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Brasil vira "rei" do pote de plástico

Por: Alice Wakai

Jornalista, atuou como repórter no interior de São Paulo, redatora na Wirecard, editora do Portal E-Commerce Brasil e copywriter na HostGator. Atualmente é Analista de Marketing Sênior na B2W Marketplace.

Caixinhas para levar o biscoito ou o sanduíche de merenda das crianças. Marmita com divisórias para o almoço no trabalho. Recipientes para armazenar alimentos na dispensa de casa, num esforço para driblar a inflação.

A crise econômica abriu um universo de prateleiras para potinhos de plástico. Em 2016, a americana Tupperware viu sua unidade brasileira assumir o posto de líder em vendas do grupo globalmente. Em dois anos, a fábrica da marca no Rio — a única no país e em operação há 40 anos — subirá ao posto de maior no mundo, superando a unidade fabril mexicana.

No Brasil, nossa produção vem crescendo 20% ao ano. Atualmente, a fábrica de Guaratiba, na Zona Oeste do Rio, tem 40 máquinas, enquanto a do México tem 50. Mas, no ritmo atual, vamos superar a do México dentro de dois anos — explica Sebastián Nilo, diretor de Operações da Tupperware Brasil. — Nos últimos cinco anos, o Brasil vinha se colocando entre os cinco maiores mercados da companhia. Este ano, subiu a líder mundial.

No segundo trimestre do ano, as vendas da companhia no país medidas em reais subiram 41%, na comparação com abril a junho de 2015. Em dólar, o crescimento foi de 22%, impulsionando a expansão do resultado da Tupperware na América do Sul no período, que cresceu 8%, e amenizando o revés no resultado global, que encolheu em 4%, para US$ 564,7 milhões. Os mercados emergentes representaram 66% do resultado.

‘Marmita virou tendência’

O bom desempenho do Brasil para a fabricante de utensílios em plástico colorido é creditado a uma combinação de fatores, diz Luiza Souza, diretora de Marketing da Tupperware Brasil.

— De um lado, oferece uma oportunidade de ganho real aos colaboradores. De outro, é uma marca forte na memória do consumidor, que se lembra das reuniões na casa de amigos para conhecer os produtos, além da qualidade do material usado e do design das peças — conta ela. — No Brasil, com a ascensão e queda da classe média por causa da recessão, as pessoas querem manter o nível de indulgência conquistado nos últimos anos. E cresce a demanda por utensílios para acondicionar alimentos para estocar, congelar, transportar. A linha de potes para micro-ondas vendeu acima da média da companhia no segundo trimestre deste ano.

A recessão tem papel relevante na escalada de vendas de empresas como a Tupperware, avalia Ana Paula Tozzi, presidente da GS&AGR Consultores:

— Com a inflação e o aperto no orçamento, o segmento de refeições fora do lar sofreu um baque. Levar marmita para o trabalho virou tendência, assim como congelar comida em casa. Cresceram as compras em atacarejos. Isso também demanda utensílios para armazenar alimentos. Abre mercado para quem produz toda sorte de potes plásticos.

Entre janeiro e agosto, a inflação da alimentação fora de casa bateu 5,39%, após alta de 10,38% no ano passado, segundo dados do IBGE. No supermercado, o carrinho também ficou mais apertado. No acumulado de 2016, as compras estão 11,10% mais caras, perto do aumento registrado no ano de 2015, que foi de 12,92%.

— Meu intervalo para almoço é curto, não dá tempo para sair para comer fora. Então optei por levar a comida de casa. É mais prático, e eu como melhor. Faço o mesmo com meus filhos, que levam o lanche do colégio em potes plásticos — conta a médica Paula Ferraz. — Em casa, uso potes para guardar produtos que compro em embalagem de refil, por exemplo, ou biscoitos.

No caso da Tupperware, conta a favor o fato de ser uma empresa do segmento de venda direta, conhecida como porta em porta, com uma rede de consultores comercializando os produtos.

— O impacto ruim da crise para o varejo é positivo para o segmento de venda direta, que se abre como uma oportunidade de trabalho ou de complementação de renda — avalia a presidente da GS&AGR.

O segmento de vendas diretas ficou estável no primeiro semestre, frente a janeiro a junho de 2015, com R$ 19 bilhões no Brasil, de acordo com a associação do setor, a ABEVD. Em 2015, quando a crise se agravou, as vendas não subiram, mantendo-se em R$ 41,3 bilhões, apenas 0,8% abaixo do ano anterior, mas o número de pessoas atuando no setor avançou 3,6%.

Exército de consultoras

O exército de consultoras da Tupperware no Brasil aumentou em 19% de abril a junho. Para manter a engrenagem rodando, a companhia criou uma espécie de plano de carreira para os revendedores, dos quais 92% são mulheres. A pessoa ingressa como consultora e pode avançar até chegar a distribuidora. Com isso, a empresa não precisa dispor de centros de distribuição espalhados pelo país, conta Luiza.

A história da companhia teve início nos anos 1940, nos EUA, quando Earl Tupper, um industrial, decidiu encontrar plásticos mais caros e transformar seu uso. Seu foco era encontrar aplicações para uso na cozinha. Nasceu assim a Tupperware, ou os utensílios do Tupper. O pulo do gato veio com a entrada de Brownie Wise no negócio, uma das precursoras da venda direta. Nos anos 1950, ela implementou o modelo de demonstração do produto em reuniões, que se mantém até hoje. Atualmente, são chamadas de experiências, mas seguem a fórmula de reunir um grupo de conhecidos ou vizinhos para uma demonstração dos produtos da marca por revendedores.

Para abastecer essa rede e saciar o apetite crescente do consumidor por potinhos da marca, a Tupperware investe na expansão da fábrica de Guaratiba. A unidade funciona 24 horas por dia, sete dias de semana. São 1.200 funcionários, produzindo de 60 milhões a 70 milhões de unidades por ano, sendo 95% vendidos no Brasil. O resto vai para exportação, explica Sebastián Nilo. Há uma pequena operação na Venezuela.

Fonte: PEGN