Carlos Sicupira, um dos principais acionistas e membro do conselho da Americanas, assumiu as negociações com os bancos credores para tentar chegar a uma solução negociada para a varejista brasileira, segundo pessoas a par do assunto.
Sicupira está conversando com cada banco separadamente, e os bancos consideram as negociações como positivas, um sinal de que os principais acionistas da varejista, que também incluem Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles, estão dedicando mais atenção ao assunto, disseram as pessoas, pedindo para não serem identificadas porque as discussões não são públicas.

A Americanas e Sicupira não comentaram de imediato as negociações. Lemann e Telles não responderam às mensagens pedindo comentários.
Até agora, nenhuma proposta concreta para apaziguar os credores foi feita, disseram as pessoas. Os credores querem uma injeção de capital combinada de pelo menos R$ 15 bilhões, enquanto os investidores bilionários não ofereceram mais de R$ 6 bilhões.
Antes de Sicupira entrar em cena, Luiz Muniz, sócio do Rothschild no Brasil, estava conversando com credores. Antes de Muniz, o ex-presidente da Americanas, Sergio Rial, fazia isso informalmente. Os credores da Americanas incluem o Bradesco, o Itaú, o Safra, o BTG Pactual e a unidade brasileira do Santander, disse a Americanas em um documento.
Acionistas vão emprestar dinheiro à companhia
Lemann, Telles e Sicupira decidiram emprestar R$ 1 bilhão para a Americanas. Segundo informações divulgadas na segunda (6), os acionistas de referência da varejista devem protocolar essa movimentação na 4º Vara Empresarial do Rio de Janeiro.
De acordo com a coluna do jornalista Lauro Jardim, do jornal O Globo, o dinheiro deve ser utilizado pela Americanas como capital de giro. Assim, as lojas seguirão em funcionamento, incluindo o pagamento dos fornecedores.
O empréstimo será realizado via um financiamento DIP, possibilidade que a varejista já havia informado ao mercado na última semana. A outra metade do empréstimo pode ser liberada por bancos ou fundos de investimento. Porém, esse cenário não está previsto no pedido que será encaminhado à Justiça, de acordo com o colunista.
PwC nega responsabilidade por ‘inconsistências contábeis’
A Americanas entrou com pedido de recuperação judicial em 19 de janeiro depois de encontrar R$ 20 bilhões em “inconsistências contábeis” que aumentaram artificialmente os lucros e reduziram seus os passivos pela metade.
A empresa está envolvida em uma briga judicial com bancos, que acusam a empresa e seus principais acionistas de fraude. Em uma mensagem a jornalistas de 22 de janeiro, os três bilionários disseram que não sabiam sobre as questões contábeis.
A PwC negou responsabilidade por “inconsistências contábeis” da Americanas na ação civil pública proposta pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor e Trabalhador (Abradecont). No processo, a entidade pede a responsabilização da auditoria e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por omissão e negligência.
Na ação civil pública, a Abradecont pede o bloqueio dos bens da auditoria responsável pelos balanços da varejista e acesso às investigações da CVM sobre o caso. Pede ainda que a autarquia seja proibida de aprovar relatórios produzidos pela PwC até que a situação da Americanas seja apurada.
Ao se manifestar no processo, a PwC, representada pelo escritório Sérgio Bermudes Advogados, diz que são muitos os motivos para que o juiz rejeite os pedidos da associação.
A auditoria afirma que as alegações da Abradecont são superficiais, sem prova nem relação com as inconsistências contábeis na Americanas; que os pedidos da entidade não têm urgência, mas são capazes de gerar “colossais prejuízos à PwC”; a inclusão da CVM no processo teria sido indevida; e o valor da causa teria sido fixado em R$ 100 milhões, “certamente com olhos na sucumbência [verbas pagas por quem perde à parte vencedora num processo]”.
“Nada do que se alega permite formular qualquer juízo, mesmo em tese, a respeito da suposta responsabilidade da PwC pelas inconsistências contábeis identificadas, tudo afastando a probabilidade do direito exigida para a concessão de qualquer medida cautelar”, diz a PwC na ação.
Por meio de nota, a CVM já manifestou que “não está na esfera de competência da CVM aprovar e/ou rejeitar relatórios de auditoria de qualquer companhia aberta”. Também disse que “em sua condição de regulador do mercado de capitais, diante de uma falha de mercado, compete à CVM exercer seu Poder de Polícia e atribuição sancionadora”. E informou que “instituiu uma força-tarefa com servidores de diversas superintendências da Autarquia que, entre outras ações, promoveu a instauração de procedimentos administrativos de análise, apuração e investigação”.
Com informações da Bloomberg, Suno Notícias e Valor Investe