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Quais são os efeitos do coronavírus nos marketplaces e cadeia do e-commerce?

Por: Bruno Lopes Kerber

Founder & Co-CEO na Lexos Solução em Tecnologia. O executivo é graduado em Administração de Empresas, com especialização em Marketing pela Concordia University Canada e especialização em Gestão de Negócios pela MBM Business School.

Levante a mão quem imaginava que a economia mundial (e o e-commerce também) pudessem ser duramente afetados por uma pandemia tão avassaladora como o coronavírus.

No e-commerce, a exemplo da crise econômica que vivenciamos há pouquíssimo tempo, os efeitos do covid-19 já são sentidos de forma preocupante.

Toda a cadeia do comércio eletrônico (da logística às campanhas de marketing) está sofrendo impactos positivos e negativos das paralisações na produção industrial (mesmo que as fábricas chinesas estejam retomando os trabalhos), das quarentenas e do home office em massa.

De acordo com informações do movimento Compre&Confie, no período de 1º a 19 de fevereiro foram realizados 10,1 milhões de pedidos no varejo online, valor que representa queda de 7,7% em relação ao período anterior à divulgação da doença (de 4 a 22 de janeiro, de acordo com o levantamento).

Os marketplaces também sentiram os efeitos do coronavírus. A Amazon dos EUA, por exemplo, anunciou recentemente que demitirá mais de 3 mil motoristas de entregas até abril.

Já o Alibaba havia anunciado, ainda em fevereiro, que os resultados do primeiro trimestre de 2020 seriam afetados pelo surto de coronavírus.

Outros gigantes como AB InBev, Google e Apple também divulgaram impactos negativos em seus faturamentos ou no valor de mercado devido à desaceleração da produção em fábricas na China e a queda na demanda.

Quem opera no exterior (e-commerce cross border) ou têm negócios com fornecedores de fora do Brasil também já está sofrendo com a alta do dólar. Em todo o mundo já há relatos de contêineres vazios, menos navios saindo da China, embarques atrasados, falta de documentação (necessidade de fazer telex release) e cancelamentos de embarques devido a atrasos na produção chinesa.

Em um mercado altamente competitivo, com margem de lucro apertada, as PMEs são as que mais sofrem, pois cada centavo gera grandes impactos. Por isso, quanto mais o dólar sobe, menores serão as chances de importar produtos para manter seu estoque e por consequência mais complexo fica sobreviver no mercado.

Diante deste cenário caótico, vários países estão em alerta em todo o mundo e tentando elaborar planos de “contenção de crise” para evitar a proliferação do vírus.

Como forma de colaborar para esse Plano de contenção, fizemos uma pequena lista de como o covid está impactando o comércio eletrônico para ajudar os lojistas a tomarem decisões que reduzam os impactos negativos em suas operações.

Veja como o coronavírus afeta o seu e-commerce:

Impactos do coronavírus no e-commerce

O primeiro impacto direto do coronavírus com certeza foi no equilíbrio da oferta e da procura de produtos e serviços no mundo.

A oferta depende do preço, da quantidade, da tecnologia utilizada na fabricação, entre outros fatores. Já a procura é influenciada pela preferência do consumidor, a compatibilidade entre preço e qualidade e a facilidade de compra do produto.

Com a interrupção da produção das fábricas chinesas todos os países que importam ou exportam componentes da China precisaram interromper ou diminuir a oferta de seus produtos. E isso afeta toda a cadeia, como um efeito “bola de neve”.

No e-commerce, salvo os varejistas que possuíam grandes estoques, a maioria precisou encontrar alternativas como aumentar o prazo de entrega.

Sem contar, é claro, os lojistas que trabalham com o sistema de dropshipping, terceirizando, muitas vezes, 100% de seu estoque. Estes precisaram cancelar anúncios ou encontrar outros fornecedores que possam atender os pedidos.

Com a restrição de circulação de pessoas, fechamento de escolas, proibição de realização de eventos e viagens, naturalmente a demanda de consumo por produtos e serviços em lojas físicas diminui, gerando prejuízos imediatos para o fluxo de caixa principalmente dos pequenos negócios.

Por outro lado, famílias inteiras reclusas em casa precisam continuar consumindo produtos essenciais e serviços online e por conta disso, o e-commerce pode ser beneficiado no longo prazo. Não é a toa que as ações da Netflix subiram nos últimos dias e o tráfego online nos sites de supermercados online cresceu 25%. Segundo a McKinsey, o Carrefour registrou um aumento de 600% nas entregas de alimentos frescos.

