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Nova política de itens essenciais da Amazon está devastando vendedores

Por: Giuliano Gonçalves

Jornalista do portal E-Commerce Brasil, possui formação em Produção Multimídia pelo SENAC e especialização em técnicas de SEO. Sua missão é espalhar conteúdos inspiradores.

Diante da esmagadora demanda por artigos domésticos essenciais em tempos de coronavírus — como papel higiênico e mantimentos —, a Amazon anunciou na semana passada que contrataria mais 100.000 trabalhadores nos EUA. Também informou que daria aos funcionários nos EUA, Reino Unido e Canadá um aumento temporário de pelo menos US$ 2 até o final de abril. E decidiu parar de aceitar todos os outros itens em seus armazéns. Na Itália e na França, a Amazon entregará apenas itens essenciais , independentemente do que tenha em estoque.

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A mudança fez com que os vendedores da Amazon — muitos já enfrentando outras interrupções causadas pelo coronavírus — tentassem encontrar novas maneiras de levar seus produtos aos clientes. Os tempos de remessa começaram a aumentar. De apenas 24 horas foram para semanas ou mais, contribuindo para um declínio precipitado nas vendas. “As pessoas não vão querer encomendar itens quando não enviarem por um mês”, disse um dos lojistas afetados.

“Entendemos o impacto que o coronavírus teve em muitos de nossos parceiros de vendas. Nós agradecemos a compreensão deles, pois priorizamos temporariamente produtos de alta necessidade para que possamos receber, reabastecer e enviar mais rapidamente às pessoas que precisam deles durante esse período. Em especial os idosos e aqueles que são mais vulneráveis ​​a sair em público”, disse um porta-voz da Amazon em comunicado. A empresa diz que também está relaxando algumas políticas para os vendedores, incluindo métricas de desempenho baseadas nos tempos de remessa.

Pequenas empresas em todo o mundo foram forçadas a fechar e demitir funcionários como resultado da pandemia de coronavírus. Mas os vendedores da Amazon são únicos, pois confiam fortemente na gigante do varejo, cuja rede logística massiva foi consideravelmente afetada pela crise da saúde pública.

Meios alternativo para entregas

Por anos, a Amazon incentivou milhões de comerciantes de terceiros a se inscreverem no serviço Fulfilled by Amazon (FBA). No serviço, permitia que eles descarregassem tarefas como armazenamento, embalagem e envio para a empresa em troca de uma taxa. Um porta-voz chegou a dizer que a Amazon renunciou a taxas de armazenamento de longo prazo em abril para vendedores que usam o FBA. Cerca de 94% dos comerciantes da Amazon usam o FBA para pelo menos alguns pedidos. Enquanto isso, 64% confiam exclusivamente no serviço, de acordo com a empresa de análise Jungle Scout, que rastreia dados para vendedores da Amazon. Agora que o programa está aberto apenas a bens essenciais, os vendedores foram forçados a procurar meios alternativos de distribuição.

“As consequências para nossos negócios com esse anúncio foram tremendas”, diz Mendel Jacobson, CEO da Afula Enterprises — empresa que vende anualmente mais de US$ 10 milhões em produtos diferentes na Amazon. “Não podemos enviar metade do nosso catálogo pela Amazon e já estamos com muitos problemas de estoque”. A Afula foi incapaz de enviar até itens como sacos de lixo pela Amazon, que, segundo ele, seriam qualificados como essenciais.

Medidas alternativas para vender

Para lidar com isso, a Afula começou a tentar atender pedidos por conta própria. Entretanto, a empresa está lutando para encontrar caminhões disponíveis para buscá-los em seu armazém na cidade de Nova York, local onde os moradores foram obrigados a se abrigar para impedir a propagação do coronavírus. Mendel considerou colocar panfletos na área, recorrendo à venda de mercadorias para pessoas que moram nas proximidades. Ele se preocupa com a possibilidade de demitir algumas das 35 pessoas que emprega no Brooklyn. “A cada hora está mudando, acho que ninguém sabe o que está por vir”, diz Mendel, que completa: “O desconhecido é muito estranho”.

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Como todo vendedor com quem a WIRED falou, Mendel diz que simpatiza com a decisão da Amazon e entende que priorizar os suprimentos necessários era a coisa certa a fazer. Mas a Amazon tem mais de 2,5 milhões vendedores ativos em sua plataforma em todo o mundo, de acordo com a empresa de dados Marketplace Pulse. Juntos, eles representaram 58% das vendas brutas de mercadorias na Amazon em 2018. E talvez a estatística mais reveladora: 37% deles confiam na Amazon como a única fonte de renda, de acordo com o Jungle Scout.

Problemas além do envio

Os problemas que os vendedores enfrentam atualmente também se estendem além do envio. Miles Szczurek, chefe de operações da AMX3d, fabricante de ferramentas de impressão 3D, diz que sua empresa fez um empréstimo de pequenas empresas com a Amazon. Agora que ele não pode estocar produtos nos armazéns da empresa, teme que seja impossível pagar. “Quando a Amazon implementou essa restrição, eles não fizeram ajustes nos termos dos empréstimos, exceto para cancelar a opção de retirar mais dinheiro refinanciando”, disse.

“Estamos trabalhando rapidamente para desenvolver as melhores maneiras pelas quais podemos ajudar nossos clientes em empréstimos para pequenas empresas. Isso inclui benefícios de reembolso para tomadores de empréstimos existentes e em potencial”, disse um porta-voz da Amazon em comunicado. Assim que essa história foi publicada, vários vendedores relataram ter recebido um aviso da Amazon. Nele, dizia que a empresa interromperia os pagamentos de seus empréstimos entre 26 de março e 30 de abril de 2020 — e que os empréstimos não acumulariam juros durante esse período.

Aumento de vendas em outros marketplaces

Alguns vendedores estão vendo um aumento nas vendas em outras plataformas como o Walmart, que ainda apresenta tempos de remessa relativamente rápidos. Mas esses pedidos extras não compensaram a perda de receita da Amazon. Ainda assim, a crise não pode ser atribuída apenas às ações da Amazon. Como o mercado de ações caiu e milhões perderam o emprego, os consumidores gastaram menos renda discricionária em itens como eletrônicos e roupas.

Mesmo após a pandemia de coronavírus, os comerciantes ficam preocupados com o tempo de recuperação de seus negócios. “Quanto tempo levará o pós-vírus para a Amazon reabastecer as linhas de produtos nas quais as pessoas confiam?”, questionou Szczurek. “Acho que isso aponta para uma fraqueza significativa com um único local com tanta participação de mercado”, concluiu.

Com informações da Wired.