Por dentro do e-commerce é uma iniciativa da equipe de redação do E-Commerce Brasil para descobrir como os empreendedores do comércio eletrônico lidam com a operação no dia a dia. Confira a visita da equipe à sede do Depósito de Meias São Jorge, em São Paulo.
Tudo começou em 1955, nas feiras livres da região da Rua 25 de Março, em São Paulo, com os irmãos gêmeos Feiad e Salvador Dib, que se inspiraram na devoção da mãe, Maria, por São Jorge. Depois de um ano, o Depósito de Meias São Jorge inaugurou seu primeiro espaço físico em 1956, também na mesma região. Desde quando foi fundada, a loja já trabalhava com uma ampla variação de produtos, com maior foco nas meias, claro. Hoje a empresa possui duas lojas físicas e um e-commerce que oferece produtos de diversas marcas nacionais a seus consumidores.
Com mais de 60 anos de história no comércio físico, a empresa localizada em frente à Praça Ragueb Chohfi, no número 485, também tem uma importante jornada no comércio eletrônico. “Começamos no e-commerce em 2000, quando a internet ainda era discada e o nosso catálogo físico era despachado para todos os fornecedores, quando ainda não havia tanta pulverização do negócio”, explica Jorge Sucar Dib, representante da segunda geração no comando e CEO do Depósito de Meias São Jorge.
Jorge lembra que realizava o despacho via atacado para o Brasil inteiro, e o e-commerce surgiu com objetivo de diminuir esse volume, pois o processo de compra já estava na rotina dos clientes. “Inicialmente, o catálogo físico se transformou em uma peça on-line. O nosso objetivo era trabalhar com o atacado, daí, a 15 dias para lançar o e-commerce, decidimos atingir também o varejo e apontamos o site com dois preços diferentes. Viramos o ‘tacarejo’, atendendo loja física, B2B e B2C”, lembra o CEO.
Segundo Daniela Sucar Dib, filha de um dos fundadores e que atua como responsável de internet e mídias eletrônicas do Depósito de Meias São Jorge, no início do e-commerce as vendas via varejo já foram um sucesso; só que no atacado foram tomando volume com o tempo. “Não se falava em B2B naquela época. Quando a gente explicava que vendia nos dois canais, o cliente desconfiava”, comenta Daniela.
Inovação para aumentar as vendas on-line
Em 2000, Daniela morava nos Estados Unidos e fazia um curso de mestrado em desenvolvimento de RH com uso de tecnologia. Ao buscar informações pela internet para comprar um carro, ela conseguiu desconto de US$ 1 mil na aquisição pela web. “Se estão vendendo carro pela internet, nós também podemos vender meias no Brasil”, relembra Daniela.
O Depósito de Meias São Jorge utilizou uma plataforma própria em seus primeiros 10 anos de comércio eletrônico, porém, com a alta demanda do mercado, surgiu a necessidade de inovar.“Depois de 10 anos nós já enfrentávamos problemas em relação ao servidor e também com a usabilidade do site. Queríamos oferecer para o cliente a opção de selecionar todas as cores e tamanhos de produtos em uma mesma página, mas as plataformas que pesquisávamos não ofereciam essa possibilidade. Hoje já encontramos uma plataforma que faz isso e aumentamos a conversão de vendas em 30%”, revela Jorge Sucar Dib.
A atual plataforma da empresa permite escolher uma coleção recomendada, na qual o cliente pode ver as outras peças daquela coleção e montar sua própria cesta de produtos; assim, o cliente pode comprar vários produtos na mesma tela.
Outra vantagem, segundo Daniela, é a conveniência que a internet proporciona a seus clientes. “É muito conveniente os clientes receberem em casa os produtos que eles teriam que vir até à 25 de Março, em São Paulo, para comprar (e com frete grátis)”, acredita Daniela.
O Depósito de Meias São Jorge envia 300 produtos por dia, com 10 itens em cada pedido, que são comprados via internet. Já o tíquete médio é de R$ 180,00 (em um mix de atacado e varejo). Na loja física são cinco mil pedidos por dia.
Jorge revela que são 150 mil cadastros ativos no varejo, sendo 5 mil cadastros no atacado (opt-in de e-mail marketing). “Temos 14 pessoas trabalhando diretamente no on-line da empresa, com automatização e modernização do sistema de pick-and-pack”, explica o CEO.
Os desafios
Para Jorge, um dos principais desafios de operar vendas na internet não são ferramentas, plataformas ou equipe especializada, e sim convencer os fornecedores a migrarem para o on-line. “Tivemos que convencer o fabricante, quer dizer, eles ainda não acreditam 100% que moda íntima vende na web. E essa dificuldade vai desde conseguir boas imagens dos produtos até as informações detalhadas para a descrição da mercadoria”, analisa o CEO.
Para Daniela, o desafio para os próximos 20 anos está na distribuição e na desmonopolização do transporte, além de amadurecer o diálogo do on-line versus off-line e o embate entre as gerações. “Os jovens já nasceram no on-line e esta já é uma realidade para nós, mas a mentalidade da indústria ainda é que o e-commerce é apenas mais um canal de marketing e não de vendas. Isso é complicado”, define a responsável pela internet e mídias eletrônicas do Depósito de Meias São Jorge.
Moda íntima no Facebook
Além da loja virtual, a São Jorge também está nas redes sociais, onde a estratégia é voltada para o branding e não especificamente para as vendas. “Conseguimos um bom tráfego para o cadastro e retorno para o site. Em geral, as pessoas curtem a página para acompanhar, mas isso não gera engajamento, principalmente pela exposição que, muitas vezes, pode representar, curtir ou comentar uma foto de uma lingerie, por exemplo”, finaliza Daniela.
Por Eduardo Mustafá