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Perspectivas do Open Banking para o mercado digital

Por: Fernando Marsigliese

Fernando Marsigliese tem 15 anos de experiência nas áreas de meios de pagamento e crédito, e, atualmente, é Diretor Infrapay da Infracommerce. Formado em Administração pela Universidade Mackenzie, pós graduado pelo Instituto Insper e com MBA pela Esade e Bocconi. Fernando, que tem passagens como Head of Sales de empresas como Ticket, Stone e Elavon, é responsável por toda a solução de meios de pagamentos da empresa, trazendo inovação para esta frente de negócios.

A chegada do Open Banking promete uma nova fase para o e-commerce com o nascimento de novas tecnologias de pagamento, redução dos custos, aumento do público consumidor potencial – com maiores oportunidades de inclusão da população que hoje tem acesso limitado a bancos –, e personalização da oferta de produtos a cada perfil de cliente, trazendo uma melhoria significativa na experiência de consumo.

Depois de uma primeira etapa em que os bancos integraram seus dados públicos, produtos, serviços e canais de atendimento, teve início em 13 de agosto deste ano a segunda fase do Open Banking no Brasil. Agora, clientes de bancos podem solicitar o compartilhamento de seus cadastros, informações sobre transações em contas, cartões ou outros produtos de crédito com diversas instituições.

Em conformidade com a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), o Open Banking parte da premissa que o consumidor é o dono de seus próprios dados, e, portanto, é livre para compartilhá-los sempre que desejar, com a finalidade que determinar e pelo prazo que autorizar.

O impacto de tecnologias como esta, e o Pix por exemplo, se refletirá rapidamente em todo o mercado digital, abrindo as portas para meios de pagamento inovadores. A novidade traz ainda mais segurança nas transações, favorece o crescimento dos negócios e melhora a experiência do consumidor como um todo.

Como o Open Banking funciona?

Historicamente, a relação entre os clientes e os bancos sempre se deu no formato one-stop-shop, ou seja, todo o pacote de serviços bancários era contratado junto à mesma instituição: conta corrente, cartões, empréstimos, financiamento de carro, investimentos, etc. Com esse relacionamento acontecendo em várias frentes, o banco conseguia ter uma visão mais sofisticada das informações de seus clientes e ganhava uma vantagem muito relevante frente às outras instituições na hora de oferecer taxas, prazos, limites e todos os tipos de produtos. Isto gerou uma concentração muito grande na mão dos grandes bancos, e dificultou por décadas o aumento de competição e inovação neste setor. No entanto, o cenário agora é bastante diferente.

O Open Banking permite que o consumidor compartilhe seus dados com outras fintechs e instituições financeiras, trazendo mais inovação e maior personalização dos seus serviços, gerando também redução das taxas e melhores condições na hora de realizar um pagamento ou contratar um produto, graças ao estímulo gerado pela competição.

Além disso, o Open Banking incentiva o surgimento de novos modelos de negócio, como soluções que comparam diferentes ofertas e ajudam o cliente a escolher a opção mais adequada, já que permite a movimentação de contas não apenas via site ou aplicativo do banco, mas a partir de diferentes plataformas, de maneira rápida e segura.

A implementação do Open Banking é realizada entre os bancos, fintechs e instituições financeiras por meio de APIs (application programming interface), que funcionam como pontes, permitindo que desenvolvedores integrem novos serviços e tecnologias. Para o consumidor, o processo é totalmente transparente.

Como o Open Banking afeta o e-commerce?

O potencial do Open Banking para melhorar a experiência do consumidor online vai muito além das possibilidades de pagamento em plataformas diferentes.

O novo modelo reduz custos com taxas de cartão, permite pagamentos customizados e checkouts conectados diretamente à conta bancária do cliente, gerando um efeito cascata positivo ao longo de toda a jornada de compra. Isso contribui para uma maior velocidade nas operações e aumento do consumo, assim como otimiza os processos de ressarcimento e troca de produtos.

A possibilidade de reembolso instantâneo do dinheiro em caso de desistência ou troca, melhora sensivelmente a experiência do cliente e traz muito mais segurança na hora de realizar a compra.

De acordo com pesquisa realizada pela YouGov em parceria com a plataforma TrueLayer em 2021, a maioria dos compradores online espera receber um reembolso dentro de uma semana, e mais de um terço em menos que isso. Esses processos podem ser agilizados com o compartilhamento dos dados e acesso às informações de entrega pelas lojas de e-commerce.

Outro impacto gigantesco no mercado é a entrada em cena dos consumidores desbancarizados e sub-bancarizados, que possuíam grandes restrições no acesso a serviços financeiros e utilizavam crediário para financiar compras de eletrodomésticos e outros bens de consumo.

Segundo dados do Instituto Locomotiva, 10% dos brasileiros não possuíam conta em banco em janeiro de 2021 (16,3 milhões de pessoas), e 11% (17,7 milhões) não haviam movimentado a conta no mês anterior. Esse contingente de 21% dos brasileiros movimenta 8% da renda do Brasil (por volta de R$ 347 bilhões) anualmente através da informalidade.

Esse movimento – que já vinha ocorrendo devido a fatores como a pandemia, a utilização do Auxílio Emergencial e o aumento de aplicativos de compra online – deve crescer ainda mais, operando grandes transformações no setor de varejo, assim como no próprio sistema bancário.

Além disso, o Open Banking promete acelerar as vendas B2B por meio do e-commerce. As transações online de compra e venda realizadas entre empresas são feitas com pagamento por meio de boleto a prazo, na grande maioria das vezes.

Nestas situações, o vendedor (geralmente uma indústria ou distribuidor) precisa fazer uma análise do perfil da empresa cliente para possibilitar um limite de compra e um prazo de pagamento que atenda as necessidades do cliente.

Muitas vezes, as informações que a empresa vendedora possui são insuficientes para uma análise sofisticada. Com o Open Banking, através de parcerias com fintechs e instituições financeiras as indústrias e distribuidores poderão ter acesso aos dados dos seus clientes para oferecer melhores limites, prazos e taxas.

Segurança dos dados

Um ponto fundamental e cada vez mais importante para os usuários é a segurança dos dados.

Para fazer parte do Open Banking, a instituição precisa ser autorizada pelo Banco Central, que a regulamenta e fiscaliza, com possibilidade de punições e mesmo exclusão.

O cliente é quem decide com quem compartilhará os dados e, embora a longo prazo possa ser difícil gerir quem tem acesso a eles, o prazo máximo será de 12 meses, sendo necessária renovação de consentimento para seu uso posterior, o Open Banking garante o seu cancelamento. Além do mais, esse prazo deve variar de acordo com o objetivo do uso das informações – o acesso ao histórico de crédito pode ter duração menor do que aos dados cadastrais, por exemplo.

Esse acesso também é uma maneira de evitar fraudes, pois facilita a autenticação do comprador, e permite pagamentos instantâneos entre bancos diferentes. Tecnologias por reconhecimento facial ou biometria como o mobile payment podem servir de elo entre o online e o offline.

O impacto dessa inovação sobre os canais online de vendas B2B e B2C será enorme, com opções de parcelamento e financiamentos personalizadas de acordo com a condição financeira do cliente, o que deve gerar um grande aumento nas vendas e até mesmo trazer outras inovações em soluções de logística, gestão de estoques e integração de canais online e offline, que poderão usar os dados financeiros e histórico de compras propor melhores soluções e melhorar ainda mais a experiência do cliente.

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