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Como a 3M transforma seus funcionários em empreendedores

Por: Eduardo Mustafa

Graduado em 'Comunicação Social - Jornalismo' com experiência em negócios, comunicação, marketing e comércio eletrônico e pós-graduado em 'Jornalismo Esportivo e Gestão de Negócios'. Foi editor do portal E-Commerce Brasil, do Grupo iMasters (2015 /2016), e atualmente é executivo sênior de contas na Gume

O sonho de toda empresa é contar com funcionários que se comportem como verdadeiros donos do negócio. Gente que salta da cama motivada, identificada com seu trabalho e entusiasmada por aprender coisas novas, colher resultados de uma boa execução e fazer diferença na vida da organização e de seus clientes. Essas pessoas se comprometem sem limitações, obstinadas em solucionar problemas e gerar valor, colaborando com diversos grupos e inspiradas a trazer ideias e contribuições para o sucesso da empresa e da sua equipe.

Esse colaborador não é assim um fenômeno tão raro. É o que chamamos de intraempreendedor. Aquele que tem a energia, o senso de propósito, a inquietude e a diretriz para a execução de um empreendedor, mas que não necessariamente deseja montar o seu próprio negócio. Realiza-se por empreender dentro da uma organização existente, motivando-se continuamente por desafios e projetos ambiciosos de transformação.

O fator determinante para que uma empresa se torne inovadora é a construção de uma cultura organizacional que transforme funcionários em intraempreendedores. Pena que não seja assim tão simples como distribuir uma pílula de superpoderes ou convocar as equipes para um único workshop de habilidades comportamentais. Entretanto, 3M, Google, W.L. Gore, Intel e Lockheed Martin são alguns exemplos de corporações que aceleram seu crescimento ao fomentar o intraempreendedorismo.

A cultura de inovação é moldada diariamente pelo que pregam as lideranças, mas, acima de tudo, como agem na prática. Coerência entre vida real e discurso é como o fermento que faz o bolo crescer. A cultura deve estabelecer um ambiente de liberdade de ideias, onde ninguém tem receio de expor opiniões.

A diversidade de formação, pensamento e background é condição obrigatória para possibilitar ideias mais ricas, completas e disruptivas. O espírito de colaboração entre as pessoas é a engrenagem que multiplica aprendizados e torna o desenvolvimento de soluções mais veloz e robusto. Não esqueça jamais de adicionar os princípios da meritocracia, dos mecanismos de reconhecimento para quem cria algo novo e precioso e da tolerância ao erro de descoberta.

Na 3M, essa cultura não foi moldada por seus fundadores, mas sim por seus primeiros líderes, em cada gesto, em cada tomada de decisão. Ainda no início do século XX, William Mcknight, dirigente da companhia por 4 décadas, acreditava fortemente que era necessário encorajar os funcionários a tomar iniciativas, sem alimentar um comportamento passivo e dependente.

A 3M aprendeu desde cedo a delegar responsabilidades, conceder autonomia e sinalizar a todo colaborador que deveria passar muito tempo próximo ao cliente, gerando conhecimento para solucionar seus problemas. “Contrate bons funcionários e deixe-os em paz” é uma das frases mais poderosas de Mcknight, sintetizando suas crenças no intraempreendedor de alta performance como força motriz da organização.

Nos anos 1950, acrescentamos mais um elemento para compor esse sistema que faz da 3M uma das empresas mais inovadoras do mundo há tantas décadas: é a lei dos 15%. Em 2012, eu trouxe ao Brasil o inventor do Post-it®, o cientista e ex-funcionário da 3M, Art Fry, que me relatou como se deu a criação da tal regra interna que permitia e estimulava os membros da comunidade técnica da empresa a dedicarem parte de seu tempo para criar um projeto de motivação pessoal. A convocação era para que não nos limitássemos a trabalhar apenas nas ideias priorizadas pelas lideranças, definidas nos planejamentos estratégicos. O próprio Art Fry se beneficiou dessa regra 3M ao criar o Post-it®.

Por anos, ele desenvolveu seu “projeto de estimação” (Pet Project) de maneira independente, até conseguir levantar dados promissores e envolver outros colegas que levaram ao lançamento dos blocos autoadesivos em 1980, tornando-se um dos maiores cases de inovações, gerado pela regra dos 15%. A 3Mtm Sun Gun é uma pistola de luz que simula a eficiência da iluminação solar para acertar a tonalidade da cor no trabalho de repintura automotiva e identificar defeitos da superfície do carro. Adivinha? Nasceu da regra dos 15%.

Os filmes de retroprojeção Vikuititm para comunicação visual, usados recentemente para montar cenários de alguns programas televisivos de maior audiência no Brasil, é outra solução que nasceu desse incentivo. E não é só coisa que acontece na matriz norte-americana.

Há poucos meses, colegas criativos da 3M Brasil, apaixonados pelas possibilidades da tecnologia 3D, desenvolveram uma peça criada por manufatura aditiva que gerou o sistema 3M Venturi de aspiração de pó para lixamento a seco, com muitas vantagens para operações em oficinas.

O que está por trás desse mecanismo é alimentar o espírito empreendedor dos funcionários, deixando claro que podem e devem dedicar parte de sua atenção, tempo e energia para um projeto em que acreditem, usando recursos da empresa para criar algo de valor. Em termos de tempo, é pouco mais de uma manhã por semana. Porém, não se trata de uma mera questão de horas dedicadas, mas sim da grande mensagem:

(destaque) Trabalhe na sua ideia! Empreenda dentro da própria organização! Estude e Desenvolva aquele projeto que é objeto de sua paixão.

O resultado é que todos ganham. O mercado se beneficia por grandes inovações, a empresa cresce aceleradamente, atraindo e retendo talentos, e o funcionário desperta animado em aprender, implementar e fazer diferença no mundo.

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