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Fundador da Netshoes fala ao E-Commerce Brasil sobre inovação, gestão de pessoas e futuro

Por: Alice Wakai

Jornalista, atuou como repórter no interior de São Paulo, redatora na Wirecard, editora do Portal E-Commerce Brasil e copywriter na HostGator. Atualmente é Analista de Marketing Sênior na B2W Marketplace.

Marcio Kumruian concedeu entrevista à Redação do E-Commerce Brasil durante o Congresso E-Commerce Brasil Gestão

Empreendedor nato, Marcio começou a trabalhar aos 16 anos em uma loja de calçados em São Paulo. Quando tinha quase 20 anos lançou a primeira loja física, em parceria com um primo. Nascia então o maior e-commerce de produtos esportivos do Brasil, que hoje já entrega cerca de 30 mil pedidos por dia em todo o Brasil.

Confira nossa matéria sobre a Palestra de Marcio Kumruian no Congresso E-Commerce Brasil Gestão

Conversamos com Marcio Kumruian poucos minutos antes dele subir ao palco do Congresso. O resultado dessa conversa você vê abaixo:

ECB: A Netshoes está completando quase 16 anos. De lá para cá muita coisa mudou, mas afinal, o que não mudou?

Marcio: “A cultura da Netshoes é algo muito forte. Os valores são colocados desde o início com muita transparência tanto para quem já está dentro como para quem quer entrar. Também temos o trabalho de sempre relembrar esses valores e mostrar que as atitudes são a melhor forma de demonstrar isso. Entendemos que tem que haver uma relação clara entre empresa e colaborador, por isso dizemos sempre o que esperamos de cada profissional. Isso faz com que essa relação fique mais fácil e transparente. Isso não mudou.

ECB: Um dos pilares da Netshoes é a gestão de pessoas – que tem sido um grande desafio para varejistas e empresas em geral. Qual é o segredo para continuar motivando essas pessoas?

Marcio: “O varejo definitivamente mudou de patamar. O varejo já não é o mesmo dos anos 2000, a própria Netshoes não é mais uma empresa de varejo e sim de tecnologia (pautada por muito serviço e ao mesmo tempo muita venda de produtos e soluções aos clientes). O varejo é composto por muito mais pilares agora que no passado, e com isso o profissional precisa ter diferentes skills. Os setores de marketing, tecnologia, logística, atendimento e muitos outros não existiam no varejo dos anos 2000, por exemplo. A gestão se tornou mais complexa e exige profissionais capazes de desempenhar todas essas tarefas – até porque a transparência entre as relações forçam você a ter uma empresa muito mais preparada.

O varejo tem um desafio de gestão, principalmente no e-commerce. Você precisa treinar a maioria dos profissionais, por que eles precisam ter histórico e vivência de e-commerce e em grande escala. É uma área nova é um segmento novo, mas que na essência traz a mesma relação entre lojista e consumidor. A diferença é que no e-commerce há mais inteligência e dados, já que você está conectado de inúmeras maneiras com o consumidor.

No e-commerce é preciso trazer pessoas que tenham capacidade, vontade e determinação para desenvolver variados papéis, assim fica mais fácil ele se adaptar à essa realidade. Dos anos 2000 pra cá houve uma revolução transacional. Participar dessa mudanças é o grande legado e também é o que motiva as pessoas a escrever junto conosco uma história para o futuro”.

Marcio Kumrulan -Netshoes2

ECB: Hoje a Netshoes já é referência e se tornou líder do setor. Mas ao mesmo tempo ela nunca se acomodou. De onde vem tanta inspiração?

