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Cartões de crédito e débito representam 30% da margem do varejo

Por: Vivianne Vilela

Diretora de Conteúdo do E-Commerce Brasil

Vivianne Vilela atua como Diretora de Conteúdo, do E-Commerce Brasil há mais de 11 anos. É responsável pela curadoria dos eventos, dentre eles o Fórum E-Commerce Brasil (maior evento de e-commerce das Américas). Passou mais de 7 anos trabalhando em projetos nacionais para promover a inclusão, transformação e expansão no uso da tecnologia dos pequenos negócios no Brasil pelo Sebrae Nacional.

Trabalhar com cartões de crédito e débito pode representar até 30% da margem líquida de uma loja. Especialistas recomendam aos lojistas que acrescentem esse custo aos preço de venda

Quando o consumidor resiste em abrir a carteira, os lojistas costumam prestar ainda mais atenção aos custos. Até porque o equilíbrio do orçamento passa a ser uma questão de sobrevivência.

E um custo que volta à tona nesta época de economia retraída é o do uso do cartão de crédito ou de débito. Pode parecer um contrassenso, mas quanto menor o faturamento da loja, maior é a taxa negociada com as administradoras de cartões.

Fernanda Della Rosa, assessora econômica da Fecomercio SP, fez uma simulação para identificar o impacto do custo da operação com cartão sobre a margem líquida de uma loja.

Chegou à conclusão de que este custo representa 30% para o comerciante que fatura R$ 200 mil anuais, paga uma taxa de 5% para a administrador, além do aluguel de uma maquininha (POS, ponto de venda ou ponto de serviço). Isto é, se a margem líquida da loja for de R$ 100, R$ 30 ficam com as administradoras de cartões.

Custos com cartoes

No caso de uma empresa que fatura R$ 1,5 milhão por ano e paga uma taxa de 5%, o custo da operação chega a representar 26% da margem líquida. Na simulação, a consultora considerou uma margem líquida de 20% para a loja.

“Como o movimento da economia está mais lento, a taxa paga às administradoras contribui para diminuir a rentabilidade líquida do estabelecimento, apesar de ser sempre proporcional”, afirma Fernanda.

Por isso, não é raro o lojista oferecer para o consumidor descontos em pagamento em dinheiro, prática que, segundo o Conselho Nacional de Defesa do Consumidor (Resolução 34/89), é indevida. O entendimento é que o preço à vista, ou seja, pago em dinheiro, cartão de crédito ou débito deve ser o mesmo.

O comerciante sabe disso, porém, em situação de aperto, ele oferece, sim, desconto para ter em mãos o dinheiro vivo. Tudo para não ter de entregar parte da já reduzida margem líquida para as administradoras de cartões. Um projeto do deputado Guilherme Campos (SP) defende uma legislação que permita ao lojista fazer a diferenciação de preços.

“O fato é que, infelizmente quando se fala de taxa negociada pelas administradoras, não há o que fazer”, diz Fernanda. “O que poderia ser feito já foi feito, pois o BC [Banco Central] passou a atuar neste mercado por meio de regulamentações, mas sem interferir em taxas.”

E consumidor, cada vez mais, também não abre mão de ter a facilidade de pagar o que for com cartão de crédito ou débito, seja o cafezinho no bar da esquina, o restaurante, o combustível para o carro ou a nova geladeira.

Os números da Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços) comprovam a preferência crescente por esta modalidade de pagamento, amplamente disseminada mundo afora.

No primeiro semestre deste ano, o valor movimentado com cartões de crédito e de débito no Brasil atingiu R$ 455 bilhões, 16,3% superior ao registrado em igual período de 2013. Outro dado que revela a força dos cartões: no primeiro trimestre deste ano, responderam por 27,8% do consumo das famílias. Este percentual vem se elevando desde 2008 –era de 17% no primeiro trimestre de 2008, por exemplo.

 

IMPACTO DE USO VARIA POR SETOR

As taxas cobradas pelas administradoras dos lojistas variam de 1,5% a 5%, segundo Hélio Biagi, presidente do conselho da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBCV). Alguns segmentos, diz ele, porém, perdem mais do que outros nas operações com cartões de crédito e débito.

Os que mais perdem são os supermercados e as drogarias, que possuem margens líquidas menores, de 2% a 3%. O varejo de vestuário, calçados e eletroeletrônicos já perdem menos porque trabalham com margens líquidas maiores, de 6% a 10%, de acordo com Biagi.

“A utilização de cartões de crédito gera um custo adicional, sim, em relação ao pagamento em dinheiro ou cheque, mas propicia para o lojista ampliação de sua fatia de mercado, maiores tíquetes (20% a 30% superiores), maior segurança e eventuais reduções em custos com processos de crédito, cobrança e despesa de marketing para aumento de vendas”, afirma Biagi.

O próprio consumidor entende que comprar com cartão é mais prático, mais seguro, tanto que ele também aceita pagar anuidades para as administradoras para poder ter os seus cartões. É cada vez mais raro ver o brasileiro com apenas um cartão de crédito ou débito na carteira.

 

TAXAS JÁ FORAM AINDA MAIORES

Os lojistas podem não gostar do tamanho das taxas, mas o fato é que elas já foram até maiores. Levantamento da Abecs mostra que a taxa média cobrada dos estabelecimentos nas operações de cartões de crédito e débito no primeiro trimestre deste ano foi de 2,72%. Em 2008 e 2009, segundo a associação, este percentual já esteve bem mais perto de 3%.

Marcelo de Carvalho, sócio da Montotex, outra loja de confecções e acessórios que fica no centro de São Paulo, já não teve o mesmo sucesso na negociação das taxas. “Considerando o aluguel das máquinas, a minha taxa fica em torno de 5% a 6% sobre a venda. Não existe flexibilidade de negociação nem neste momento”, afirma.