Logo E-Commerce Brasil

Estudo mostra papel do marketplace na digitalização do comércio no mundo

Por: Júlia Rondinelli

Editora-chefe da redação do E-Commerce Brasil

Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero e especialização em arte, literatura e filosofia pela PUC-RS. Atua no mercado de e-commerce desde 2018 com produção técnica de conteúdo e fomento à educação profissional do setor. Além do portal, é editora-chefe da revista E-Commerce Brasil.

Estudo realizado pela Advinta e a Dealromm.com, divulgado em junho de 2020, mostra como os marketplaces estão se tornando peças-chave na digitalização do comércio em algumas partes do mundo.

A análise usa como amostra principal a atuação dos marketplaces nos Estados Unidos e Reino Unido durante o crítico período de pandemia e isolamento social diante do coronavírus. Além disso, o estudo mostra também como esse cenário impacta os hábitos dos consumidores e seu potencial social com relação à educação, consumo, saúde, cuidados com a casa e trabalho remoto.

“A crise do Covid-19 demonstrou como os serviços e a tecnologia online do consumidor são críticos para muitos aspectos da sociedade e da economia. Estamos entrando em uma nova fase na evolução contínua dos modelos de mercado online”, diz na apresentação do documento.

Crescente digitalização

O documento mostra que, por mais que a digitalização já tenha começado há muitos anos, o período de pandemia foi responsável por acelerar em décadas o avanço de diversas organizações.

Segundo o relatório, o processo de digitalização era mais lento, pois contemplava apenas algumas categorias de vendas. Em abril de 2020, no entanto, o cenário já estava bastante diferente, já que os consumidores passaram a buscar por uma variedade maior de produtos e categorias online.

Nos Estados Unidos e no Reino Unido, os grandes fatores que fizeram as compras online darem tão certo foram conveniência, rapidez, segurança, variedade e suporte após a venda.

A pesquisa estima que o salto do uso tenológico, não só em compras, mas também no âmbito social, pulou o equivalente à uma década em poucos meses.

O estudo defende que as mudanças não se restringem às compras, pois os consumidores passaram a usá-la também em suas vidas pessoais. Além da crescente adoção de aplicativos, setores que antes custavam a se modernizar foram obrigadas a adotar novas medidas, tais como a educação. A variação no uso de aplicativos para tais finalidades pode ser vista na tabela abaixo.

Através da tabela é possível ver como a demanda para áreas de mobilidade sofreram drástica redução devido ao isolamento social. De maneira um pouco mais problemática, os aplicativos de entrega de alimento, embora com demanda crescente, estão enfrentando problemas com investidores, reabastecimento dos restaurantes e qualidade do produto oferecido.

Mudanças estruturais de comportamento

Outra alegação do estudo é que as mudanças no comportamento dos consumidores serão estruturais e não somente temporárias. A pesquisa usou o movimento de estoque das lojas e marketplaces avaliados para segmentar padrões que devem se manter ou mudar com o tempo.

Segmentos como o de mobilidade, que agora enfrentam queda, podem estar entre os que terão maior procura após o fim da pandemia, enquanto a ascensão de compras em marketplaces como a Amazon apontam para uma continuidade mesmo depois deste período.

Alguns setores, ainda, vão experimentar uma retomada lenta e mais drástica com o fim da pandemia, como restaurantes e companhias aéreas.

Compras direcionadas

De acordo com o estudo, as principais compras neste cenário são direcionadas para o ambiente doméstico. Além disso, percebe-se uma movimentação acerca de cuidados com a saúde, alimentação e educação.

Embora a maior parte das compras ainda provenha do ambiente físico, o que o estudo tenta mostrar é o crescimento da penetração do online na vida das pessoas, assim como um esforço do mercado em se adaptar. A oportunidade apontada pelo levantamento é para os setores de atendimento doméstico, educação e saúde, cuja demanda cresce, porém ainda com um baixo respaldo dos marketplaces em acompanhá-las.

Definição de marketplace sendo “esticada”

Desde a sua criação, o modelo de marketplace ganhou novas formas para o consumidor. Além da compra e entrega de produtos físicos, existe no mercado opções deste modelo de negócio que oferecem serviços, produtos digitais e em nichos específicos.