Para os lojistas que possuem um bom controle de estoque agora é a hora de reavaliar se a oferta de produtos em cada canal de venda está fazendo sentido, principalmente nos marketplaces.

Categorias do e-commerce mais afetadas pelo coronavírus

Uma das categorias mais afetadas pelos efeitos do covid-19 devem ser os eletrônicos. Como a China responde por 10% de toda a exportação dos “bens intermediários”, usados nos chips, circuitos integrados e outras partes usadas na composição de celulares, máquinas de lavar e televisores, os efeitos foram imediatos.

De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), 70% das empresas do setor no Brasil já sentiram impactos. Ainda segundo a Abinee, 6% das fabricantes pesquisadas já funcionavam com paralisação parcial em 9 de março e 54% das empresas afirmaram que, caso a situação se prolongue por mais um mês e meio, pode haver risco de atraso na entrega.

Outra área que deve ser afetada pela falta de componentes e insumos para produção é a de linha branca. O Brasil é um grande importador de componentes chineses usados na fabricação de fogões, geladeiras, máquinas de lavar, de linha marrom (equipamentos de áudio e vídeo) e eletroportáteis (secadores de cabelo, sanduicheiras e ventiladores).

Além destas, o setor de turismo e serviços online de viagem e hospedagem é de longe um dos mais afetados no curto prazo.

A companhia aérea holandesa KLM também informou que cortará até 2 mil empregos ao combater o impacto do novo surto de coronavírus e anunciou outras medidas de redução de custos. Já o Airbnb viu suas reservas despencarem entre 1 e 7 de março: só e em Pequim foi uma queda de 96%. Em Roma e Seul a queda de 40% no mesmo período e em Nova York a redução foi de 17%.

Mas, por outro lado, alguns setores do e-commerce, como é o caso das farmácias online e outros varejistas que comercializam produtos de higiene e limpeza estão batendo recordes de venda de alguns produtos.

É o caso de quem comercializa produtos como álcool em gel, máscaras cirúrgicas e caixas de luva. Essa “onda” de procura por estes produtos, porém, atrai oportunistas que acabam comercializando os itens a preços exorbitantes.

Na Itália o eBay e a Amazon estão cooperando com autoridades italianas na investigação de elevação injustificável de preço e anúncios enganosos de vendedores em suas plataformas.

Ainda segundo o Compre&Confie, os segmentos que apresentaram queda mais significativa em número de pedidos durante o mês de fevereiro foram:

  • Câmeras, Filmadoras e Drones (redução de 42,3% em relação a janeiro);
  • Papelaria (-30,5%);
  • Games (-30%);
  • Eletrônicos (-19,4%);
  • Suplementos e Vitaminas (-14,7%);
  • Brinquedos (-13,1%);
  • Moda e acessórios (-10,9%).

Fonte: E-Commerce Brasil

Impactos do coronavírus no marketing e nas vendas

As equipes e agências de marketing de forma geral estão tendo que se adaptar a um verdadeiro “boom” de vendas de álcool em gel e outros produtos de higiene pessoal.

De acordo com a EBIT/Nielsen, as vendas de álcool em gel em fevereiro quadruplicaram, ultrapassando R$ 1 milhão. Já o álcool de limpeza registrou um salto de 25% nas vendas na comparação com janeiro.

Este novo cenário também já impacta as campanhas de anúncio, principalmente as do Google.

Para aqueles que vendem produtos como álcool em gel, luvas e máscaras descartáveis, há uma verdadeira ‘histeria’ de buscas e guerra de preço nos leilões de palavras-chave do Google.

Pesquisa realizada no dia 14 de março comparando o crescimento de buscas das palavras-chave “álcool em gel”, “caixa de luvas” e “máscara cirúrgica”. Fonte: Google Trends

Pesquisa realizada no dia 14 de março comparando as regiões do Brasil com mais buscas no Google para “Caixa de luvas”. Fonte: Google Trends.

Pesquisa realizada no dia 14 de março comparando as regiões do Brasil com mais buscas no Google para “álcool em gel”. Fonte: Google Trends.

