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Para crescer nos e-commerces, tomar risco no gerenciamento é essencial

Por: Leo Frade

Especialista em inovação no varejo, tem passagens pela 500 Startups no Vale do Silício, Endeavor e BitDefender na Romênia. É CEO e cofundador da aftersale, empresa que oferece um pacote completo de soluções para automação e autoatendimento do pós-venda dos e-commerces. Com mais de 300 clientes como Nike, Decathlon e Reserva, a aftersale já impactou mais de 1 milhão de consumidores. Foi adquirida pelo T.Group, que concentra empresas de inovação no varejo como Neotrust e Movimento Compre e Confie.

Investir em novas ferramentas, soluções e estratégias sem que nada no funcionamento do negócio tenha parado de funcionar é uma polêmica que, no fim, se torna uma perda de oportunidade para a inovação e aperfeiçoamento. Isso reflete até mesmo para as grandes corporações, nas quais as tomadas de decisão podem levar meses para acontecer.

Quando vemos a abrangência do e-commerce, percebemos o quanto é importante a inovação para a sobrevivência do negócio. De acordo com a sétima edição do relatório Neotrust (principal fonte sobre o e-commerce brasileiro), nos três primeiros meses de 2021, houve um aumento de 57,4% nas compras online, no comparativo com o mesmo período de 2020.

Imagem de uma mão empilhando pequenos cubos de madeira com o desenho de carrinhos de supermercado

Nos três primeiros meses de 2021, houve um aumento de 57,4% nas compras online em relação a 2020.

Ainda sobre inovar, um assunto que nunca se esgota, compartilho uma experiência que vivi na pele: comecei as atividades da empresa resolvendo a alta taxa de insucesso na entrega das lojas online. No fim, acabei descobrindo que o e-commerce não enxergava isso como prioridade. Estávamos à frente do tempo.

Risco de gerenciamento

Havia uma dor muito maior: a experiência na jornada de trocas e devoluções. Em questão de semanas, decidimos mudar o foco para este problema. Mesmo sabendo que a decisão ia ser um enorme risco, em pouco tempo, se mostrou acertada.

Ou seja, precisamos de medidas fundamentais para que a tomada de riscos no gerenciamento de lojas virtuais seja otimizada como um passo em direção ao futuro e não um movimento para apagar incêndios.

Aproveito para elencar aqui cinco estratégias que embasam e sustentam minha “tese”:

Criar cultura de testes

É extremamente importante que os e-commerces desenvolvam uma cultura que incentiva pessoas a assumirem pequenos riscos e avaliarem os benefícios dos resultados. Com isso, é possível aprender a diferenciar erros reincidentes daqueles causados em testes. Crescemos numa cultura que trata a falha como algo vergonhoso e passível de punição. Portanto, valorizar equívocos resultantes de experimentos e combater erros repetidos por falha de processo precisa ser uma missão diária. Afinal, os desacertos precisam mostrar caminhos e não exaltar fraquezas.

Orçamento para pilotos e experimentos

Reservar um orçamento é outra ação importante para tomar riscos no gerenciamento de lojas virtuais de forma segura. De 10 iniciativas, 8 vão fracassar e provavelmente 2 irão dar certo, gerando retorno para elas e para as outras 8 que fracassaram. Além disso, recomendo cultivar um ecossistema de parceiros para fazer pequenos projetos pilotos sem ter que investir cegamente em uma estrutura ou soluções do zero.

Lojas maiores precisam de egos menores

Além da cultura de “gestor é pago para não errar” ser ainda mais forte nas grandes lojas online e corporações, ainda existe a questão da baixa interação entre as áreas e barreiras hierárquicas. Na prática, isso faz com que todo e qualquer risco tomado venha acompanhado por uma luta enorme pela paternidade do feito quando ele dá certo. A vaidade de ser o “pai da criança” faz com que se cultue a lógica de se querer criar internamente as soluções que já estão disponíveis no mercado.

E isso gera uma ineficiência. Afinal, os recursos que poderiam ser alocados para desenvolvimento e inovação são direcionados para copiar soluções existentes. Neste caso, sem levar em conta:

  • custos de propriedade que vão além dos custos de desenvolvimento como infraestrutura em nuvem;
  • custos de manutenção e evolução do código;
  • eventuais migrações de plataformas que requererão completa adaptação da aplicação, dentre outros custos ocultos.

Inove estrategicamente

Muitas vezes, inovar é simplesmente alocar recursos de uma maneira mais eficiente. Há muita inovação no mercado e, diariamente, novas ferramentas surgem para ajudar as grandes e pequenas empresas a continuarem com seus focos onde são mais produtivas e rentáveis. Reinventar a roda não está com nada e acaba tirando da fila inovações — que, por não estarem disponíveis, poderiam ser diferenciais competitivos. No entanto, elas não serão trabalhadas por falta de recursos alocados em copiar soluções que já existem para serem contratadas.