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Uma comparação entre o e-commerce na China e no Brasil

Por: Alice Wakai

Jornalista, atuou como repórter no interior de São Paulo, redatora na Wirecard, editora do Portal E-Commerce Brasil e copywriter na HostGator. Atualmente é Analista de Marketing Sênior na B2W Marketplace.

Não é a toa que só se fala no varejo chinês (especialmente o Alibaba) e seu potencial no e-commerce em todos os países do mundo. Segundo um estudo recente da Adyen, até 2020 estima-se que o mercado chinês vai valer mais que os mercados dos Estados Unidos, Reino Unido, Japão, Alemanha e França juntos.

Nas vendas online, a população de e-consumidores chineses já chegou a 300 milhões no início do ano (praticamente três vezes a população do Brasil), segundo mesma pesquisa. E por incrível que pareça isso representa apenas 25% do total da população chinesa.

Já a relação entre as lojas virtuais e marketplaces da China e os consumidores brasileiros está cada vez mais forte. A China já é o segundo país preferido nas compras online dos brasileiros, atrás somente dos Estados Unidos. No ano passado gastamos nada menos que 600 milhões de reais em sites chineses.

O varejista Light in the Box, por exemplo fatura 3 vezes mais no Brasil que em países como a Rússia. “No Brasil ainda enfrentamos alguns obstáculos como tarifas e impostos de serviço para pagamentos que são muito altos em comparação à Europa, EUA e China. Mas temos uma boa logística, um canal de mídias sociais eficiente e precisamos de mais parceiros”, disse o VP de Operações da Light in the Box, Yong Jiang durante o Fórum E-Commerce Brasil 2014.

Por conta desse grande potencial de consumo, os chineses estão estreitando relações comerciais e investindo em infraestrutura aqui no Brasil. Em Agosto deste ano, o Alibaba firmou um memorando de entendimento com os Correios com o objetivo de facilitar o comércio internacional entre Brasil e China.

O acordo pretende ajudar empresas brasileiras – em particular as micro, pequenas e médias empresas – a ter acesso ao mercado chinês, por meio das plataformas do Alibaba Group, bem como melhorar os procedimentos de logística entre os dois países. Segundo os Correios a alta no número de encomendas foi de 87% em 2013.

Além disso, os sites chineses já oferecem facilidades ao consumidor brasileiro como frete grátis, pagamento por boleto e até IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) mais barato do que o do cartão de crédito.

Apesar de tudo isso, numa comparação entre os dois países é possível observar que ambos estão em patamares parecidos com relação à infraestrutura, oferta de conectividade, logística, entre outros. Vamos à comparação:

Conectividade: Apesar da China possuir mais pessoas conectadas está apenas um pouco melhor posicionada que o Brasil em termos de penetração de banda larga fixa. Enquanto o país ficou em 59º lugar com 13,6% de conectividade, o Brasil ocupa a 73ª posição com penetração de apenas 10,1% em grupos de cem habitantes. Já no ranking de banda larga móvel, o Brasil se encontra melhor posicionado, em 37º enquanto a China aparece em 78º com 21,4%*. Quanto à velocidade das conexões, os dois países também estão em posições muito parecidas. Veja o gráfico:

velocidade conexão brasil e china

Numa comparação de quanto o custo da internet móvel representa comparado ao PIB per capita de cada país o Brasil aparece com 4% e a China com 4,85%:

preco-internet-movel-brasil-mundo

A tributação para a banda larga móvel no Brasil, no entanto é expressivamente maior que no país asiático. O Brasil ocupa a 13ª colocação (entre 15 países) na comparação de preços de utilização de banda larga móvel pré-paga com o de outros quatorze países; com preços mais altos que Estados Unidos e Índia:

tributação banda móvel

 

Pagamentos: Com o crescimento do mobile na China a oferta de serviços de pagamento online também aumenta. No país esse mercado é liderado pela Alipay que processou $ 519 bilhões de dólares em 2013 (o Paypal processou $ 180 bilhões). Além disso a empresa chinesa possui relações comerciais com 108 bancos parceiros e com players como Visa e Western Union em todo o mundo.

A dinâmica do pagamento na China funciona de forma bastante distinta do Brasil (e do resto dos países). Enquanto no Brasil o meio de pagamento mais utilizado, segundo o Ibope é o cartão de crédito com 83% da preferência do consumidor, na China o número de cartões de débito é dez vezes maior que o de crédito.