Pesquisa realizada no dia 14 de março comparando as regiões do Brasil com mais buscas no Google para “máscara cirúrgica”. Fonte: Google Trends

Além destes, existem outros produtos e serviços que estão sentindo alta nas vendas como os desinfetantes em spray, toalhas desinfetantes, desinfetante para as mãos, alimentos não perecíveis, serviços de entrega como Uber Eats, iFood e Rappi e até o home fitness, de acordo com o Meio e Mensagem.

O levantamento do Compre &Confie mencionado no início do artigo mostra que nebulizadores e inaladores registraram aumento de 177,5% nas vendas em relação a janeiro e as vendas de gel antisséptico tiveram incremento de 165% no período.

Outro levantamento feito pela Nielsen e divulgado durante o Marketplace Conference Live Edition mostrou que, os termômetros, por exemplo, tiveram um aumento de 45%, enquanto os energéticos tiveram um aumento de 65% e a água sanitária cresceu 41%. Veja abaixo a lista completa de produtos:

Quem quiser se aprofundar neste tema, sugiro ler este interessante artigo do Neil Patel.

Impacto do coronavírus nos marketplaces

O atraso nas entregas é o primeiro efeito direto do coronavírus anunciado pelo principal player do e-commerce chinês, Grupo Alibaba.

Em fevereiro a B2W disse que, apesar de não prever “efeito material de curto prazo sobre seus negócios” admitiu que os prazos de entrega de pedidos internacionais poderiam sim sofrer atrasos. Mesmo assim, ao jornal Valor Econômico, a B2W disse que a expansão da epidemia de coronavírus na China levou o marketplace a reforçar o estoque de itens de telefonia e smartphones na venda direta ao consumidor.

Até a publicação deste artigo, nenhum outro marketplace se pronunciou especificamente sobre os efeitos do coronavírus em suas receitas ou operações. Porém a Exame publicou recentemente que ações da Via Varejo valorizaram 25%, enquanto as do Magazine Luiza subiram 17% e as do Mercado Livre dispararam com a capitalização bilionária do PayPal.

O Mercado Livre também informou à Revista Exame que registrou na primeira quinzena do mês avanço de 65% nas vendas de produtos dos segmentos de saúde, cuidado pessoal e alimentos e bebidas, na comparação com igual período de 2019. A comparação envolve itens como máscaras protetoras e álcool gel e produtos de primeira necessidade (alimentos, papel higiênico, fraldas etc).

Para atender a alta demanda, a empresa disse que está reforçando o time de logística e o vice-presidente do Mercado Envios, Leandro Bassoi informou que o marketplace traçou um planejamento para antecipar para um prazo imediato a curva de contratação prevista para três meses.

Ainda em fevereiro a Samsung e a Motorola, duas das principais indústrias de eletrônicos e smartphones interromperam suas linhas de produção. As marcas estão entre as mais buscadas pelos consumidores nos grandes marketplaces como Mercado Livre, por exemplo.

Inclusive, as marcas Xiaomi e a Apple — que anunciou que também não conseguirá atingir suas metas para o trimestre – também aparecem na lista de marcas mais buscadas no Mercado Livre:

Fonte: Mercado Livre.

Impactos na logística

A imprevisibilidade de demanda causada pelo surto deve impactar fortemente a cadeia logística, segundo a McKinsey. A paralisação da produção implica diretamente na paralisação da distribuição de produtos também e esse processo com certeza se estenderá no segundo semestre de 2020.

Essa escassez provavelmente resultaria em uma abordagem de estoque “just-in-time”, de aproveitamento de estoque e pedidos menores ou avulsos.

Isso significa custos dobrados de frete e mão de obra, além de queda nos níveis de qualidade no serviço e experiência do cliente. Os pedidos divididos também exigem sistemas omnichannel capazes de otimizar o estoque nos canais e equipar as lojas para atender pedidos online sempre que possível.

Aí as transportadoras não conseguirão entregar encomendas em residências de cidades em quarentena como na Itália (e essas medidas extremas já começaram a acontecer também no Brasil). Portanto, os pedidos enviados para essas áreas também devem ser devolvidos aos centros de distribuição.

Para agravar essa situação nossos sistemas logísticos não ajudam no escoamento da carga.

