O turismo se viu diante de um dos cenários mais assustadores durante a pandemia em 2020. Com o fechamento das fronteiras e de pontos turísticos, além da rápida disseminação do coronavírus pelo mundo, as viagens ficaram impossibilitadas pela maior parte do ano. Mesmo com a reabertura gradual em alguns países, as pessoas ainda se sentem inseguras ao viajar.
Foi justamente sobre esse tema que a empresária holandesa Gillian Tans falou em uma das conversas online da edição de 2020 do Web Summit. Gillian Tans foi entre 2016 e 2019 CEO do Booking.com e hoje é parte do conselho de tomada de decisões da empresa. Para a conversa, a executiva foi entrevistada por Feliz Solomon, jornalista do Wall Street Journal.
Um dos principais pontos da conversa foi sobre os desafios para o setor de turismo durante a pandemia e as medidas encontradas para amenizar seus impactos.
Para Tans, está claro que mesmo com a retomada gradual as dificuldades estão longe de acabar: “os desafios ainda estão por aí e ainda há muito o que se fazer para melhorar”, explica.
Ela defende que houve avanço nos últimos meses e que há esperança para o futuro, mas que as transformações do turismo vão além das necessidades impostas pela pandemia. Ao sair da crise do coronavírus, os profissionais do setor vão encontrar consumidores mais engajados e menos satisfeitos com “o lugar comum”.
Novas estratégias
De acordo com a executiva, o momento em que estamos vivendo fez com que as lideranças das empresas fossem mais reativas. Dessa forma, ela percebeu um movimento mais analítico, de uso consciente dos recursos e uma busca por elencar prioridades. Gastos desnecessários sendo cortados, novas estratégias de engajamento e planos para o futuro ganharam mais espaço neste cenário também.
Isso tudo, segundo ela, sem parar de pensar nos colaboradores e consumidores, que também dependiam de recursos do turismo e não podem ser deixados de fora. “A indústria do turismo é resiliente, mas ainda há muito a se fazer”, completa.
Ela defendeu ainda que uma das áreas que mais ganhou destaque nas companhias focadas em viagens foi a de marketing. Na Booking.com, por exemplo, o investimento em marketing se fez extremamente necessário para continuar engajando os consumidores mesmo enquanto não há viagens, mas também como um importante canal de comunicação para atualizá-los sobre as novas normas de segurança e mudanças constantes.
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Fechamento das fronteiras
Questionada sobre o efeito do fechamento das fronteiras, Tans explica que é difícil mensurar algumas respostas, como:
- Quando as coisas vão voltar ao normal para o turismo?
- Quando as pessoas se sentirão confortáveis em viajar novamente?
- Após a vacina o turismo vai se recuperar completamente?
- As medidas de distanciamento asseguram a volta das viagens?
- Como o turismo pode prosperar com as fronteiras fechadas?
Para todas essas perguntas e muitas outras, a resposta da executiva é a mesma: não é possível mensurar, pois cada país está em um estágio de recuperação e as coisas podem mudar rapidamente.
Além disso, a executiva acredita que se passarão anos antes que a indústria do turismo recupere toda a segurança de antes, por vários motivos. Entre eles, ela destacou a economia, dos países e dos consumidores, que deve impactar o ritmo de retomada e intensidade das viagens; e também o tempo para vacinar grande parte da população mundial, pois antes disso as viagens grandes ainda são arriscadas.
Novas tendências
Porém, há alternativas. O setor, segundo ela, já vislumbra novas tendências e exigências dos consumidores. Durante a pandemia, a Booking.com registrou que pelo menos ⅓ dos usuários da plataforma pesquisou destinos para fazer o isolamento social e trabalhar de maneira remota em outro lugar que não a própria casa.
As pessoas passaram a procurar por acomodações que fizessem sentido para uma estadia prolongada ou para viagens individuais.
Ela acredita ainda que há um grande interesse dos governos em retomarem as atividades do turismo e alguns países estão tomando essa dianteira. “Problemas globais requerem soluções globais”, ela explica. Como exemplo, ela cita o Japão, que manifestou interesse em garantir um turismo seguro.
“É muito importante que os governos estimulem as viagens e entendam as necessidades das pessoas e das companhias”, finaliza.
Por fim, ela explica ainda que para a retomada plena do turismo, as pessoas precisam se sentir seguras, o que não vai acontecer antes de uma vacina efetiva. De acordo com Tans, as pessoas vão levar as preocupações com saúde e segurança para o futuro, mesmo depois de estarem vacinas: “por causa da pandemia as pessoas estão ainda mais cuidadosas, então as preocupações com a saúde e escolhas sustentáveis tendem a se expandir entre os consumidores”, conclui.
Por Júlia Rondinelli, da redação do E-Commerce Brasil