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Web Summit: a inovação tem a cara da personalização digital

Por: Tiago Mello

Chief Product Officer (CPO) & Chief Marketing Officer (CPO/CMO) da Linx

CPO E CMO da Linx. É um empreendedor apaixonado por varejo, liderança e transformação digital. Além de conselheiro, mentor do BRASA Next e professor de empreendedorismo e estratégias disruptivas, Tiago é palestrante e curador de congressos internacionais como NRF e WebSummit. Possui MBA pela Fundação Getúlio Vargas e especializações em negociação, liderança, finanças e estratégias disruptivas pela Harvard Business School, inteligência artificial pela MIT Sloan School of Management, empreendedorismo, marketing digital e e-commerce na Wharton University, product management, inovação, product marketing e empreendedorismo pela Stanford University.

Maior evento de inovação do mundo, Web Summit mostra tendências e revela um futuro ao mesmo tempo digitalizado e incrivelmente humano.

No início de novembro, Lisboa foi mais uma vez a capital mundial da inovação. Mais de 42 mil pessoas se reuniram para o Web Summit, que mostrou para onde caminham a sociedade, os investimentos, a tecnologia e os negócios.

Para o varejo, o Web Summit representa uma incrível oportunidade de identificar conceitos e tendências que podem significar um diferencial importante em relação aos concorrentes. Quem vai ao evento é desafiado a olhar para fora da caixa e encontrar novas soluções que podem ser verdadeiros game changers.

Ao longo de mais de 1.300 palestras realizadas em 11 palcos, sem contar as 1.200 startups que apresentaram soluções nas mais diversas áreas, é possível chegar a algumas lições importantes para o varejo digital:

1) Tudo começa nos dados…

Os dados não são mais o petróleo, que é o combustível que impulsiona os negócios. Para o Web Summit, os dados são como o ar: sem ele, não é possível viver. “Tudo o que acontece no negócio deve ser transformado em dados”, afirmou Karla Walsh, Chief AI Officer da Levi’s (sim, a centenária marca de moda tem uma executiva responsável por Inteligência Artificial – sinal dos tempos…).

Dados geram conhecimento, e conhecimento permite se mover mais rapidamente. “Os negócios são como o jogo Pac-Man: se você for lento, vai ser devorado. Se for o mais rápido, vai engolir os outros”, disse Arik Shtilman, CEO da Rapyd, startup global de meios de pagamento.

2) Mas os dados não são tudo!

Embora os dados sejam fundamentais para que as empresas possam definir estratégias e táticas de negócios, não é possível reduzir a empresa a eles. Da mesma forma, não existe algo como uma “estratégia de dados”.

“Isso não existe. O que você precisa fazer é usar os dados disponíveis a serviço de sua estratégia de negócios”, conta François-Xavier Pierrel, Chief Data Officer da gigante de mídia out of home JCDecaux. Os dados, dessa forma, devem servir à estratégia corporativa, que procura entender e atender os clientes.

3) Metaverso, hiperverso, conexão humana

O metaverso foi um dos grandes temas do Web Summit. Não é por menos: a mudança de nome corporativo do Facebook para Meta colocou a construção de mundos virtuais como uma visão importante de futuro.

Na visão de Chris Cox, Chief Product Officer da Meta, o metaverso não irá substituir a vida real, mas irá criar experiências e possibilidades de conexão. “É uma forma incrível de unir pessoas, facilitar os contatos digitais que hoje são cansativos e difíceis em videoconferências e gerar oportunidades de relacionamento”, afirma.

Para o varejo digital, o metaverso é mais do que uma espécie de “Second Life 2.0”: no relacionamento com os clientes, o diferencial está em estabelecer uma conexão significativa com o consumidor, não importa se online, offline ou – o que será cada vez mais comum – de forma híbrida.

Para o Chief Technology Officer da rede sueca de vestuário H&M, Alan Boehme, o mundo caminha para o hiperverso, que é um espaço em que online e offline se misturam de acordo com o que o consumidor deseja. “Não é migrar para o digital: é viver nos dois espaços ao mesmo tempo”, acredita o executivo.

Para construir essa conexão humana, as empresas precisam se tornar produtoras de conteúdo. O caminho já trilhado por empresas como a Red Bull passa a ser relevante em todo o mercado – e não só para vender produtos para os clientes. “Empresas como a Unilever já produzem mais conteúdo para seus colaboradores do que tudo o que a Netflix tem em seu catálogo”, comenta Stefan Lederer, CEO e CoFounder da startup Bitmovin.

Leia também: Marketplaces: como dar os primeiros passos para ser um.

4) O poder que vem do blockchain

A tecnologia de blockchain, que permite a criação de estruturas descentralizadas de verificação da veracidade dos dados e está na base de criptomoedas como o Bitcoin e o Ethereum, foi outro tema recorrente no Web Summit. E não é para menos: as aplicações estão cada vez mais difundidas.

Um bom exemplo é a Sorare, startup francesa avaliada em US$ 4,3 bilhões que uniu gamificação e blockchain para fazer dinheiro. A empresa criou uma plataforma de football fantasy, em que os usuários montam times cujo desempenho acompanha o dos jogadores na vida real.

Contando com 200 times de todo o mundo na plataforma, a Sorare permite que os usuários comprem cards de jogadores, impulsionando seus resultados no jogo. E os cards usam NFT (non-fungible tokens) à base de blockchain para garantia de procedência – e impossibilidade de serem copiados.

O exemplo pode ser extrapolado para tudo o que é digital: negócios que comercializam recursos digitais (que antes podiam ser livremente copiados) passam a ter rastreabilidade total. “Nos próximos 5 a 10 anos, NFTs serão a tecnologia líder para tudo o que é valioso na internet, seja financeiramente, seja de forma pessoal”, diz Nicolas Julia, CEO da Sorare.

5) Varejo instantâneo

Durante a pandemia, o e-commerce teve uma forte expansão em todo o mundo. Com isso, a logística passou a ser cada vez mais importante. A nova fronteira do varejo digital é o quick commerce (ou Q-commerce): a logística a serviço de entregas rapidíssimas, em questão de minutos, de todo tipo de produto.

Se no passado era inevitável aguardar dias para que o produto saísse de um Centro de Distribuição e chegasse até o cliente, opções omnichannel como o “clique e retire” e o ship from store diminuíram esse prazo para algumas horas. O próximo passo é o Q-commerce, que utiliza carros autônomos, drones e outros recursos para entregar em minutos.

Os primeiros passos estão sendo vistos já hoje, com o uso dos mais diversos modelos de entrega pelos grandes marketplaces: bicicletas, entregadores autônomos, frotas próprias de caminhões, VUCs e aviões, e por aí vai. Entretanto, há muito o que avançar.

Startups presentes no Web Summit propuseram soluções que vão do uso de drones para entregas ao desenvolvimento de Centros de Distribuição avançados, controlados por Inteligência Artificial, para movimentar os produtos antes mesmo que os clientes façam os pedidos. Assim, quando a compra for efetuada, o produto já estará na vizinhança, pronto para ser entregue.

O futuro do varejo digital será muito tecnológico. Mas uma tecnologia com um objetivo muito claro: humanizar o relacionamento com o cliente e fazer com que ele seja atendido de forma personalizada. Um desafio que só será superado a partir do uso intensivo de dados e da capacidade de criar negócios flexíveis. Esse futuro já começou: é hora de acelerar!

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