O estudo defende que o modelo de capital de risco possibilitou que grades aportes financeiros fossem feitos para garantir o funcionamento de operações maiores. No cenário pós-pandemia, no entanto, é possível que cresça a concorrência a partir de investimentos menores, porém nichados. O estudo sugere que, desta forma, exista uma mudança nos moldes do varejo atual, justamente pelas margens de lucros.

O novo modelo, focado nas necessidades da Geração Z e millennials, vai abrir portas para marketplaces de lifestyle, trabalho remoto, economia e serviços.

Mobilidade

Como visto acima, a mobilidade é um dos setores que está sofrendo com a crise do coronavírus, mas continua como um dos mais promissores para os próximos anos. Com as pessoas preferindo cada vez mais pagar para ter seu próprio carro, o uso de aplicativos de corridas virou uma alternativa ao trânsito e ao transporte das grandes cidades.

Com a volta gradual a normalidade, modelos alternativos de transporte e mobilidade urbana se farão necessários, justamente para evitar aglomerações dos transportes públicos.

A proposta de transporte compartilhado é algo que vem atraindo companhias a repensarem seus modelos de negócio e investimentos. Por isso, fabricantes de carros, marcas de combustível, seguros e serviços para este setor estão investindo em alternativas.

Moradia

Até pouco tempo, o máximo de inovação no setor de imóveis era a busca online, mas é um mercado que está pouco a pouco mudando. Atualmente existem aplicativos de corretores online, sites que permitem o aluguel ou compra de imóveis de maneira remota e co-living e co-workings administrados de maneira digital.

Por mais que o setor tenha sofrido baixas durante a pandemia, é um dos que tem mais espaço para crescimento e investimento, atraindo novos consumidores. Assim como no setor de transportes, o uso em conjunto ganha a atenção das novas gerações e as compras fracionadas de um espaço para morar é uma opção mais barata e atrativa.

Saúde

Apesar do crescimento, os investimentos em startups e e-commerces relacionados à saúde ainda é pequeno diante da maior fatia do mercado, mostrando oportunidades de crescimento. Com a pandemia, este nicho ainda pouco explorado de farmácias online, planos de saúde e atendimento médico por vídeo teve uma grande procura por parte dos consumidores. Mesmo para problemas não relacionados ao coronavírus.

De acordo com a Doctor.lib, 74% dos médicos cadastrados na base da plataforma disseram que continuarão atendendo de maneira remota mesmo com o fim da pandemia. 80% dos pacientes responderam que também vão adotar as consultas por vídeo no futuro.

O cenário é tão promissor que atraiu a atenção do Google, Amazon e Zoom para investimentos no setor. De acordo com o estudo, Saúde é a área menos digitalizada de todas as exploradas, mas foi uma das que mostrou maior avanço este ano.

Além de possibilitar atendimento médico durante o isolamento, muitas das empresas que se digitalizaram estão fornecendo informações para os pacientes de maneira muito mais acessível.

Trabalho

O estudo mostra que por mais que os números de contratações estejam diminuindo, o mercado pós-Covid-19 apresenta oportunidades para freelancers. O relatório mostra que, nos Estados Unidos e Europa, 20% a 30% do total da força de trabalho atua desta forma, podendo chegar a 50% do total de trabalhadores em 10 anos.

A mudança no cenário de trabalho de maneira tão rápida é ao mesmo tempo responsabilidade da digitalização como um fator que a impulsiona. É nesse cenário que marketplaces de qualificação profissional e oportunidades com projetos e trabalhos se encontra.

À medida que o mercado de trabalho desacelera com a recessão, haverá espaço para um mercado vertical de oportunidades e recuperação econômica.

Educação

Com a crise do coronavírus, escolas e universidades precisaram se reinventar. E não apenas na maneira de ensinar e uso das ferramentas digitais: agora elas precisam se adequar ao mercado e aos preços da educação online.

Para melhorar a qualidade da aula, as empresas de tecnologia estão sendo forçadas a melhorar suas aplicações, pensando em garantir o entendimento das matérias e a “satisfação do cliente”. Para muitas companhias que já vendiam aulas online, a pandemia ser tornou um momento para transformar clientes gratuitos em pagantes e aumentar a prospecção e alcance do conteúdo.

Um dos principais obstáculos nesse setor é supor o quanto de tecnologia o usuário tem a sua disposição. O modelo pode mudar os moldes das universidades norte-americanas, que se tornaram inacessíveis para a população ao longo do tempo.

 

Por Júlia Rondinelli, da redação E-Commerce Brasil.