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Por que e-commerces de seminovos de luxo seguem crescendo na crise?

Por: Cássio Silbermann

É sócio e CFO do e-commerce de moda de luxo de peças seminovas INFFINO, e sócio-CFO do Onovolab, Campus de inovação localizado em São Carlos.

Comprar pela internet, buscar preços acessíveis, consumir com consciência. Até parece que essas coisas foram inventadas agora nessa pandemia, quando todos voltaram os olhos para o e-commerce e, ao mesmo tempo, repensaram sua forma de consumir. Mas, o conceito de venda online aliado à sustentabilidade já existia muito antes de o coronavírus aparecer e sempre foi a mola propulsora dos e-commerces de seminovos de luxo.

Talvez essa seja a resposta mais curta para a pergunta do título. Os brechós de luxo crescem no meio da crise porque, antes mesmo de ela existir, eles já ofereciam uma proposta de consumo inovadora. É aquela velha história de entregar uma solução para um problema que você nem sabia que tinha! E então veio a recessão e quem ainda não tinha se atentado para a compra online consciente acabou descobrindo esse velho novo mundo.

A alta do e-commerce de seminovos de luxo

Sim, os e-commerces de seminovos de luxo estão em alta. Antes da crise os números já eram animadores: o mercado mundial teve um crescimento de 12% ao ano, contra apenas 3% dos produtos novos, segundo um estudo do Boston Consulting Group (BCG). Em 2018, o segmento de brechós de luxo movimentou US$ 25 bilhões — e a expectativa é de que, até 2021, esse número salte para US$ 36 bilhões. Se essa estimativa se concretizar, esse setor vai responder por 9% de todo o mercado global de luxo.

Durante a pandemia os resultados não apenas continuaram positivos, como melhoraram. Ainda não há um estudo mais profundo sobre o setor no atual cenário, mas as notícias de grandes empresas do segmento são otimistas. A Vestiaire Collective, empresa francesa com atuação em toda a Europa, viu as vendas subirem 20% no final de abril. Já a americana Rebag vendeu mais bolsas no final de abril do que na Black Friday. Na Poshmark, por sua vez, a terceira semana de abril foi a melhor da empresa em termos de vendas.

O fato de, neste momento, as vendas acontecerem principalmente no ambiente digital é um dos motivos que explica esse crescimento. Se há três meses algumas pessoas só compravam em lojas físicas, com o cenário do isolamento social elas foram obrigadas a procurar opções de e-commerces e descobriram os brechós de luxo online. Além disso, boa parte dos consumidores que tinha reservado dinheiro para lazer e viagens foi surpreendida pela quarentena e substituiu esses investimentos por compras de produtos.

A alta do dólar e o consumo consciente

A questão da economia também pesou nesse momento de incertezas causadas pela crise. Quem compra está interessado em preços mais acessíveis. E, por outro lado, quem tem boas peças e precisa de dinheiro enxerga a consignação desses produtos como oportunidade. Outro fator que influencia nesse sentido é a alta do dólar, que gera um encarecimento de peças originais de marcas internacionais. Dessa forma, o brechó é a opção mais econômica para quem não quer abrir mão da beleza e da qualidade de uma peça de grife.

Por fim, o entendimento do consumo consciente veio à tona com mais força neste período de crise. O conceito de economia circular — que está baseado na extensão da vida útil do produto e na diminuição dos impactos sociais e ambientais de novas produções — se tornou bandeira até de grandes celebridades. Sim, isso também já existia muito antes do coronavírus. Mas a ideia de uma empatia coletiva e a valorização de negócios que geram remuneração para mais atores na cadeia ganhou outra dimensão nessa pandemia.

Percebe como, para o mercado de e-commerce de seminovos de luxo, tudo mudou sem nada ter mudado? Mais do que nunca as pessoas querem comprar online, priorizando economia e consumo consciente. Para os brechós de grife, que já ofereciam tudo isso, resta agora preparar a carteira de “novos clientes” para um volume histórico.