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Relacionamento com as marcas sofrerá mudanças, e muitas para melhor

Por: Rogério Perez

Chief Experience Officer da ZENVIA. Formado em Ciências da Computação e em Comunicação, com ampla experiência em gestão.

Estamos passando por um tempo de mudanças, e muitos já se deram conta que o “amanhã” será completamente diferente. Assim como o comportamento entre pessoas mudou, tornando os aspectos bons (e os nem tão bons assim) mais intensos e visíveis, esse efeito também ocorrerá no relacionamento das marcas com seus consumidores.

Do lado das grandes corporações, o momento é de se transformar e ser lembrado positivamente quando tudo isso passar. As PMEs, por sua vez, lutam para se adequar e se reinventar diante de uma nova dinâmica voltada às necessidades humanas e à descomplicação. Prever os efeitos disso no relacionamento entre clientes e marcas é extremamente desafiador. Porém, sabemos que teremos mudanças significativas em comportamento, tecnologia e negócios. Tentei resumir esse “novo amanhã da experiência do cliente” em cinco grandes temas:

Conversar com seus clientes nos canais deles

Os clientes já esperam das marcas que as conversas sejam bidirecionais. Mais de 85% dos usuários de smartphones usam algum tipo de aplicativo de chat, como Whatsapp e Messenger — se tornou a forma dominante de comunicação digital ao redor do mundo. E a maioria das pessoas quer conversar com empresas pelo mesmo canal em que falam com seus amigos ou familiares.

Diversas plataformas e aplicativos já ganham espaço, integrando no chat os serviços de venda de produtos e transações financeiras, geração de recibos, catálogo de produtos, negociação e cadastramentos. A brasileira Smiles, por exemplo, está inovando ao integrar serviços como a venda de passagens via bots em apps de chat. A Aramark, outro exemplo, integrou em apps de chat a venda e entrega de bebidas direto nos assentos em estádios.

Estratégias mais direcionadas de IA

A inteligência artificial não é mais inovação, mas agora o desafio é aplicá-la corretamente. O Hospital Infantil de Boston, por exemplo, usou a IA para analisar 30 mil documentos no início da pandemia da Covid-19 para entender melhor os sintomas e casos críticos. Mas onde está a diferença? Para utilizar equipes e ferramentas da forma mais eficiente, tenha uma visão clara dos objetivos e das aplicações de IA — como automação, recomendação e previsão, por exemplo.

Do outro lado, sabemos que 2 em cada 3 consumidores brasileiros enxerga vantagens na IA para resolver problemas. Essa tendência se mostrou especialmente forte em março deste ano, devida ao coronavírus. Houve aumento de até 836% na resolução de tickets por IA em indústrias como serviços de educação e trabalho a distância, telecomunicações e apps de entrega de comida.

Controle da conversa nas mãos do cliente

Self-service ou autoatendimento não significa apenas disponibilizar bases de conhecimento para redirecionar o cliente dos canais de interação, como Perguntas Frequentes e guias. Significa colocar o consumidor no centro da conversa. É ele quem controla o fluxo da interação, determina quando deixa e retorna à interação e escolhe o canal pelo qual quer se relacionar, sem que o histórico e o fluxo da conversa mudem.

Para que seja eficiente, esse processo precisa otimizar os recursos da equipe de atendimento e eliminar retrabalhos entre departamentos e agentes. Como, por exemplo, buscar e analisar o histórico dos clientes e avaliar abordagens — o que geralmente ocorre quando dados e áreas estão divididas em silos. Não apenas as equipes funcionam melhor quando trabalham de forma integrada, mas 68% dos consumidores se incomodam quando são transferidos entre departamentos, apontado entre as piores experiências.

Democratização dos dados

Ter dados é fundamental para ter conhecimento. O desafio é que volumes cada vez maiores e diversificados formam uma verdadeira enxurrada de informações para estruturar de diferentes canais e silos. Somente nos últimos cinco anos, as empresas passaram a processar 3x mais dados de consumidores. Hoje, o papel da tecnologia é de simplificar a informação. A era em que insights de dados ficavam exclusivamente na mão de cientistas e analistas de dados, acabou. Todos devem ter acesso à informação de que precisam. Com a tecnologia, podemos criar sistemas cada vez mais descomplicados para medir comportamentos e melhorar o mundo, tanto nas macro como nas microesferas, entregando a melhor experiência às pessoas quando elas mais precisam.

O cidadão desenvolvedor

Por fim, assim como os dados devem ser democratizados, nos próximos anos isso também deve ocorrer com o desenvolvimento de softwares. No futuro, todos poderão ser desenvolvedores. Customizar softwares não será mais tão complicado dentro de plataformas que ofereçam as ferramentas para isso. Até o fim de 2024, aplicações de low-code, ou baixo código, serão responsáveis por 65% de toda a atividade de desenvolvimento de aplicações. Isso porque esse tipo de ferramental deve acelerar em até 20x o tempo de trabalho, permitindo que o desenvolvedor tenha um foco muito maior nas soluções de negócios.