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Guerra entre Rússia e Ucrânia já reflete no e-commerce

Por: Giuliano Gonçalves

Jornalista e editor do portal E-Commerce Brasil, possui formação em Produção Multimídia pelo SENAC e especialização em técnicas de SEO. Sua missão é espalhar conteúdos inspiradores.

Nesta última quinta-feira (24/02), todo o mundo foi impactado pela triste notícia da guerra entre Rússia e Ucrânia. O que já sabemos é que se trata do maior ataque entre países europeus desde a Segunda Guerra Mundial. Em conversa com o E-Commerce Brasil, inclusive, Igor Subow, presidente do comitê de Logística da Associação Russa de Vendas a Distância, diz que a situação na região realmente não é agradável. Por conta da guerra, ele já tem ciência de que o mercado de e-commerce da região passará por problemas enormes esse ano. “Triste saber que acabamos de passar por dois anos de crescimento, com 40% e 50% respectivamente. Nossa esperança é a de que a guerra termine o quanto antes”, lamentou.

Que tudo isso já traz consequências para os povos de lá, não temos dúvidas (e realmente sentimos muito por isso). Mas, será que poderemos sentir os efeitos desta fatalidade aqui no Brasil?

Imagem de uma bandeira da Rússia hasteada

Em 2021, empresas do Rio Grande do Sul comercializaram (entre importações e exportações) cerca de US$ 921,8 milhões com os países envolvidos na guerra. Diante disso, quais serão os possíveis impactos econômicos?

Valores do Dólar, petróleo e gás, por exemplo, já dispararam no mundo em detrimento desta guerra. Bolsas asiáticas, por exemplo, fecharam em forte baixa, assim como Paris, Londres e Frankfurt, com quedas acima de 3% ao longo do primeiro dia de conflito. Vale lembrar que a Rússia possui um dos maiores mercados de petróleo e gás natural — o barril de petróleo Brent —, que, hoje, já atingiu a maior cotação desde 2014, com alta de 7,85%. Outros produtos importantes ao Brasil, como trigo e milho, também são importados da Ucrânia e da Rússia e podem deixar de ser produzidos por ora. Fertilizantes e insumos agrícolas somam-se à lista de produtos importados pelo Brasil desta região.

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Como o conflito reflete no mercado global

De acordo com Fernando Moulin, professor da Escola Superior de E-Commerce e Partner da Sponsorb, os impactos podem afetar todos os setores do e-commerce, mais especificamente os ligados à economia globalizada e a taxas cambiais. “Desses, posso destacar em especial os eletroeletrônicos, linha branca, produtos importados, vinhos, alimentos e outros”, diz. Além disso, Moulin acredita na possibilidade de impactos no futuro para os varejistas do e-commerce chinês. “Isso é possível caso os custos de contêiner, de shipping, de todo o transporte marítimo entre as nações venha a aumentar os custos, que vem elevando significativamente desde o início da pandemia”, destaca.

Para o especialista, estamos com barreiras de oferta em escala global, que já afeta diversos países. “O Brasil ainda não sentiu esses efeitos, mas pode acontecer de impactar marginalmente os e-commerces chineses, como o AliExpress, ou asiáticos, como a Shopee”. Vale destacar que, para a Rússia, o impacto será ainda maior. “Certamente muitas empresas do mundo vão ser proibidas de fazer negócio com empresas russas, o que vai levar tempo para substituir produtos globais, nacionais e marcas de luxo que são muito fortes lá”.

Outros entraves para o varejo brasileiro, segundo Felipe Mendes, Gerente Geral da GfK na América Latina, está no potencial da Ucrânia em relação à produção de matérias-primas. “A Ucrânia é um país rico em minério, sendo o segundo maior produtor no mundo de ferro e manganês, por exemplo. Muitos destes produtos são destinados à indústria, assim como para a tecnologia”. Como consequência, segundo Mendes, seria um efeito de médio prazo no fornecimento destes materiais, o que pode afetar a indústria de base. “Na agricultura, são o segundo maior exportador de cevada. Ou seja, para a indústria da cerveja essa guerra pode trazer grandes consequências”. Para o setor agrícola, Mendes entende que o impacto será imediato, enquanto na questão de metais e produção ocorrerá no médio prazo.

“Existe um outro elemento importante no leste europeu: muitos dos ucranianos atuam no ramo de transporte de cargas na Europa. Por conta da guerra, a maioria retornou à Ucrânia para cuidar de suas famílias. O resultado disso será um desabastecimento nos países europeus”. Apesar de ser em menor escala quando comparado aos problemas da China ou da Covid-19, Mendes acredita que essa situação automaticamente levará à uma inflação.

