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Desbravadores do e-commerce aferem os lucros

Por: Redação E-Commerce Brasil

Equipe de jornalismo E-Commerce Brasil

Desbravador. Assim pode ser definido o espírito de quem decidiu apostar no e-commerce mais de dez anos atrás, quando o ambiente virtual causava estranheza e era assombrado pela insegurança. Além de ousadia, foi preciso muito trabalho para provar a consumidores, fornecedores e parceiros em geral que a internet deveria se transformar, em pouco tempo, num grande e profícuo palco de negócios.

“Cheguei a escanear logotipo de fornecedor para colocar no site porque a empresa só o tinha em papel”, lembra Marcio Waldman, veterinário apaixonado por tecnologia que decidiu fechar sua clínica para fundar, em 2005, o PetLove, especializado no comércio de produtos para animais domésticos. O envolvimento do médico com e-commerce já vinha desde 1999, quando, por outras plataformas, decidiu apostar neste tipo de comércio depois de conhecer um serviço semelhante fora do país.

O mercado brasileiro até então havia se habituado a consumir livros e CDs via internet, depois que o Submarino inaugurou o filão, mas foi preciso um discurso convincente para que Waldman fizesse a cadeia de suprimentos, parceiros e consumidores acreditarem que poderia ser também possível comprar, por exemplo, ração para cães pelo mouse. “Tive que explicar muito para os Correios que isso era viável”, lembra.

Os primeiros três anos da empresa foram bastante difíceis, sem venda de produtos. Desde 2010, a empresa conta com aportes de fundos de investimento e, por conta disso, pode fortalecer marketing, estrutura logística e alçar voos mais ousados, como o lançamento de marcas próprias. A meta para 2014 é ter 10% das vendas concentradas nesta categoria.

O PetLove, cuja sede é em São Paulo, tem hoje um galpão de cinco mil m2, 90 colaboradores e, um portfólio de 13 mil itens. Entre outubro de 2012 e setembro de 2013, as vendas do site ultrapassaram um milhão de artigos.

História para contar também não falta aos irmãos Thiago e Leandro Ramos, fundadores do KaBuM!, em 2002, quando tinham, respectivamente, 21 e 17 anos de idade. Já trabalhavam juntos numa loja física de produtos de informática criada por Thiago e resolveram investir no ambiente eletrônico por conta da experiência de Leandro. Ante o portfólio de 900 produtos durante o primeiro ano de operação, o KaBuM! contabilizou no último ano mais de 18 mil itens em diferentes categorias para atrair toda a família.

Neste caso também os Correios tiveram que ser convencidos de que, sim, era possível entregar um produto de hardware para alguém. O ineditismo do negócio demandava conversas ainda mais duras em outras áreas. Era impossível contar com linhas de crédito, uma vez que os bancos julgavam os empresários muito jovens e não tinham certeza de que este tipo de negócio seria realmente viável. Do outro lado, o consumidor tinha total insegurança em colocar os dados do seu cartão de crédito num ambiente desconhecido e julgado inseguro.

Os irmãos Ramos perceberam que era preciso tranquilizar o consumidor e dar a ele a segurança para comprar sem medo. O site criou um sistema pelo qual a entrega do produto seria feita pelos Correios e o consumidor só pagaria pelo produto quando o recebesse. “Era preciso dar risco zero ao consumidor”, afirma Leandro Ramos.

Desde sua criação, o KaBuM! já atendeu mais de quatro milhões de pessoas e mais de 50 mil empresas em 4,8 mil cidades do país. A empresa tem quatro centros de distribuição e abriu, em meados deste ano, um escritório nos Estados Unidos para poder trazer mais rapidamente os lançamentos do exterior ao mercado nacional.

Os investimentos em pessoal ganharam novo contorno em tempos de concorrência acirrada. Se antes a área de logística monopolizava a atenção, hoje o marketing, compras e administração exigem profissionais mais especializados e atenção maior por parte da empresa. No total, são 270 funcionários.

Concorrência, aliás, é o grande desafio. Mais de uma década atrás, era preciso atrair o consumidor para o universo virtual e convencê-lo a comprar eletronicamente. Hoje, o consumidor brasileiro já está habituado, mas precisa ser convencido de que determinado site é melhor que outro, avalia Felipe Wasserman, professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) nas áreas de e-commerce e comportamento do consumidor on-line.

Segundo ele, muita gente ainda acredita que criar um negócio na internet é fácil porque é barato, mas isso está errado porque aparecer para o consumidor constantemente para gerar venda e, consequentemente, conquistar boa negociação junto à cadeia de suprimentos exige investimento alto e um trabalho estratégico.

Ele próprio é empreendedor na área. Recentemente adquiriu um site voltado exclusivamente a mamães e bebês, com entrega de produtos por meio de assinaturas, o Petitebox. Atualmente, são 500 assinaturas em vigor, mas a ideia é que este total salte para duas mil em médio prazo.

Para Gerson Rolim, diretor da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico – Câmara-e.net, os gargalos na área da logística, qualidade da banda larga e segurança são pontos que se mantêm na pauta ainda hoje para os empresários do setor. Há outra questão a ser definida, a do Protocolo 21, que vem movimentando o setor.

As perspectivas de crescimento, porém, são mais perceptíveis e atraentes. Nos últimos quinze anos, segundo a entidade, o Brasil tem registrado um crescimento médio entre 20% e 25% ao ano no comércio eletrônico, com igual previsão para os próximos cinco.

Depois de um início difícil, onde até reestruturou o foco do negócio, a VTex, nos últimos doze meses, abriu clientes em sete países da América Latina, segundo Mariano Gomide Faria, um dos fundadores. A partir do ano que vem, a Europa está nos planos da empresa.

Fonte: Valor Econômico