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Mercados de proximidade e e-commerce levam indústria a adotar logística mais local

Por: Dinalva Fernandes

Jornalista

Jornalista na E-Commerce Brasil. Graduada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada em Política e Relações Internacionais pela FESPSP. Tem experiência em televisão, internet e mídia impressa.

Estar próximo do consumidor passou a ser estratégico para os varejistas. Além de o formato de mercados menores de vizinhança ter ganhado força nos últimos anos, as empresas têm visto essa capilaridade como uma forma de facilitar e baratear entregas de compras online. Tanto é que a indústria já dá passos em direção a essa tendência.

A Ambev anunciou em seu último balanço que já tem sete centros de distribuição urbanos (UDCs) em funcionamento, espalhados entre os estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná. O objetivo da empresa é agilizar e baratear os processos de entregas de vendas digitais, tanto para os bares e restaurantes, por meio da plataforma BEEs, quanto para o consumidor final, por meio do Zé Delivery.

“Até o fim do ano teremos 14 operando. As obras estão em fase final e a expectativa é que sejam concluídas ainda em dezembro. Para 2022, seguiremos investindo nesse modelo e ampliando o número de unidades”, diz Paulo Zagman, vice-presidente de Logística da Ambev. Segundo ele, os centros de distribuição urbanos diminuem o custo unitário da entrega. “As UDCs possibilitam fazer mais entregas diárias, justamente por estarmos mais próximos dos nossos clientes e consumidores e por utilizarmos modais mais eficientes, principalmente nas entregas de baixo ‘drop size’ (tamanho do pedido)”, diz.

O sócio-diretor da Ilos — Instituto de Logística e Supply Chain, Maurício Lima, afirma que essa tendência observada na indústria não é uma substituição de grandes Centros de Distribuição (CDs) por espaços menores. Trata-se de acrescentar uma camada a mais de cobertura logística. As razões para esse movimento são diversas e começam com o crescimento dos comércios de proximidade, para o qual grandes redes varejistas de supermercado passaram a olhar.

Se por um lado os atacarejos avançam de forma acelerada com lojas que oferecem custo mais baixo para o consumidor, os comércios de vizinhança capturam outras mudanças demográficas como o fato de as famílias estarem diminuindo e a busca pelo consumo de alimentos mais frescos e saudáveis.

No GPA (Grupo Pão de Açúcar), por exemplo, as lojas de proximidade mostraram alta de 12,2% nas vendas do terceiro trimestre ante o resultado de um ano antes e chegaram a um avanço de 59,2% se a comparação for feita com o mesmo período de 2019. Esse foi o formato mais bem-sucedido do grupo no que diz respeito à alta de faturamento.

Dados da Nielsen encaminhados pela Associação Paulista de Supermercados (APAS) apontam que os supermercados pequenos representaram 3,9% das aquisições feitas pelos consumidores em junho de 2021. Esse modelo de mercado teve um crescimento de 0,6% no volume de vendas em relação ao mesmo período do ano passado.

“Esse movimento da indústria começa com a necessidade de atender comércios menores de vizinhança, que exigem um fracionamento maior das entregas e culmina no atendimento direto ao cliente”, afirma Lima. Ele cita como exemplo a indústria de linha branca. “Com o conceito 3P (venda do estoque de terceiros nos shoppings virtuais das varejistas), muitas vezes, o varejo vende uma geladeira e quem entrega para o consumidor é a indústria”, observa.

Ele afirma que, nesse caso, a indústria se propõe a estar mais próxima desse cliente e a fazer a entrega, pois esse procedimento envolve um alto nível de especialização. Assim, os varejistas se propõem a armazenar apenas as unidades que têm alto giro e deixam que o fabricante cuide da logística de itens mais específicos.

Outra razão para tentar chegar diretamente ao consumidor, que explica o movimento no segmento de bebidas, é o alto volume e demanda dos clientes, que oferece uma escala de entregas que torna possível a viabilidade financeira de realizar entregas menores e mais frequentes.

“Os nossos Centros de Distribuição Urbanos estão localizados próximos aos bairros e atuam em um raio de até 6 km utilizando modais menores como vans, bicicletas, motocicletas e triciclos, o que facilita o deslocamento dentro das cidades e acelera as entregas. Os custos de manutenção e dos aluguéis, são menores do que as vantagens que conseguimos ao aumentar a eficiência das entregas no ‘last mile’ (última milha – ou fase – da entrega)”, diz Zagman, da Ambev.

Enquanto a indústria constrói esses pontos mais próximos aos bairros, o varejo alimentar também passa a dar passos em direção ao abastecimento de comércios locais. O GPA tem um projeto de abastecimento de outros comércios de vizinhança que não fazem parte de sua rede. O Programa, chamado “Aliados Mini Mercado” abastece lojas de bairro, como mercados e demais canais de comércio, que desejam potencializar sua atuação por meio da parceria com uma grande rede. Segundo o documento de balanço do segundo trimestre da empresa, o projeto é focado em São Paulo e atendido pela Central de Distribuição dos formatos de Proximidade da rede, o que ajuda a otimizar seus custos e rotas logísticas.

“O modelo apresentou, no segundo trimestre de 2021, um expressivo aumento nas vendas de 2,1 vezes em relação ao mesmo período do ano anterior e alcançou cerca de 1.370 parceiros (alta de 42% em relação ao mesmo período de 2020). Dado o sucesso do Programa, a Companhia pretende estendê-lo às cidades do interior de São Paulo já no próximo trimestre, ampliando também o portfólio de categorias oferecidas”, dizia o balanço da companhia.

A empresa foi procurada para dar detalhes mais recentes sobre o programa, mas preferiu não comentar o assunto por incompatibilidade de agenda.

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Fonte: Broadcast Estadão