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[Autoentrevista Jack London] Um olhar sobre o e-commerce no Brasil e no mundo

Por: Alice Wakai

Jornalista, atuou como repórter no interior de São Paulo, redatora na Wirecard, editora do Portal E-Commerce Brasil e copywriter na HostGator. Atualmente é Analista de Marketing Sênior na B2W Marketplace.

Por Mariana Anselmo para a Revista E-Commerce Brasil 2015. 

Em entrevista à Revista E-Commerce Brasil 2015  Jack London, criador da Booknet (considerada a primeira loja virtual do Brasil) falou sobre e-commerce, inovação, futuro e família. Confira:

ECB: Estamos acostumados a ter sempre um grande nome do varejo online na seção Entrevistas da Revista E-Commerce Brasil. E dessa vez não é diferente. Como vocês puderam ler, temos Sucharita Mulpuru, VP e Analista Principal da Forrester Research, falando sobre as tendências do varejo online mundial. Mas dessa vez decidimos fazer algo diferente com um outro grande nome do e-commerce brasileiro: Jack London. Participando também desta edição com um artigo, pedimos a Jack pensasse nas perguntas que, para ele, fossem muito pertinentes nesse momento (dado a situação econômica do País e ao mercado de e-commerce como um todo). Sempre solícito, Jack aceitou o nosso desafio e o que o você lê a seguir é uma autoentrevista com pontos de vista surpreendentes, perguntas inusitadas e até confissões desse grande profissional (e avó babão!). Sendo um dos precursores da Internet no Brasil, como você avalia o desempenho da rede no País recentemente?

Jack: Do ponto de vista quantitativo, não estamos mal. As estatísticas mais recentes falam em cerca de 105 milhões de usuários. No entanto, estamos criando um mercado muito diferente do que o de outros países. Cerca de 70% de nossos acessos à Internet são feitos via smartphones e tablets, a venda de PCs e laptops caiu aproximadamente 34% no País em março de 2014, e o tempo médio de cada acesso à rede vem diminuindo. Há dois fenômenos acontecendo ao mesmo tempo: uma explosão de novas startups, especialmente aquelas voltadas para o mercado de aplicativos, mas, ao mesmo tempo, o mercado está se tornando mais conservador. Os sites de informação com maior número de acessos são os das tradicionais empresas de mídia, não há nada novo nessa área, e no comércio eletrônico, os dez sites com maior número de acessos e vendas aqueles das grandes cadeias varejistas em operação no País. Ou seja, excetuando o uso das redes sociais, a Internet brasileira é hoje uma reprodução fiel do que eram as estruturas de informação e comercialização nas últimas décadas. Não temos entre nós uma Amazon ou um Huffington Post. E, estranhamente, não conseguimos criar nenhuma rede social brasileira, ao contrário do que acontece na China, na Rússia e na Índia.

ECB: É possível identificar na atualidade em que aspectos a Internet brasileira e o e-commerce estão defasados ou adiantados tanto no mercado corporativo quanto no individual?

Jack: Ter mais de 100 milhões de usuários é sinal de avanço inequívoco. O sonho que embalava a todos no final da última década do século passado – de que o e-commerce até o ano 2020 seria responsável por cerca de 20% do mercado mundial – não se realizou, nem aqui, nem em qualquer outra parte do mundo. Mas continua crescendo a taxas expressivas globalmente.

Nesse caminho, algumas frustrações de grande porte, que num certo momento ganharam as grandes manchetes dos meios de comunicação: os sites de leilão e os de compras coletivas, que desapareceram como nuvens de fumaça.

Acompanhamos todos esses movimentos aqui no Brasil. Dois setores estão muito avançados: o turismo (hotéis e voos) e o mercado bancário. Nessas duas áreas, o uso da Internet no Brasil é majoritário e oferece condições de usabilidade e segurança negocial acima da média. No turismo, acompanhamos um fenômeno internacional, mas no mercado bancário somos líderes mundiais.

Se você somar as operações via Internet com saques e operações em caixas eletrônicos (que também são operações à distância), já passamos de 80% do mercado. É muito rara hoje a abertura de novas agências bancárias, e começa a ser frequente o fechamento de agências. Onde estamos inteiramente defasados: na pesquisa tecnológica, na criação de softwares e na criação de sites com presença mundial. Nossos sites não saem de casa, com raras exceções.

“Ter mais de 100 milhões de usuários é sinal de avanço inequívoco.”

ECB: O desenho do e-commerce brasileiro, na sua avaliação, atende às demandas de mercado? O que poderia ser aperfeiçoado para reduzir a resistência de parte dos consumidores?

Jack: A cada ano, desde 2011, as vendas na Internet brasileira crescem regularmente a uma taxa de 25% a 30% todos os anos. Estamos avançando muito em duas frentes: mercado de consumo feminino (roupas e cosméticos) e mercado de material e roupas esportivas.

Onde estamos fraquejando? Em primeiro lugar, no crescimento da base de usuários do e-commerce. Dos 105 milhões de usuários de Internet no Brasil, apenas 53 milhões são usuários do e-commerce. Acredito que o melhor que temos a fazer é usar meios de promoção para alavancar o crescimento do ticket médio da Internet hoje, que está em torno de R$ 330,00 por pedido, e que pode chegar a R$ 500,00 em 2015.

ECB: Qual o segmento da Internet que, na sua opinião, tem maior potencial de crescimento e qual você avalia que já está saturado?

Jack: Há muitas possibilidades de crescimento no setor de objetos pessoais, roupas e acessórios para jovens e para a terceira idade. Esse mercado, o da terceira idade, cresce muito mais do que os outros. Estamos envelhecendo acentuadamente, e cerca de 35% das compras via e-commerce no Brasil são feitas por pessoas acima de 45 anos.
Outra área que vai crescer muito é a de entretenimento, tendência mundial que já chega ao Brasil. Nos Estados Unidos, o site que exibe hoje a liderança do mercado, por tempo de uso (dado básico para a publicidade), é o NetFlix. Pergunta que não quer calar: o que vai acontecer com a televisão? Ver um filme, um show ou um jogo na TV que você acessou no NetFlix, na Net ou na Sky é ver televisão ou “ver” Internet?

ECB: Quais áreas da Internet são as mais indicadas para o pequeno e médio investidor?

Jack: Sites de relacionamento local em pequenas comunidades, bairros, condomínios, pequenas cidades, especialmente de serviços. Também entram aí educação online e comércio de pequenas utilidades para a casa – medicina, educação e serviços online.

ECB: Quais os seus investimentos futuros?

Jack:  Educação profissional continuada, informação estruturada sobre o mercado de e-commerce e netos. Principalmente netos!