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Varejo chinês com jeitinho brasileiro: entrevista com o Country Manager do AliExpress

Por: Júlia Rondinelli

Editora-chefe da redação do E-Commerce Brasil

Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero e especialização em arte, literatura e filosofia pela PUC-RS. Atua no mercado de e-commerce desde 2018 com produção técnica de conteúdo e fomento à educação profissional do setor. Além do portal, é editora-chefe da revista E-Commerce Brasil.

Country Manager do AliExpress conta como gigante chinesa conquistou consumidores no Brasil

Parcelamento das compras, frete grátis acima de determinado valor e entregas em uma semana: o AliExpress soube conquistar o consumidor brasileiro. Fundado em 2010 na China, o gigante varejista vem pouco a pouco conquistando mercados do mundo inteiro com suas estratégias competitivas no ambiente digital.  E com o público brasileiro não seria diferente. Depois do Dia dos Solteiros do ano passado, data de grandes promoções promovida pelo AliExpress, os relatórios logísticos da empresa registraram produtos vindos da China chegando nas cidades do Brasil em menos de uma semana após a compra.

Convidado pelo E-Commerce Brasil para falar um pouco sobre os planos da empresa em escala global em 2021, Yan Di, Country Manager do AliExpress no Brasil, explicou que algumas mudanças provocadas pela pandemia vieram para ficar. E sem dúvida para beneficiar o
consumidor.

E-Commerce Brasil: Você acredita que o AliExpress virou uma opção de compra viável para o consumidor brasileiro atualmente?

Yan Di: Sem dúvidas, especialmente neste momento desafiador em que uma pandemia afeta a economia, e os brasileiros precisam economizar. Ao conectar os brasileiros com fabricantes e distribuidores do mundo todo, viabilizamos o acesso à maior variedade de itens do mercado, bem como melhores preços. Desde o ano passado, estamos operando quatro voos fretados semanais para o Brasil, o que permite entregas internacionais em prazos entre dez e 30 dias.

E-Commerce Brasil: É possível prever se o AliExpress vai figurar entre uma das principais opções de compra em marketplace (quando pensamos nas principais escolhas de hoje, como Amazon, Mercado Livre e Magazine Luiza) para os consumidores no Brasil?

Yan Di: O AliExpress já é uma opção recorrente dos brasileiros para compras online, além de uma referência em preço baixo e variedade de produtos. Pesquisas de mercado indicam que 90% dos consumidores locais reconhecem nossa marca no Brasil, e o número de usuários no país cresce de forma consistente.

E-Commerce Brasil: Quais investimentos do AliExpress para os consumidores do Brasil e da América Latina você pode compartilhar conosco que passarão a fazer parte da realidade da marca nos próximos anos?

Yan Di: Há uma série de investimentos continuados focados em melhorar a experiência do usuário que compra no AliExpress. Uma delas, por exemplo, é o uso dos voos fretados semanais, que reduziram fortemente o tempo de entrega, um item importante para o consumidor local. Além de logística, implementamos critérios ampliados de frete grátis, de devolução de pedidos sem custos para endereços no Brasil e atendimento por nativos de língua portuguesa.

E-Commerce Brasil: Quais as principais dificuldades em trabalhar com o público latino-americano? E por quê?

Yan Di: O Brasil e a América Latina possuem peculiaridades, como qualquer região do mundo. O usuário local é, na média, apaixonado por tecnologia, superconectado e gosta de recursos que o ajudem a ganhar tempo e comodidade. A região oferece, ainda, uma grande oportunidade de crescimento para serviços de e-commerce, uma vez que, no Brasil, apenas 5,3% do faturamento total do varejo é digital*, ou seja, vem de vendas online. Para efeito de comparação, esse indicador é de 37% na China.

Nota da repórter: a previsão da Euromonitor em outubro de 2020 era a de que a participação do comércio eletrônico saltasse de 8% para 12% até o fim do ano no Brasil.

E-Commerce Brasil: E quais são as principais diferenças percebidas pela plataforma ao vender aqui? O AliExpress adapta de alguma maneira o conteúdo ao qual os consumidores brasileiros têm acesso?

Yan Di: Como um marketplace global que conecta vendedores e compradores em todo o mundo, há uma adaptação de idioma e linguagem para cada país em que atuamos. De um modo geral, essa adaptação é feita de forma automática, por uma ferramenta de inteligência artificial. Do ponto de vista dos hábitos de compra, há especificidades muito claras, como as compras parceladas, que são populares no Brasil, mas não tão comuns em outros mercados.

E-Commerce Brasil: Sobre experiência de entrega: hoje qual é a principal dificuldade em trazer mercadorias para o Brasil? Quais estratégias o AliExpress tem previsto para diminuir os prazos e custos de entrega?

Yan Di: Em um país de dimensões continentais como o Brasil e distante de centros produtores, como a China, certamente as entregas são um item desafiador. Por isso, a Cainiao, braço de logística do Alibaba Group, passou a fretar quatro voos para o Brasil semanalmente. Os voos conectam nossos principais centros de logística no mundo ao Brasil e são a forma mais confiável de garantirmos o transporte de mercadorias e prazos de entrega.

