experiência do usuário. Esse está cada vez mais exigente e deseja não apenas mais agilidade, eficiência e variedade de serviços, mas a possibilidade de personalização, de se sentir especial, único. O impacto desta visão nos negócios dos mais variados segmentos é gigantesco, abrindo espaço para serviços e produtos inéditos e novas empresas.

Inovar já deixou de ser escolha para se tornar necessidade há muito tempo — e os grandes sabem disso. O uso destas inovações no mercado de varejo levará esse segmento a um novo patamar. Haverá novas possibilidades de compra de forma mais dinâmica e assertiva, que beneficiarão toda a cadeia. O setor de pagamentos deve acompanhar essas tendências, trazendo mais automatização na hora de pagar sem abrir mão da segurança. Deverá oferecer agilidade e praticidade para o consumidor usufruir ao máximo de todos os benefícios que estas experiências devem proporcionar.


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