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Soluções logísticas da pandemia no pós-pandemia

Por: Gustavo Artuzo

Gustavo Artuzo é o diretor executivo da Clique Retire, empresa inovadora de logística para o e-commerce. Antes disso, foi diretor de desenvolvimento de negócios no fundo de private equity Patria Investimentos, além de CFO na Delly’s, empresa líder em distribuição para food service. Tem também experiências relevantes no setor de real estate, atuando na Cyrela, Direcional Engenharia e Cury Construtora. Gustavo é engenheiro formado pelo ITA, com MBA pela Wharton School.

São 60 milhões de pedidos mensais, informa o Ifood. Concentrados nos horários de almoço e jantar, vindos de consumidores famintos que contam os minutos para receber suas refeições. Parece que ouço o barulho das motocicletas no trânsito já caótico da maioria das grandes metrópoles. O Ifood é só uma das redes que teve crescimento de 150% no último ano e não é nenhuma novidade que a pandemia impulsionou os apps de delivery. Mas a informação serve para iniciar uma reflexão sobre os impactos em escala que o novo comportamento do consumidor representa: uma corrida sem precedentes por soluções logísticas para todas as cadeias de abastecimento.

Num panorama global de transações internacionais, assistimos à crise dos contêineres, que, já escassos diante das demandas excepcionais, ainda ficaram parados nos portos, terminais e armazéns, porque a liberação das mercadorias tornou-se mais lenta com as medidas sanitárias. Mudanças de rotas, gargalos logísticos, e o preço do frete marítimo aumentou cinco vezes no último ano, causando um verdadeiro rebuliço no comércio global. A OMC (Organização Mundial do Comércio) chegou a prever redução de até 32% nas operações. Soluções logísticas que evitem mais problemas viraram itens importantes.

Globais, regionais ou domésticas, as cadeias de abastecimento tiveram que ser revistas e lições muito valiosas estão sendo tiradas dessa experiência conturbada da pandemia. Valiosas sobretudo porque não há perspectiva de retorno à situação anterior: essa é a primeira constatação que não deve ser ignorada, por mais que desejemos o fim das contaminações e a volta dos nossos encontros, a liberdade, os abraços e sorrisos à mostra. A pandemia passará, mas os novos hábitos ficarão: barreiras foram rompidas e tendências foram aceleradas.

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Um levantamento da RankMyApp mostra que em março de 2020, logo que a pandemia foi anunciada, houve aumento de 30% no número de downloads de aplicativos por delivery em comparação com o mesmo período do ano anterior. Nota-se que não se trata de um usuário aumentar seus pedidos, mas de novos usuários, muitos deles aqueles resistentes ao uso de apps.

Outra pesquisa, da Accenture, confirma: usuários de comércio eletrônico pouco frequentes (aqueles que usavam canais online para menos de 25% das suas compras) aumentaram em 343% seus pedidos digitais de produtos tão diversos como alimentos, decoração, moda ou artigos de luxo. Simplesmente, nos acostumamos com as compras online, com o delivery de comida, com o banco digital, com telemedicina, com as aulas online, videoconferências etc. Qual é a chance de abandonarmos tudo isso?

Se não apostamos nessa possibilidade, vamos, então, às tendências que se tornaram realidade: tecnologia, tecnologia, tecnologia; e, ainda, diversificação de parceiros (dual sourcing) para minimização de riscos; processos mais diretos, para evitar disrupção em cadeias longas; fusões e aquisições, para ampliar a capilaridade das empresas; e mais colaboração e parcerias entre negócios, para maior variedade de soluções.

Quando repito tecnologia não é à toa: automação, digitalização e informatização têm ocorrido de forma avassaladora. A tecnologia foi essencial para a gestão dos armazéns e controle de estoques, no período pandêmico. Também permite o planejamento eficiente das rotas, com otimização de espaços em veículos e redução de paradas. E tem possibilitado o rastreamento de produtos minuto a minuto, do depósito às mãos do consumidor.

E, na entrega de última milha, a mais alta despesa logística, a tecnologia e as parcerias têm apresentado uma série de inovações criativas. Algumas ainda em teste, como o uso de veículos autônomos (que, segundo pesquisas, podem reduzir em até 40% os custos da entrega de última milha) e os drones – ou melhor, os veículos aéreos não tripulados (VANT). Nos Estados Unidos, estudo da Business Insider Intelligence prevê que entregas feitas por VANTs terão um aumento de 67% nos próximos dois anos.

Bem mais consolidados que estas duas inovações, estão os smart lockers, hoje reconhecidos entre os melhores parceiros do delivery last mile. Além de reduzirem o custo do deslocamento até o consumidor final, já estão sendo usados para solucionar a logística reversa – o que tem sido uma grande vantagem pois o número de devoluções e trocas é significativo.

São inovações que, de forma integrada, redesenham e otimizam a logística de entrega.

Se a pandemia representou o estresse e a pressão sobre as cadeias de suprimento, ela acelerou processos e desencadeou uma onda de parcerias um tanto profícuas. Quando vários atores se reúnem para uma solução, os avanços acontecem.