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Rappi apostará em dados para se destacar na América Latina

Por: Júlia Rondinelli

Editora-chefe da redação do E-Commerce Brasil

Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero e especialização em arte, literatura e filosofia pela PUC-RS. Atua no mercado de e-commerce desde 2018 com produção técnica de conteúdo e fomento à educação profissional do setor. Além do portal, é editora-chefe da revista E-Commerce Brasil.

De acordo com a Reuters, a Rappi usará os dados presentes no aplicativo para ganhar destaque entre os usuários da América Latina. Em entrevista, o co-fundador do aplicativo de entregas, Sebastian Mejia, disse que “vamos ajudá-lo a entender suas oportunidades perdidas”, como melhor momento de oferecer um produto, serviço ou promoção. Os dados servirão para entender “Por que quarta-feira talvez não seja o melhor dia para você, ou por que o almoço é melhor que o jantar”.

A proposta de Sebastian Mejia pode parecer ousada para uma empresa de entregas, mas ajuda a explicar por que a Rappi está gastando muito em uma expansão relâmpago na América Latina. E o segredo desta expansão é o uso estratégico de dados.

Conhecida pelas mochilas laranjas, a Rappi ganhou espaço em cidades como São Paulo, Bogotá e Cidade do México. Há cinco anos no mercado, no entanto, ainda não obteve lucro. E é isso que os executivos tentarão mudar em um futuro próximo, de acordo com a entrevista concedida à Reuters.

Investimento e crescimento acelerado

A rápida expansão da empresa pode ser uma estratégia de alto risco e depende de manter o fluxo de caixa dos investidores até que os lucros se concretizem. “Parte da visão da Rappi é construir um ecossistema”, disse Mejia. “É muito mais que uma empresa de entrega”.

Questionado sobre quanto tempo Rappi obteria lucro, Mejia disse que sua prioridade era crescer rapidamente e que os investidores estavam de acordo com o plano. “Quero atingir o maior número possível de consumidores”, disse ele. “Prefiro investir nisso do que focar em metas de curto prazo ou na lucratividade de curto prazo”.

Hendrick Lee, sócio-gerente da Palm Drive Capital, que investiu na Rappi, disse que os gastos da startup fazem sentido em sua busca para atrair as massas. “Entendo por que o Rappi está gastando muito dinheiro para chegar lá”, acrescentou.

Atualmente, a startup é avaliada em US $ 3,5 bilhões. Além disso, conta com o apoio e investimento do banco japonês SoftBank. Nos nove países em que atua, oferece desde mantimentos, alimentos até medicamentos e móveis. Nos últimos meses, inclusive, passou a oferecer aluguel de patinetes elétricos e serviços bancários, que também terão mais funcionalidades disponíveis no futuro.

Como acontece a coleta de dados

Toda transação gera dados sobre os compradores. Por exemplo: onde eles moram, o que querem e quando quando. Com o objetivo de atrair mais usuários para o aplicativo, a Rappi terá ainda mais material de usuário e possibilidades para coletar informações.

Os dados, por sua vez, não são repassados aos comerciantes que vendem pelo aplicativo. De acordo com Mejia, são fornecidas a eles as tendências de compra.

Luis Techera, chefe de parcerias estratégicas da Rappi no México, defende que a coleta de dados pode ajudar tanto o aplicativo quanto as marcas parceiras. O executivo dá o exemplo da possibilidade de testes usando produtos novos da marca e a oportunidade de entrega da Rappi.

Empresas como Nestlé, Gillete e Petz estão confiando na análise de dados da Rappi ao apostar nas vendas pelo aplicativo. “O Rappi não tem escolha a não ser continuar crescendo. Vemos o Rappi como um veículo que continuará ajudando o desenvolvimento do comércio eletrônico para compras ”, afirmou Luis Macin, vice-presidente de comércio eletrônico da Nestlé no México.

Planos para o futuro da Rappi

A empresa busca expandir suas operações na América Latina a partir de cidades com mais de 5 mil habitantes. Atualmente, a empresa ganha espaço na parte Sul do continente, mas ainda não tem profundidade na América Central.

De acordo com Gabriel Simões, analista de pesquisa de tecnologia do Itaú BBA em São Paulo, a plataforma está tentando “prender” mais usuários dentro dela. A estratégia “poderia dar certo, mas é muito cedo no jogo para garantir que essa seja a melhor estratégia ou não”, defende Simões.

Por mais significativa que seja a presença da Rappi nos países latinos, ela ainda enfrenta grande concorrência de outros aplicativos locais, como é o caso do iFood no Brasil.

De acordo com a empresa Apptopia, existem mais de 10 milhões de usuários ativos mensalmente na Rappi. Além disso, é estimado que o aplicativo forneça entregas para mais de 100 mil empresas.

Dificuldades e oportunidades no caminho da Rappi

Alguns especialistas do setor levantaram preocupações sobre a alta queima de caixa da startup e a necessidade de novos recursos para manter seu crescimento. Eles disseram que a Rappi pode achar difícil afastar os usuários dos grandes descontos e promoções que está oferecendo para conquistá-los, o que pode prejudicar a lucratividade.

Uma entrega na hora do almoço de sopa, tacos e um burrito na Cidade do México pode custar 319 pesos (16,80 dólares), por exemplo. Mas pode chegar a apenas 40 pesos após considerar as ofertas. A Rappi também envia cupons via texto ou push notification com promoções variadas de acordo com o local.