Além dessa preferência do consumidor chinês, o uso do cartão de crédito na China causa grandes controvérsias e já chegou até a ser suspenso pelo Banco Central da China.

Outra característica interessante (apesar do monopólio da Alipay) são as múltiplas utilidades conectadas aos serviços de pagamento.  Através da Alipay (que também é uma mobile wallet) é possível realizar o pagamento de contas de água, eletricidade, combustível, convênios médicos, alimentos e serviços, realizar reembolso do cartão de crédito, doações, obter microcréditos, etc.

No Brasil o mercado de meios de pagamento online é um pouco mais diversificado em termos de concorrentes e prestadores de serviço de intermediadores e gateways. A cada momento surgem novas empresas o que aumenta a competitividade do mercado. De olho nisso, no final de 2013 o governo brasileiro aprovou a lei nº 12.865 que regulamenta atividades do segmento como gerenciamento de riscos, cartões pré-pagos, de crédito e moedas eletrônicas. De acordo com essa lei, o Banco Central será responsável por monitorar e supervisionar a operação dessas empresas, autorizar o funcionamento e a transferência de controle, fusão e cisão delas.

Essas novas regras também minimizarão os riscos de liquidez (no caso dessas empresas declararem falência, os lojistas não serão lesados e poderão reaver o dinheiro através do Banco Central), além de permitirem ao órgão acompanhar de perto as fraudes do sistema financeiro, que envolvem operações com moeda eletrônica (digital) e valores “sob custódia”.

A principal queixa dos varejistas brasileiros com relação a esses serviços são os valores das taxas pagas por transação (cartão de crédito) que podem variar de 4,99% até 7,40% + custo por transação dependendo do número de parcelas.

Logística: A logística brasileira é constantemente criticada por sua deficiência. Em um ranking divulgado pelo Banco Mundial, amargamos o 65º de uma lista de 160 países. Na avaliação foram considerados fatores como procedimentos alfandegários, infraestrutura, prazos de entrega e rastreamento. Apesar de não ocupar os primeiros lugares da lista a China tem investido bastante em logística e transporte, principalmente no setor ferroviário, construção naval e até aviação. Segundo a Reuters, existe um planejamento urbano do governo para que todas as cidades chinesas com mais de 200 mil habitantes recebam ferrovias até 2020 e estima-se que a aviação civil alcance 90% da população:

 

logística brasil china

Preço: Um dos elementos mais fortes do e-commerce e do varejo chinês é o preço dos produtos. Segundo o professor do Instituto Brasileiro de Mercados de Capitais (Ibmec) Gilberto Braga, há diferentes motivos que explicam a diferença de preços entre os produtos chineses e os demais.

Em primeiro lugar, estariam os custos de fabricação, muito mais baratos do que os brasileiros. “Eles produzem em escala muito maior, o que determina diferentes mixes de produtos e de despesas. As leis trabalhistas também são menos rígidas, o que determina um custo de mão de obra mais baixo e não têm a mesma carga tributária elevada sobre a produção e o lucro como no Brasil”, afirma.

Além dos preços baixos, um diferencial que a maioria dos sites chineses apresenta é o fato de não cobrar pelo frete, mesmo para países distantes como o Brasil. Braga explica que, como costumam trabalhar com volumes elevados, normalmente as empresas chinesas mantém convênios com companhias aéreas e de navegação, o que pode justificar a ausência de taxas de entrega, em algumas situações, mesmo quando o pedido é de pequena quantidade.

É interessante lembrar que tanto o Brasil como a China são líderes do mercado de e-commerce em seus continentes. Ambos são países em desenvolvimento e com economias relativamente sólidas, porém enfrentam dificuldades parecidas como infraestrutura, serviços de internet e logística. Apesar do governo chinês ter fortes restrições políticas quanto a internet, liberdade de expressão entre outros é de se admirar os grandes avanços de varejistas como o Alibaba que estão revolucionando o consumo mundial e a forma de fazer e-commerce. Vale a pena aprender com eles e evoluir a partir disso.

Saiba mais: http://www.camarachinesa.com.br/noticias/o-alibaba-no-topo-do-mundo/