Inclusive, recentemente os Correios divulgaram uma nova lista de países que estão com restrições e suspensões de entregas postais por conta da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Outra pesquisa divulgada pelo E-Commerce Brasil registrou que, em janeiro e fevereiro de 2020, 22% menos caminhoneiros transitaram pelos cinco portos em comparação com novembro e dezembro de 2019.

A boa notícia é que startups como Logcomex, CargoX, Cheap2Ship e TruckPad poderão ajudar na previsão da demanda logística do país. Com mais pessoas estocando produtos em casa, a indústria tem demandado mais fretes. Segundo levantamento interno da própria Cargo X, que tem, em média, 70.000 pedidos por dia, o número de fretes de produtos industriais no último mês aumentou 10%.

Para evitar custos adicionais de envio, os centros de distribuição de comércio eletrônico devem implementar alertas do sistema para reter pedidos desses locais até que a quarentena seja levantada.

Ao mesmo tempo, os varejistas devem se preparar para contabilizar o aumento de volumes em contact centers de clientes em regiões em quarentena procurando uma explicação.

O treinamento de agentes para lidar com essas perguntas com a sensibilidade adequada às circunstâncias frustrantes pode ajudar a garantir uma representação positiva da marca.

Planos de ação para para as quedas de vendas

Com exceção de alguns setores do e-commerce, a queda nas vendas do varejo é real e todo o ecossistema deve sofrer com isso: gateways de pagamento, logística, fornecedores, etc. Por isso, vale a pena implementar um plano de ação para diminuir os prejuízos na sua operação:

  1. Entre em contato com seus fabricantes/fornecedores: verifique o status de seus pedidos e se será possível manter os prazos de entrega, caso negativo você precisará reavaliar o fornecimento e renegociar contratos.
  2. Mantenha seus clientes informados: atualize-os de forma recorrente sobre seus pedidos para reduzir os danos causados por entregas atrasadas ou canceladas e principalmente, reforce que o covid-19 não é transmissível por pacote.
  3. Fique atento ao seu fluxo de caixa: mais importante do que nunca, garantir que seu fluxo de caixa esteja saudável é essencial para fazer projeções de receita e garantir a sua sobrevivência nesse período. Atenção especial às ações que incluem os financiamentos e empréstimos de credores e também de investidores a curto prazo. Realizar um fluxo de caixa direto ou indireto na empresa é imprescindível, pois é com base nesses resultados que a empresa ficará apta a decidir melhor o seu financeiro dentro dos próximos meses.
  4. Redobre a atenção no controle de estoque: Com este desequilíbrio entre oferta e demanda é necessário estar atento e monitorar, em tempo real, os estoques em todos os seus canais de venda. Assim, poderá tomar decisões muito mais rápido, como analisar a precificação de produtos, aumentar estoque, etc.
  5. Esteja preparado para o Same Day Delivery: dependendo do produto que você comercializa, a demanda por entrega no mesmo dia deve aumentar consideravelmente, a exemplo do que já está acontecendo com os bares e restaurantes. Lembre-se de adotar boas práticas de higiene e saúde, caso você contrate entregadores particulares.
  6. Ajuste suas campanhas e anúncios: algumas palavras-chave e anúncios regionalizados podem não fazer mais sentido, outras sim. Vale redobrar a atenção para o preço do clique nos leilões. Nos EUA, alguns especialistas disseram que os gastos com anúncios nas redes sociais deve aumentar até 22%. Outros aconselham a segurar os descontos por enquanto e focar as estratégias nas campanhas de fundo de funil.
  7. Cuidado extra com a operação omnichannel: neste momento suas estratégias online vão precisar compensar os prejuízos que as operações físicas terão.
  8. Se puder, tente manter seus pagamentos em dia para manter a economia girando: O governo já está tomando medidas para diminuir os impactos econômicos e o mercado de startups e empreendedorismo também. A Hi Tecnologies, de Curitiba, por exemplo, criou um teste rápido para Coronavirus com 10 minutos de duração com custo de R$ 130,00. A Gonew.co e a ABStartups lançaram a iniciativa #StartupsVsCodiv19. São quase 30 startups e grandes empresas que, juntas, já oferecem solução para diversos desafios de combate à pandemia: da prevenção ao Home Office, passando pelo diagnóstico e pela conscientização. E existem muitas outras, dá uma olhada aqui.

E você? Como está lidando com o coronavírus no seu e-commerce? Compartilhe aqui nos comentários e vamos criar uma rede de ajuda mútua entre varejistas.