Marcio: “No começo você me perguntou sobre o que não mudou. Isso também não mudou. Inconformismo positivo faz parte do nosso mantra. A Netshoes busca sistematicamente ser sustentável, não apenas criar o business, mas também desenvolver o business e aprimorar a experiência do cliente. Somos um negócio que começou nos anos 2000, durante o pós-bolha nos Estados Unidos, por isso estamos sempre em construção. E isso significa desafiar. Inovar é quando você troca ou muda a lógica das coisas e essa lógica vem mudando numa velocidade muito maior. Isso motiva e move a Netshoes em busca de novos processos, novas maneiras de agradar o cliente todos os dias, ou de tornar a vida dele mais fácil. Esse mindset está presente em toda a companhia: não só a busca pela produtividade, mas também partir sempre da relação entre nós e o consumidor. A Zattini é um bom exemplo disso: um projeto que nasceu em 4 meses e logo no primeiro ano já está entre as líderes de moda online no Brasil. Aprendizado, vontade e inconformismo é uma mistura bastante explosiva!

ECB: Falando da internacionalização das vendas, o que você diria para os lojistas que estão começando a pensar em Cross Border?

Marcio: “A primeira coisa é: se você quer expandir seus negócios você precisa ter uma operação muito sólida no seu país. Nunca você será perfeito, mas você precisa estar no mínimo bem estabelecido. Aí sim você pode dar um novo passo. Com certeza a América do Sul parece mais fácil, mas antes disso você precisa entender o mercado, entender a concorrência. Quando fomos para a Argentina e México em 2011 não existia nada. Hoje somos líderes nos dois países no nosso segmento. Mas se fôssemos entrar hoje, seria completamente diferente, seria outro cenário, players estabelecidos. Antigamente não tínhamos tantos dados do Google, Facebook e outros parceiros que te dessem estatísticas de acesso à internet. Quando pensar na expansão, consuma bastante informação e análise mercado e concorrência e comece um step de cada vez. É difícil fazer uma expansão rápida. Obviamente cada um tem sua característica, mas o ponto é: se você vai expandir, normalmente você tem o seu crescimento no Brasil e fora. Mas com certeza tem muita oportunidade. Só é necessário respeitar as peculiaridades e culturas de cada região.

ECB: A Black Friday já é uma data consolidada no Brasil e inclusive já foi incorporada pelo varejo físico. Como tem sido a experiência da Netshoes com a Black Friday nos últimos anos?

Marcio: “A Black Friday é uma data intrigante. Ela antecipou o Natal e isso mexe com o calendário do varejo brasileiro e não necessariamente para melhor, já que vendemos produtos com desconto às vésperas de outra data muito forte para o consumo. Saímos de uma data em que as pessoas procuravam a sua loja naturalmente e aí sim você entrava em liquidação em Janeiro. Teve uma inversão de calendário muito forte, por isso os varejistas ainda estão se adaptando a esse modelo. Eu acredito que essa é uma data muito mais do online, apesar da grande participação do varejo físico. Um dia de desconto você não tem todo o tempo necessário para consultar as melhores ofertas. Quando você tá na sua casa, no seu conforto consultando com o seu celular, seu notebook e busca as melhores ofertas com várias ferramentas, você fica muito mais à vontade para comprar online. Nesse sentido inovamos quando criamos o Black November, um mês todo de ofertas na Netshoes e Zattini. Com isso diluímos o efeito da Black Friday e diminuímos outro problema sistêmico que é a avalanche de pessoas entrando nas lojas e, acredite, nem todo sistema está preparado para isso. Dessa forma diminuímos também o sentimento de “Black Fraude”, o arrependimento do comprador e conseguimos administrar melhor os prazos de entrega. A ideia é trabalhar em conjunto com os outros lojistas para melhorar a usabilidade da Black Friday e garantir transparência e efetividade da data.

A Netshoes foi vencedora do Prêmio E-Commerce Brasil de Inovação 2016. Leia mais aqui:

https://www.ecommercebrasil.com.br/noticias/e-commerce-brasil-anuncia-vencedores-do-premio-de-inovacao-2016/

Por: Alice Wakai, para Portal E-Commerce Brasil