Um dado interessante: a região dos países do leste europeu (CIS) foi a que teve o crescimento mais rápido do e-commerce no mundo, seguido de perto pela América Latina. Pedro Trevisan, Co-founder da Globalfy, acrescenta que a Ucrânia é uma grande fonte de terceirização de TI para os EUA. “Por conta deste conflito, pode haver um forte impacto em alguns serviços da área no país, principalmente quando pensamos em e-commerces, plataformas e marketplaces”, alertou. Neste conteúdo é possível compreender como (e por que) a invasão russa à Ucrânia pode ameaçar a indústria de TI.

Impactos nos produtos agrícolas

No ano passado, por exemplo, empresas do Rio Grande do Sul comercializaram (entre importações e exportações) cerca de US$ 921,8 milhões com os países envolvidos na guerra, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Apenas no segmento de fertilizantes, que representa 15% das importações, mais de US$ 386 milhões referem-se a produtos químicos de origem russa. De acordo com Oscar Frank, economista-chefe da CDL Porto Alegre, tais produtos são fundamentais para manter a produtividade nas lavouras. “A dependência do setor primário para o Rio Grande do Sul é superior em relação à média nacional. Portanto, tudo o que ocorre no agronegócio reflete ainda mais forte na região”.

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Ricardo Lerner, executivo do setor de logística de combustíveis e CEO do Gasola, afirma que “os impactos nas bombas de combustível irão depender de ações diplomáticas e dos desdobramentos da geopolítica mundial, que deixam o mercado volátil e as cotações de dólar instáveis”. Para Lerner, essas duas variáveis irão impactar o cálculo de preço do combustível. Além disso, mudanças no cenário internacional impactam o mercado nacional, de acordo com o preço de paridade de importação (PPI) praticado pela Petrobras desde 2016. “Isso significa que a definição dos valores cobrados nas destilarias de petróleo será a mesma da cotação no mercado internacional, onde a tendência é de aumentos consideráveis”. No caso do diesel, ele prevê um aumento inicial de cerca de R$ 0,25 nos próximos dias. “Porém, pode ser apenas o início de uma grande onda de aumento nos preços”, avalia.

Moda já sofre com os efeitos

Ações de grandes marcas da moda já sofreram queda por conta da guerra entre Rússia e Ucrânia. No caso das empresas LVMH e Kering, por exemplo, as ações caíram 5% ao meio-dia de ontem, enquanto as ações da Compagnie Financière Richemont caíram 7% e as da Hermès 3%. Na manhã de quinta-feira, a Richemont, empresa controladora da Cartier e Van Cleef & Arpels, foi a mais afetada por consequência da guerra.

Uma das maiores preocupações para o mercado de moda europeu é a de que a invasão possa desencadear um ‘fator de culpa’ entre os consumidores de luxo. “Consumidores deste nicho não se sentem à vontade para serem vistos comprando ou usando produtos de luxo devido a eventos trágicos”, escreveu Antoine Belge, analista da empresa francesa de investimentos Exane BNP.

Alternativas para minimizar os impactos da guerra no e-commerce brasileiro

Apesar de tudo isso, há algumas alternativas para minimizar as consequências que virão por conta da guerra. “Trabalhar com produção local, com fornecedores brasileiros, é uma das saídas. Outra dica é trabalhar com novas alternativas de comércio ligadas a regiões que tenham custos mais competitivos, como a América Latina, por exemplo. Porém, é importante lembrar que muitos países da região não conseguem produzir insumos que são importados da Ásia, China ou Europa”, reforça Moulin.

Outra saída está em encontrar formas de transferir essa questão do custo, com equilíbrio, para o próprio consumidor. “Fazer reajustes pontuais de forma necessária para preservar as margens, trabalhando mais equilíbrio na questão de logística de frete, pode ser uma alternativa para minimizar os custos”. Assim como Moulin, Mendes sugere a alternativa de buscar imediatamente outras fontes, especialmente na questão de metais e minerais, que têm uma cadeia mais longa.

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Por aqui, seguimos com o desejo de que as coisas melhorem não apenas para os negócios, como (e principalmente) para a vida e equilíbrio de todos. E, por saber que milhares de russos já se manifestam contra este conflito, a esperança de uma solução menos dolorosa se faz presente.

Por Giuliano Gonçalves, da redação do E-Commerce Brasil.