Para reduzir prazos, o serviço de e-commerce embarca todos os pacotes com destino ao Brasil já separados de acordo com a região geográfica de seu destino final. Ainda durante o transporte aéreo, arquivos digitais são enviados à alfândega com os dados de cada pacote que entrará no país, permitindo o desembaraço eletrônico na chegada. Uma vez em território nacional, os pacotes são enviados, com prioridade, ao seu destino final pelos Correios, parceiro logístico com maior rede de transporte e presença em 100% das cidades brasileiras.

E-Commerce Brasil: O que você espera das operações do Alibaba no Brasil para um futuro próximo? Pode compartilhar algum plano da empresa para os consumidores brasileiros?

Yan Di: Com o fortalecimento da economia no mundo e no Brasil no pós-pandemia e a recuperação na renda das famílias, esperamos uma maior expansão do varejo online global em 2021 e 2022. Nesse sentido, trabalhamos para conectar mais pessoas que querem vender com pessoas que desejam comprar, sempre de uma forma que possamos entregar uma ótima experiência para ambos os lados da transação.

E-Commerce Brasil: Como a pandemia impactou as estratégias de vendas e entregas do AliExpress em uma escala global? Quais foram as mudanças adotadas pela empresa que devem permanecer mesmo depois do fim da pandemia?

Yan Di: A pandemia exigiu de nós uma rápida adaptação à nova realidade dos consumidores brasileiros, que passaram a ficar mais tempo em casa e pesquisar mais antes de tomar decisões de compra.

O primeiro impacto que percebemos foi uma mudança no tipo de item comprado. Falando especificamente do Brasil, produtos relacionados à casa e ao jardim, eletrodomésticos e aparelhos de ginástica tiveram uma alta acima de 130% em vendas, o que demonstra que as pessoas buscaram mais conforto para suas casas no período de quarentena. Então, incluímos mais itens desse tipo em nossos serviços de frete grátis, agora disponíveis para compras a partir de US $15. Também implementamos novas formas de pagamento, como o parcelamento em seis vezes sem juros, modalidade que dá mais conforto ao consumidor em tempos de crise financeira.

A pandemia, que afetou viagens no mundo todo, nos fez optar por entregas aéreas via voos fretados, modelo de frete que dá ao consumidor mais previsibilidade sobre a data de entrega de seu pacote, além de implementarmos serviços como suporte e atendimento em língua portuguesa e devolução de pedidos sem custos para endereços no Brasil. Essas melhorias vieram para ficar.

E-Commerce Brasil: Quais outras estratégias de venda além do marketplace o Alibaba planeja usar nos próximos anos? Redes sociais e live commerce são uma realidade prevista para as vendas no Brasil?

Yan  Di: O foco do AliExpress é o marketplace. Tecnologias e plataformas ajudam a fomentar as vendas do marketplace. Para os próximos dois anos, prevemos a ascensão do modelo de vendas baseadas em transmissões ao vivo, o live commerce: que permite a qualquer pessoa, de qualquer lugar, transmitir qualquer coisa com o objetivo de venda. Na China, país que possui maior maturidade no uso desse método de vendas, a modalidade tinha previsto fechar 2020 transacionando US$ 155 bilhões, 10% de todas as vendas online na China. Para 2021, a expectativa dos analistas é de que 20% das vendas digitais chinesas sejam feitas via live commerce, o que deve dobrar também o montante transacionado por esse método.

Guardadas as diferenças de tamanho entre os dois mercados, é natural que essa tendência se replique em outros países, como o Brasil. Em nossa estratégia de mídias sociais proprietárias, o live commerce é um recurso que já utilizamos muito.

E-Commerce Brasil: É possível dizer que, para o Alibaba, o Dia dos Solteiros (Single’s Day, realizado no dia 11 de novembro) se tornou uma data ainda mais relevante do que a Black Friday? Qual é o principal ponto de destaque dessa data para a empresa hoje?

Yan Di: Do ponto de vista financeiro, certamente sim. Em 2020, a data gerou um faturamento de US$ 74 bilhões ao Alibaba. Para efeito de comparação, a Black Friday faturou menos de US$ 8 bilhões nos Estados Unidos no mesmo ano.  Aqui no Brasil, as vendas do Dia dos Solteiros foram 100% maiores em 2020 do que um ano antes, representando a maior taxa de crescimento percentual entre todos os países em que o Alibaba atua.

Além dos números excepcionais de vendas, a diferença do 11/11 para as outras datas é o conceito de festival. O Dia dos Solteiros é uma mistura de elementos de diversão e entretenimento com promoções agressivas na Internet. É importante lembrar, no entanto, que
o AliExpress contribui para BlackFriday e, anualmente, ações promocionais são criadas para essa data, inclusive no Brasil.

E-Commerce Brasil: No Brasil, por mais que vendam, essas duas datas ainda não alcançaram tanta relevância quanto em outros países. Você acha que de alguma forma falta aqui uma data de vendas própria para tamanho engajamento?

Yan Di: Um ponto que ajuda a explicar sua colocação é o fato de, no Brasil, o percentual que o e-commerce representa no total de vendas do varejo ainda ser, comparativamente, mais baixo do que em outras economias. Há, no entanto, um grande espaço de desenvolvimento para vendas digitais brasileiras, como comprovou-se neste período de pandemia. Naturalmente, isso terá impacto positivo nas datas promocionais, como o Dia dos Solteiros e a Black Friday.

Por Júlia Rondinelli, da Redação do E-Commerce Brasil

*Este texto foi retirado da Edição 61 da Revista E-Commerce Brasil, publicada em fevereiro